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A tecnologia que gera humanidade

Por: Lyana Bittencourt

CEO do Grupo BITTENCOURT. Graduada em administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pós-graduada em MBA Executivo Internacional pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Em 2013, foi nomeada embaixadora brasileira da International Franchise Association – IFA. Também é membro do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e co-autora do livro "A Construção de uma marca com propósito", de Marlin Kohlrausch.

Alguns executivos brasileiros tiveram a oportunidade de participar de um momento histórico. Pela primeira vez em mais de 100 anos, a maior convenção mundial de varejo, a NRF Big Show, aconteceu online e tem se mostrado uma experiência bastante positiva até o momento.

Por enquanto, o evento não trouxe muitas novidades. Na verdade, dá uma sensação de que o que aconteceu lá também se passou aqui em termos de aceleração e agilidade da transformação das empresas. Todas (ou quase todas) em modo de sobrevivência suportadas por altas doses de resiliência. Do “shift to online” até a mudança do comportamento do consumidor, a discussão tem sido sobre o que fica e o que vai embora com a vacina.

Muitas das reflexões que temos feito aqui em nosso país também são feitas por lá, porém com altas doses de tecnologia empregada.

Humanidade

E é justamente nesse fator “tecnologia” que vem uma das reflexões mais interessantes que vimos. Na sessão com Indra Nooyi, ex-CEO da Pepsico, ela falou sobre como esse período enclausurados nos deu a perspectiva do quanto a tecnologia é importante. Entretanto, pontuou que ela nunca vai substituir o que temos de mais único na nossa existência: a humanidade.

As pessoas passaram, sim, muito tempo enclausuradas em seus “casulos”, como ela disse. Entretanto, estão desesperadas para ter novamente interação. Para ver os sorrisos, abraçar e até mesmo sentir o frescor de uma fruta na prateleira do supermercado e poder escolher, tocar, sentir.

Fica muito claro que a tecnologia pode dar o que é técnico, o que é habilidade obtida por meio de estudo, prática e tudo que podemos chamar de hard skills. Mas a mágica acontece quando conseguimos nos desenvolver enquanto seres humanos, quando nos tornamos pessoas melhores, e isso só se consegue por meio de interação, socialização e amadurecimento emocional. E isso não acontece de outra forma que não seja com a vida fora do “casulo”.

Fator “vida”

Essa reflexão vem ao mesmo tempo em que empresas como Verizon — gigante americana das telecomunicações — tem um índice extraordinário de atendimentos pré-agendados. Ou seja, um sinal de que as pessoas querem usar seus tempos da melhor forma possível e querem se programar para isso. O nível de prontidão que exigem das empresas passa a ser bastante alto. Afinal, a vida está acontecendo “lá fora” e é preciso enxergar valor no tempo investido no relacionamento e na compra dos produtos e serviços das empresas.

O fator “vida” passou a ser ainda mais valioso para o consumidor. Não porque antes ele não era, mas porque era algo que se tomava por garantido. Algo que simplesmente existia. Agora, que a vida nos foi privada de tantas e variadas formas, é natural que a exigência de saber como as empresas vão usar e gerar valor para o tempo de vida que o consumidor está investindo no relacionamento com as marcas faça com que a barra da expectativa seja elevada.

No final das contas, a tecnologia nos dá mais tempo, e nos devolve a possibilidade de aprimorar nossas habilidades sociais. Nos ajuda a ser melhores no que temos de mais únicos – nossa humanidade.