Logo E-Commerce Brasil

Aumentabilidade cognitiva: como a IA generativa potencializa o e-commerce de bens de consumo

Por: Alexandre Caramaschi

Alexandre Caramaschi é CMO da Semantix e Co-founder da AI Brasil, com mais de 18 anos de experiência em vendas, marketing e transformação digital.

Ver página do autor

Aumentabilidade cognitiva é o conceito de usar IA para ampliar as capacidades humanas, do marketing de conteúdo à tomada de decisão estratégica. E não poderia haver momento mais propício para discutir esse tema do que às vésperas da Black Friday 2025.

Os números falam por si: a Black Friday de 2024 viu um salto de quase 25% nas vendas online e, mesmo com consumidores mais cautelosos em 2025 (69% planejam comprar, ante mais de 70% no ano passado), o evento ainda deve crescer entre 10% e 11% neste ano. Isso significa que, apesar de um consumidor mais racional e exigente, há apetite por ofertas relevantes.

Notebook exibindo “Aumentabilidade cognitiva” com ícones tecnológicos e hologramas de dados ao fundo.
Imagem gerada por IA.

Ao mesmo tempo, mais da metade dos consumidores (54,6%) pretende usar IA via ferramentas como ChatGPT, Gemini ou Perplexity para comparar preços e decidir compras nesta Black Friday. Pela primeira vez, assistentes de IA viraram consultores digitais estabelecidos na jornada de compra: em vez de buscar “melhor preço de TV 4K”, muitos compradores já perguntam “qual TV devo comprar com R$ 3.000?”, esperando respostas comparativas e personalizadas. Em suma, o cliente está usando IA a seu favor, e as empresas que também o fizerem largam na frente. Não por acaso, 84% dos profissionais de e-commerce acreditam que a IA traz uma vantagem competitiva às empresas, especialmente em um cenário de “fazer mais com menos”, no qual 65% das equipes se sentem pressionadas a entregar resultados com recursos limitados.

O consumidor de bens de consumo em 2025 está mais planejado, menos impulsivo e muito bem informado. Segundo estudo da NielsenIQ, o shopper brasileiro chega à Black Friday mais racional e seletivo, porém ainda disposto a aproveitar grandes promoções quando fazem sentido. Itens de ticket alto (eletrodomésticos, eletrônicos) e bens de consumo recorrente (supermercado, cosméticos) despontam entre as categorias de maior tração este ano. Perfumaria e cosméticos, por exemplo, devem ter +15% de crescimento em intenção de compra. Ao mesmo tempo, a pesquisa e a comparação se intensificaram: quase metade dos consumidores não compra sem checar avaliações online, valorizando reputação tanto quanto preço. De fato, a reputação digital compete diretamente com o desconto, reflexo de um cliente que busca confiança e valor, não apenas o menor preço.

Diante desse perfil mais exigente, a IA emerge como vantagem estratégica para engajar e converter. A evolução da inteligência artificial já está tornando a jornada de compra mais fluida e conectada ao comportamento real do consumidor, facilitando a experiência e tornando as ofertas mais relevantes. Ou seja, as empresas que incorporarem IA generativa em suas operações de marketing e vendas terão condições de entender melhor essas nuances de comportamento e responder em tempo real com conteúdo, recomendações e promoções sob medida. Na prática, a vantagem competitiva na Black Friday 2025 não virá apenas de oferecer descontos, mas de surfar essa onda de inteligência usando dados e IA para entregar a oferta certa, pelo canal certo, no momento certo. Nos tópicos a seguir, exploro como fazer isso na criação de conteúdo, personalização da experiência, atendimento e planejamento estratégico.

Dica 1: IA como copiloto na criação de conteúdo de e-commerce

Produzir conteúdo de qualidade em escala (descrições de produtos, textos de ofertas, posts de redes sociais, reviews) é um desafio diário para quem opera portais de e-commerce. Aqui entra a IA generativa como copiloto: modelos de linguagem avançados podem gerar rascunhos e sugestões de texto em segundos, poupando horas de trabalho da equipe. Não à toa, escrever descrições de produto é hoje um dos casos de uso mais comuns da IA generativa no comércio eletrônico. Essa automação inteligente traz diversos benefícios concretos:

– Economia de tempo e recursos: é possível gerar grande volume de descrições ou anúncios em muito menos tempo, liberando a equipe para focar em tarefas estratégicas. Por exemplo, se antes um redator levava 30 minutos para criar a ficha de um item, com IA esse processo pode ser instantâneo (embora exija revisão).

– Consistência e qualidade escalável: a IA mantém um tom de voz uniforme e informações corretas em todas as descrições, reduzindo erros humanos. Isso é crítico para varejistas de bens de consumo com catálogos extensos, garante que todos os produtos sigam o mesmo padrão de comunicação e evita descrições desencontradas ou incompletas.

– Otimização e SEO integrado: modelos de IA já podem sugerir palavras-chave relevantes e otimizar textos para mecanismos de busca, ajudando a aumentar a visibilidade orgânica. Eles também permitem adaptar automaticamente descrições para diferentes públicos ou canais (marketplace, site próprio, redes sociais), incorporando variações de linguagem que melhorem a ressonância com cada segmento. Em testes, vimos que descrições ajustadas ao perfil do cliente (destacando benefícios mais valorizados por aquele nicho) tendem a gerar mais engajamento e conversão.

– Escala multilíngue: para marcas globais ou que pretendem internacionalizar, a IA facilita traduzir e gerar conteúdo em múltiplos idiomas mantendo a mensagem central. Isso acelera a entrada em novos mercados sem precisar multiplicar na mesma proporção as equipes de conteúdo.

O equilíbrio entre a eficiência da IA e o toque humano continua sendo a chave para melhores resultados. Na prática, encare a IA como um primeiro rascunho ou assistente: ela fornece matéria-prima (textos base, ideias de slogan, variações de chamada), e os profissionais refinam, ajustam o tom e garantem que a personalidade da marca e a empatia com o cliente permaneçam intactas. Em minha experiência, esse casamento do algoritmo com o olhar humano produz conteúdos de altíssima qualidade, em volume e velocidade impensáveis no modelo tradicional. Isso se traduz em páginas de produto mais completas e persuasivas, campanhas de marketing com criativos variados para teste A/B, e um time de conteúdo capaz de escalar sua produção sem sacrificar a originalidade.

Dica 2: Personalização em massa da experiência com IA generativa

Se há algo que define o novo consumidor é a expectativa de ser tratado de forma personalizada. Segundo pesquisa da Salesforce, 73% dos clientes esperam melhorias na personalização das interações com marcas. Felizmente, a IA generativa eleva a personalização a um patamar nunca antes visto, entregando experiências sob medida em grande escala. Essa hiperpersonalização impulsionada por IA se manifesta de várias formas no e-commerce:

– Recomendações e ofertas sob medida: a IA analisa bilhões de pontos de dados de comportamento (histórico de navegação, compras anteriores, itens vistos) e consegue segmentar dinamicamente os clientes para recomendar produtos extremamente relevantes a cada indivíduo no momento certo. Essa segmentação ativa sugestões personalizadas – “quem viu X também vai gostar de Y” – ajustadas aos gostos e ao contexto de cada usuário, o que resulta em maior engajamento e conversão. Grandes marketplaces já usam IA para montar vitrines diferentes para cada perfil de cliente, maximizando a chance de clique e compra.

– Promoções e preços dinâmicos: com IA, já é possível ajustar preços e promoções em tempo real conforme a demanda, região geográfica, comportamento do consumidor e até estoque disponível. Ferramentas de dynamic pricing alimentadas por algoritmos avaliam a elasticidade do preço e a competitividade em cada momento, garantindo que a empresa seja agressiva o bastante para vender mais, mas sem abrir mão de margem quando não for necessário. Na Black Friday 2025, em que cada venda conta, esse refinamento pode fazer toda a diferença e está entre os pilares da aplicação de IA destacados por analistas do setor. Marcas de consumo recorrente também tiram proveito disso para ajustar automaticamente descontos em produtos de alto giro, mantendo o cliente fiel sem comprometer a rentabilidade.

– Comunicação e engajamento personalizados: a IA generativa permite criar mensagens de marketing adaptadas a diferentes segmentos de público, em diversos canais. E-mails promocionais, notificações de app, banners no site – todo esse conteúdo pode ser dinamicamente modificado para destacar aquilo que mais importa para cada nicho de consumidor. Por exemplo, um e-commerce de supermercados pode promover ofertas de laticínios para um cliente e de produtos orgânicos para outro, dependendo dos hábitos de compra de cada um. Essa granularidade, que seria impossível manualmente, torna o marketing muito mais relevante. Não por acaso, mais de um terço das empresas já atribui à IA melhorias significativas em personalização de ofertas e comunicações.

Os resultados dessa personalização massiva são palpáveis: consumidores se sentem compreendidos e tendem a ser mais leais. Estudos indicam que experiências altamente relevantes geram maior fidelidade, envolvimento e retenção de clientes, além de aumentarem conversões e receita. Em outras palavras, investir em IA para personalizar a experiência do cliente é construir relacionamentos duradouros com a base, algo particularmente valioso no segmento de bens de consumo, no qual a recorrência é fundamental. Vale lembrar que transparência e bom senso são essenciais: personalizar, sim, mas sem invadir a privacidade ou soar invasivo. Com os dados certos e modelos bem treinados, a IA vira um motor de CRM avançado, ajudando cada cliente a “encontrar o que precisa” e até a descobrir necessidades que ele nem sabia que tinha.

Dica 3: Assistentes virtuais e engajamento conversacional aprimorado

Lembra dos chatbots genéricos de alguns anos atrás, que respondiam mecanicamente e muitas vezes frustravam os clientes? Eles evoluíram. A nova geração de assistentes virtuais com IA generativa está transformando a forma de atender e engajar o consumidor no e-commerce. Esses chatbots 2.0 funcionam como verdadeiros concierges digitais, capazes de conversar de maneira natural, compreender dúvidas complexas e até interagir por voz ou imagem. Hoje, já é possível o cliente enviar a foto de um produto ou de um look desejado e pedir à IA sugestões de itens similares, recebendo respostas instantâneas e contextualizadas. Cenários que antes pareciam sci-fi, como ter um vendedor virtual que entende exatamente o que você procura, agora são realidade em pilotos de grandes varejistas.

Os ganhos dessa interação conversacional são enormes. Primeiro, melhora-se a descoberta de produtos: 82% das empresas que usam IA reportam melhorias moderadas a grandes na capacidade do cliente de encontrar o produto certo. Um assistente inteligente pode perguntar preferências, filtrar opções e conduzir o usuário rapidamente ao que ele busca, tal qual um bom vendedor em loja física. Segundo, esses bots reduzem atrito no atendimento: em vez de o cliente ligar ou mandar e-mail e esperar resposta, ele resolve na hora dúvidas sobre frete, política de troca, detalhes técnicos de um item, tudo em um diálogo natural. Modelos de linguagem avançados (LLMs) entendem nuances e conseguem responder de forma personalizada, ao contrário dos scripts engessados do passado.

Outro impacto significativo é no pós-venda e retenção. Assistentes virtuais integrados ao histórico do cliente podem, por exemplo, avisá-lo sobre o status do pedido, auxiliar em um processo de devolução ou recomendar acessórios para um produto recém-comprado. A NielsenIQ destaca que a IA generativa já está sendo usada para acompanhar a jornada e resolver dúvidas no pós-venda, tornando o suporte mais proativo e eficiente. Pense no valor de um bot que identifica, pelo tom da conversa, que o cliente está insatisfeito e imediatamente oferece um cupom de desconto ou aciona um atendente humano para assumir o caso antes que haja uma reclamação séria. Isso é aumentabilidade cognitiva aplicada ao atendimento.

Naturalmente, implementar esses assistentes requer cuidado. Há um legado de experiências ruins (apenas 14% dos consumidores estavam plenamente satisfeitos com as compras online, e um terço detestou suas primeiras interações com chatbots no passado) que precisamos superar com excelência técnica e design centrado no usuário. Mas a recompensa vale a pena: um bot bem treinado e alinhado ao tom da marca amplia a capacidade de atendimento sem aumentar o quadro de funcionários, funcionando 24×7, e ainda alimenta a empresa com dados valiosos sobre dúvidas e comportamentos dos clientes. Em nossa vivência na Semantix, vemos clientes que integraram assistentes de IA ao e-commerce registrarem aumento de satisfação e NPS, pois o cliente sente que há sempre alguém para ajudá-lo imediatamente, seja esse “alguém” humano ou digital. O segredo é integrar o virtual com o humano: bots resolvem 80% dos casos comuns e liberam a equipe para os 20% mais complexos, criando um atendimento híbrido de altíssima qualidade.

Dica 4: Decisões data-driven e operações inteligentes com IA

Por fim, a aumentabilidade cognitiva não se restringe a conteúdo e interação com o cliente. Ela também revoluciona os bastidores do e-commerce. Em 2025, metade dos CEOs globalmente já integra IA generativa em produtos ou serviços, e 43% a utilizam para informar decisões estratégicas. Ou seja, a alta liderança entende que decisões guiadas por dados e IA são mais assertivas. No contexto de bens de consumo, isso significa usar IA para otimizar toda a operação comercial, da logística ao planejamento de campanhas.

Um exemplo prático é o gerenciamento de estoque e precificação em eventos de grande volume. A IA pode analisar em tempo real as vendas minuto a minuto durante a Black Friday e identificar padrões de demanda, prevendo rupturas de estoque ou necessidade de reajuste de preços antes que ocorram. Com algoritmos de aprendizagem de máquina e análise preditiva, já é possível antecipar mudanças no comportamento do consumidor e reagir agilmente. Se determinado produto começar a esgotar muito rápido de manhã, o sistema pode sugerir ao time de pricing uma redução menor de preço (ou até um sold out controlado) para preservar margem no fim do dia. Inversamente, se um item encalhado não está vendendo, a IA aciona uma promoção relâmpago personalizada para quem demonstrou interesse nele. Esses ajustes finos praticamente impossíveis de coordenar manualmente em grande escala tornam a operação muito mais eficiente e rentável.

Além disso, a IA ajuda a transformar dados brutos em insights acionáveis para orientar decisões de negócios. Ferramentas de analytics avançado conseguem vasculhar milhões de linhas de dados de vendas, navegação no site, interações do cliente e concorrentes, sintetizando tendências que um humano dificilmente enxergaria a tempo. Já presenciei casos em que uma análise de IA revelou oportunidades escondidas: identificar que certo produto complementar vende muito no Nordeste e sugerir uma campanha regional direcionada, ou detectar que clientes que compram fraldas também tendem a comprar cerveja (um padrão real já visto em varejo) e com isso repensar o cross-selling. Essa capacidade de conectar pontos e achar correlações é a essência da aumentabilidade cognitiva aplicada à estratégia.

Posso citar um caso concreto que vivenciamos: um grande varejista com operações online e físicas adotou um framework de IA para otimizar preço e sortimento dinamicamente conforme o comportamento do consumidor. Com modelos analisando bilhões de dados de venda e tendência, a empresa aumentou a margem em categorias-chave e elevou a satisfação do cliente (refletido em NPS mais alto). Quando o algoritmo acerta “na mosca” quais produtos cada região quer e quais ofertas engajam cada segmento, as vendas sobem e as rupturas caem… ROI direto na veia do negócio. Exemplos assim mostram que, ao apoiar decisões de precificação, mix de produtos, alocação de estoque e calendário promocional em insights de IA, os líderes comerciais conseguem resultados superiores aos obtidos apenas pela intuição ou pelo retrospecto histórico. Importante: isso não significa abdicar do fator humano na estratégia. Significa munir os decisores com uma espécie de “superpoder analítico”, permitindo decisões mais rápidas e embasadas.

Naturalmente, para colher esses frutos, é preciso investir em cultura data-driven e governança. Não basta ter dados: eles precisam estar acessíveis, integrados e confiáveis. Muitos líderes me relatam o desafio de dados espalhados em silos; a solução passa por tecnologia (plataformas unificadas de dados) e por cobrar métricas claras de sucesso em cada iniciativa de IA. Definir indicadores (KPIs) desde o início, seja ganho de produtividade, redução de erro ou aumento de conversão, é fundamental para separar o hype da realidade e tangibilizar o valor entregue. Com objetivos bem traçados, a IA deixa de ser “caixa-preta de laboratório” e vira motor de resultados que todos conseguem acompanhar.

Pra concluir, fica claro que entramos de vez na era da aumentabilidade cognitiva. Empresas que conseguirem aliar a criatividade e experiência de seus times à velocidade e inteligência da IA vão conquistar um diferencial difícil de bater.

Em última instância, a mensagem para nós é de oportunidade e responsabilidade. Temos à disposição tecnologias que amplificam nossa capacidade de atender e entender o mercado como nunca antes. Cabe a nós aproveitá-las de forma inteligente. Quem o fizer verá sua marca crescer mesmo em cenários desafiadores, ganhando agilidade, eficiência e proximidade com o cliente.

A Black Friday deste ano é apenas um capítulo dessa evolução contínua. A aumentabilidade cognitiva, impulsionada pela IA generativa, veio para ficar, e os profissionais de e-commerce que a abraçarem plenamente estarão escrevendo o futuro do varejo. Afinal, na convergência entre a inteligência humana e artificial, não estamos substituindo pessoas, e sim elevando o potencial do que pessoas talentosas podem realizar com as ferramentas certas em mãos. Essa é a verdadeira vantagem competitiva na economia digital atual.