Durante esses dois últimos anos pandêmicos, a Black Friday deixou de representar um caixa extra para o varejo e transformou-se em uma data de sobrevivência. Lembro que trata-se de um evento iniciado nos Estados Unidos, baseado na oferta de produtos promocionais para queima de estoque das mercadorias e aumento dos lucros com a alta demanda.
Se antes da pandemia da Covid-19 essa data tinha como premissa abrir espaço para os itens de Natal e aumentar a base de clientes, agora ela tornou-se oficialmente um momento de recuperar vendas e resultados que não se fizeram presentes ao longo meses. E mais do que isso: os dados mostram que, no Brasil, definitivamente ela ganhou seu espaço no e-commerce.
De acordo com levantamento realizado pela Neotrust a partir do número total de compras realizadas via e-commerce, a Black Friday 2021 teve faturamento total de R$ 5,419 bilhões. Esses dados foram capturados desde a 0h de quinta-feira (25) até às 23h59 de sexta-feira (26) e representam crescimento de 5,8% em faturamento na comparação com o ano passado.
E não é só isso. Pessoas com 51 anos ou mais tiveram participação recorde de 14,41% nas vendas. Portanto, reflete uma importante tendência do mercado, que é o crescimento do público sênior no e-commerce após a entrada forçada nesse ambiente.
Outro movimento percebido e relacionado com os novos hábitos de consumo das pessoas foi o da variação dos produtos no carrinho. De olho na disparada de preços de alimentos e bebidas com a inflação galopante, muitos escolheram usar a data comercial para abastecer a dispensa para o Natal.
Balanço de quinta e sexta-feira feito pela NielsenIQ mostra que o número de pedidos de produtos congelados cresceu 141%, enquanto Hortifrutigranjeiros subiram 89% e Frios, 82%. No faturamento, por outro lado, itens do “sacolão” lideram: aumento de 134% ante 2020, bem à frente de congelados (94%) e frios (57%).
Já por outro lado, o Pix, que vem se tornando cada dia mais popular enquanto meio de pagamento, não teve a performance esperada.
Todo esse composto de números já é capaz de nos indicar o que é que o varejo — seja ele grande ou pequeno — precisa buscar agora para surfar na onda da oportunidade da Black Friday 2022. E um dos grandes pilares precisa (e deve) ser a tecnologia!
O que dados ‘front-end’ não mostram é toda a movimentação B2B de plataformas de tecnologia para dar base a todo esse movimento. De acordo com a AFRAC (Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços), as empresas desenvolvedoras de software de automação comercial representadas pela entidade alcançaram 80% da meta prevista. Trata-se do equivalente a R$ 10 milhões na comercialização de sistemas de automação comercial para todo o Brasil.
Apesar da meta abaixo da expectativa, as vendas foram 25% maiores do que em 2020, segundo dados de parceiros que compõem o ecossistema da entidade varejista. E esse crescimento pode estar relacionado à descoberta de que estamos diante do cenário de um mundo não linear pós-pandemia, onde as previsões humanas de longo prazo se tornam inviáveis.
A saída para acompanharmos os avanços da modernidade está, principalmente, na Inteligência Artificial (AI). Isso porque, além de trazer linearidade, o algoritmo faz cálculos e associações impossíveis para a mente humana, com tendências de consumo a curto prazo. Afinal, no momento o planejamento das empresas têm sido trabalhados em janelas menores de tempo para acompanhar as mudanças abruptas dos mercados.
A Inteligência Artificial ajuda os e-commerces na sugestão de produtos, baseado nas preferências dos consumidores e buscas em sites. Além disso, dá orientações para o fornecedor que garantem a compra de estoque assertivo para a venda baseado nas tendências de consumo, aumentando os lucros.
Lembro ainda que a AI é veloz e permite decisões rápidas. Ou seja, faz com que empresas que hoje trabalham com estoque perto de zero (por questão de caixa) tenham o correto “Just in time”. Traduzindo, é o sistema de administração da produção que determina que tudo deve ser produzido, transportado ou comprado na hora exata, conforme as buscas e vendas de outros sites.
Apesar de já estar sendo utilizada, a Inteligência Artificial é usada em baixa escala e precisa atingir o varejo com mais força para tomada de ações mais assertivas que garantam sua sobrevivência. Afinal, se em 2021 foi a Black Friday da comida e dos supermercados, só a AI sabe a resposta para quais serão os itens de diferenciação em 2022.