Compreender e acompanhar o comportamento do consumidor nunca foi tão crucial para que as lojas, sobretudo as online, consigam atingir seus objetivos de venda e engajamento. No entanto, após anos de intensa aceleração digital, o que inclui mudanças na indústria, tecnologia e sociedade, como as marcas conseguem se envolver com consumidores superestimulados, que sofrem com uma “poluição de informação” o tempo todo?
A WGSN, autoridade global em previsão de tendências, publicou em seu relatório Future Consumer 2024, dados que norteiam as marcas para se adaptarem às mudanças contínuas e traçarem estratégias de engajamento do consumidor para os próximos anos. O documento apresenta os novos sentimentos e perfis-chave do consumidor e os pontos de ação que as marcas precisam adotar para conquistar mentes e participação de mercado.
“Com estratégias detalhadas de engajamento do consumidor, nosso white paper anual Future Consumer foi desenvolvido para ajudar todas as empresas a entender as demandas das pessoas que comprarão, experimentarão e até criarão seus produtos nos próximos anos”, afirma Carla Buzasi, presidente e CEO da WGSN.
O Future Consumer 2024 define como as marcas podem se concentrar em mudanças contínuas e identificar oportunidades para envolver os consumidores por meio de uma compreensão profunda de seu comportamento e estilo de vida.
“Os consumidores de hoje não são os consumidores de ontem e não são os consumidores de amanhã. Em um mundo onde a única constante é a mudança constante, ser capaz de equilibrar as necessidades de hoje com as demandas de amanhã é um equilíbrio cuidadoso que qualquer um que se preocupe com a sobrevivência futura de sua marca deve fazer malabarismos”, completou Buzasi.
Ao analisar os sentimentos do consumidor, a WGSN selecionou quatro emoções que podem ser consideradas as mais relevantes para as marcas se espelharem nos próximos meses e cada uma delas foi descrita abaixo. É importante lembrar que alguns desses sentimentos podem surgir mais cedo em certas regiões do mundo, mas espera-se que todos sejam replicados em massa em 2024.
1. Choque Futuro
O termo foi cunhado pelo futurista Alvin Toffler e Adelaide Farrell, no livro de 1970 que tem o mesmo nome, “Future Shock”. A obra refere-se à paralisia social e emocional induzida pelo “estresse da ruptura e da desorientação” causados pela magnitude e velocidade das mudanças que estamos vivenciando.
Em 2024 será vivenciado o “Everything Net”, uma existência circular, onde as linhas entre os mundos físico e digital serão borradas. Há grande promessa nas meta-economias que surgirão disso, mas a rápida evolução tecnológica e as mudanças que afetarão a vida cotidiana vão induzir a uma sensação de ansiedade. Essa inquietação leva o nome da obra de Toffler: Choque Futuro.
A pandemia, a Guerra na Ucrânia e as crises socioeconômicas que seguirão exacerbaram esses sentimentos. A interrupção das rotinas, isolamento social e fusão da vida doméstica e profissional deram origem à multitarefa crônica, principalmente para aqueles que trabalham remotamente.
Ser multitarefa, segundo neurocientistas, pode criar interferências cerebrais que levam a um processamento mais lento, além de erros, criando um círculo crônico de estresse. Pesquisas mostram que apenas 2,5% das pessoas são capazes de realizar multitarefas de forma eficaz. Quando pensamos que somos multitarefas, na verdade, estamos realizando ações individuais em rápida sucessão.
Em 2024, nossa percepção de tempo será acelerada devido a um influxo de realidades. A compressão de tempo (um efeito cognitivo onde o tempo passa mais rapidamente do que se pensa) está começando a surgir entre os usuários de metaversos e outras realidades. Esse fenômeno pode ser útil em algumas situações – como para pessoas que vão passar por um procedimento médico – mas a compressão contínua do tempo pode levar à dissociação com a realidade, ansiedade, comportamentos aditivos e Choque Futuro.
2. Superestimulação
Outro sentimento que será observado ao longo dos próximos meses está relacionado a uma sobrecarga de estímulos impulsionada pela conectividade constante. A mudança nos padrões de trabalho e hábitos sociais mudou rapidamente a forma como usamos nossos sentidos para navegar pelo mundo. O toque está ausente, enquanto outros elementos sensoriais como ruído e luz artificial parecem difíceis de lidar. Essa mudança rápida, que normalmente ocorreria ao longo de décadas ou séculos, está levando à superestimulação.
As pessoas estão mais conectadas do que nunca, com o aumento da digitalização e das redes sociais e uso de mídias, seja por meio do comércio eletrônico, entretenimento, jogos ou streaming de vídeo. Segundo a McKinsey, a penetração do e-commerce no mercado dos EUA teve um crescimento de 10 anos no espaço de apenas três meses (1º trimestre de 2020), com 75% dos consumidores experimentando diferentes lojas, sites ou marcas durante a pandemia. A América Latina, por exemplo, vivenciou um aumento de 36% em vendas online em 2020.
Um estudo global da Universidade Técnica da Dinamarca, feito em 2019, revelou uma diminuição dramática na atenção das pessoas ao longo do tempo. Os entrevistados relataram que costumavam assistir a um vídeo de 10 a 30 minutos, mas agora perdem o interesse em minutos.
Na China, a ascensão de plataformas de vídeos curtos como o TikTok é a prova disso: a rede social ultrapassou o Google como o domínio mais visitado e superou o Facebook como a mídia social mais popular, de acordo com a Cloudflare.
À medida que a superestimulação cresce, também aumenta a sobrecarga sensorial, que é quando o cérebro recebe mais entrada do que pode processar. Em 2024, a regulação sensorial será o antídoto para a superestimulação. Usado por terapeutas ocupacionais por anos, a regulamentação sensorial está agora sendo usada em uma era digital para reconhecer e prevenir gatilhos que podem sobrecarregar. Por exemplo, ter uma rotina matinal de tecnologia lenta (apenas usando um dispositivo por vez) ou sessões de trabalho sem som (desligando as notificações e ícones).
3. Otimismo trágico
Diferente do que se pensa, o Otimismo Trágico não está relacionado à positividade tóxica (aquela falsa alegria que projeta a sensação de que está tudo bem, quando não está), ou um estado constante de felicidade. Em vez disso, esta mentalidade oferece um enquadramento mais realista da vida. Definido pela primeira vez pelo psicólogo austríaco e sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl em 1985, o Otimismo Trágico envolve a busca de sentido em meio às inevitáveis tragédias da existência humana.
O conceito deve servir para os meses que virão. Pesquisadores que estudam o crescimento pós-traumático descobriram que as pessoas podem crescer positivamente após passarem por tempos difíceis. É importante ressaltar que não é o evento traumático que leva ao crescimento, mas sim como o evento é processado pelo indivíduo. O otimismo trágico será imperativo em 2024, não só por causa da guerra na Ucrânia, e as crises socioeconômicas subsequentes, mas também porque muitos serão oprimidos pela “cultura de enfrentamento” que envolve um temeroso retorno a um normal que ninguém mais se ajusta.
A preocupação com a saúde emocional também seguirá em alta. As pessoas estão em busca de autocuidado – mais de 20 bilhões de pessoas assistiram a vídeos #selfcare no TikTok e são mais de 60 milhões de postagens de #autocuidado no Instagram.
O bem-estar é incrivelmente importante. No entanto, se as pessoas estiverem sobrecarregadas com o auto-aperfeiçoamento a uma nova realidade, se criará um ciclo de ansiedade que pode levar ao niilismo.
4. Admiração
O psicólogo da Universidade de Michigan, Ethan Kross, define a admiração como “a maravilha que sentimos quando encontramos algo poderoso que não podemos facilmente explicar”. Uma mistura de medo e admiração, é uma emoção que foi arquivada nos últimos anos, quando as pessoas trocaram momentos inspiradores por estabilidade, sobrevivência e certeza.
A admiração une as pessoas e as deixa inspiradas. Uma ferramenta para sobrevivência humana séculos atrás, a admiração é necessária para o crescimento futuro, como uma emoção coletiva para a evolução da sociedade. A aposta é que em 2024 a admiração seja o grande conector em um tempo de fragmentação.
Além disso, o sentimento aumenta a empatia e reduz a ansiedade. Uma pesquisa de neurocientistas da Alemanha mostrou que experiências como assistir a vídeos inspiradores, diminui a atividade na rede de modo padrão do cérebro (DMN), que está associada com o auto-foco, resultando em níveis mais baixos de estresse e névoa cerebral.
Outro estudo, feito pelo Laboratório de Tecnologia Aplicada para Neuropsicologia em Milão, na Itália, sugeriu que “experiências de admiração” diárias reduzem a depressão. Essas experiências podem variar desde um tempo em contato com a natureza até ouvir uma música nova.
Por fim, experimentar a admiração aumenta o foco das pessoas no presente. Quando você está mais consciente do momento presente, você sente que suas experiências são mais completas, que mais coisas podem acontecer ou serem realizadas durante um período de tempo. A admiração permite que as pessoas se reorientem e sejam mais eficazes. Sendo assim, em 2024 será importante tentar incorporar momentos regulares de admiração no cotidiano.
Fonte: WGSN
Por Marina Teodoro, da redação do E-Commerce Brasil
Leia também: Setor de armazenamento dispara por causa da pandemia e do comércio online