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Entre charts e checkout: como a indústria pop dita tendências de consumo e conversão

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Por: Ingrid Drumond

Analista de Inside Sales na Infracommerce

É Analista de Inside Sales na Infracommerce. Graduada em Letras e cursando Marketing, possui experiência em atendimento ao cliente e secretariado. Atualmente, o foco em Marketing e performance permite o desenvolvimento de habilidades estratégicas para identificar leads potenciais e oportunidades de negócio. Com perfil criativo e abordagem assertiva, domina a elaboração de relatórios estratégicos, a gestão de múltiplas agendas e a comunicação clara com possíveis clientes. Além disso, possui conhecimento em ferramentas de inbound, facilitando a administração de leads e o treinamento de executivos.

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Construindo verdadeiros impérios ao longo de suas carreiras, muitas artistas pop de renome internacional têm parte significativa de suas fortunas impulsionada pelas vendas de produtos licenciados. De mídias físicas a capas de celular, o universo da cultura pop gira também em torno do consumo. A cada novo lançamento, os fãs mergulham em uma nova onda de compras, o que influencia diretamente a forma como são pensadas as estratégias de vendas. Desde uma coleção de inverno inspirada em um álbum até uma boneca em collab com uma marca de luxo, as possibilidades são infinitas e potentes para atingir o fã-clube.

Mas afinal, como essas cantoras conseguem transformar suas estratégias comerciais em desejo e lucro? É isso que vou analisar a seguir.

Estratégia 1 – Edições limitadas e exclusividade

O lançamento de mídias físicas comemorativas ou especiais, como no aniversário de um álbum, é uma prática recorrente no meio das cantoras pop. Além de relembrar os clássicos e transformar o disco físico em um item colecionável, esse tipo de estratégia impulsiona as vendas no meio digital. Muitas vezes, isso ainda dá margem para resgatar músicas não lançadas e torná-las novos singles, o que também aumenta o consumo e a monetização do streaming.

Outro recurso comum é o lançamento com tempo limite de compra. Aqui, são estipulados prazos para determinados itens exclusivos esgotarem mais rápido nas lojas online oficiais. Isso, além de gerar ansiedade no consumidor – por medo de não conseguir ter o item – movimenta o mercado de quem compra para a revenda, o que muitas vezes triplica o valor do produto.

Um ótimo exemplo é Taylor Swift. Em 2020, com o lançamento de seu oitavo álbum, “Folklore”, a cantora disponibilizou nada menos do que oito versões diferentes do disco, cada uma com capa exclusiva, fotos inéditas e variações na cor do vinil. Para intensificar ainda mais o desejo dos fãs, as edições ficaram disponíveis por apenas sete dias no site oficial. O resultado foi um impressionante debut de 846 mil unidades vendidas só na primeira semana nos Estados Unidos, garantindo o topo da Billboard 200. A estratégia deu tão certo que passou a se repetir em lançamentos seguintes, com janelas de 24, 36 ou 48 horas para produtos exclusivos, sempre gerando uma corrida contra o tempo entre os fãs e ampliando o impacto comercial de cada projeto.

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Legenda: Itens colecionáveis ampliam o desejo dos fãs e aumentam as vendas. Na imagem, as oito versões de “Folklore – Taylor Swift (2020)”.

Além disso, há os lançamentos de caixas especiais, que reúnem edições exclusivas de álbuns acompanhadas de itens como camisetas, cadernos, adesivos e outros produtos colecionáveis. O objetivo é claro: somar essas vendas ao desempenho do álbum e incentivar o consumo de uma “nova” edição. Isso tudo é acrescentado ao que já mencionei acima: capas alternativas, variações na cor dos discos, faixas bônus exclusivas em determinadas versões e formatos diferenciados, como CDs, vinis e até fitas cassete vendidas apenas na loja oficial da artista.

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Legenda: Na imagem, box de itens exclusivos da cantora Adele, à esquerda, e da Taylor Swift, à direita.

Estratégia 2 – Oferta conjunta e crossover de públicos

Uma prática recorrente é a oferta combinada de álbuns com ingressos, os famosos bundles, ou até mesmo a inclusão do CD em pacotes VIP de turnês, tudo como forma de impulsionar as vendas. Um bom exemplo foi o box da “Reputation Stadium Tour”, de Taylor Swift, em 2018.

Também é estrategicamente eficaz promover crossovers de público. Um caso recente é o de Selena Gomez, que, no lançamento de seu álbum “I Said I Love You First”, em 2025, uniu dois de seus segmentos: música e beleza. Nessa ação conjunta, os fãs só conseguiram uma edição especial do CD ao adquirir uma mini bag da Rare Beauty, sua marca de cosméticos de sucesso.

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Legenda: Estratégia de crossover de produtos e “marcas” uniu os dois mundos de Selena Gomez em “I Said I Love You First (2025)”.

Essa estratégia é interessante porque, embora Selena tenha uma base de fãs gigantesca, nem todos os consumidores da Rare Beauty comprariam espontaneamente seu novo álbum físico, da mesma forma que nem todos os colecionadores de sua discografia necessariamente teriam interesse em um item de beleza. O crossover unificou públicos distintos e impulsionou as vendas em ambas as frentes.

Ainda dentro do universo da Rare Beauty, vale mencionar que a marca carrega o nome do álbum lançado por Selena em 2020. Em 2025, para celebrar os cinco anos desse projeto, ela lançou uma edição especial de um dos seus best-sellers, o blush líquido, acompanhada de uma nova edição do álbum em CD. A ação teve ainda um diferencial. Ambos os itens foram vendidos exclusivamente em uma pop-up store em Los Angeles, reforçando outra tática poderosa: a oferta de itens limitados e exclusivos.

Estratégia 3 – Incentivo ao feedback e engajamento

Além de seus perfis oficiais no Instagram e no X (antigo Twitter), é comum que as artistas tenham contas secundárias gerenciadas por suas equipes. Essas contas são voltadas exclusivamente para a promoção de produtos, interação com os fãs e construção de uma imagem mais próxima e acessível do público.

Alguns exemplos incluem:

– @taylornation – Taylor Swift;
– @adeleaccess – Adele;
– @teamsabrina – Sabrina Carpenter;
– @teamduahq – Dua Lipa;
– @selenafanclub – Selena Gomez.

Esses perfis costumam impulsionar a cultura do feedback nas redes sociais, utilizando hashtags para estimular os fãs a compartilharem fotos com os produtos adquiridos, trechos de programas, vídeos ou filmes com a participação da cantora pop. Além da expectativa de serem notados pela equipe, esse tipo de engajamento gera um efeito multiplicador, incentivando outros fãs a também comprarem, postarem e interagirem com as contas.

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Legenda: Perfis extraoficiais expandem o alcance das artistas, o que influencia diretamente nas vendas de produtos.

Estratégia 4 – Estética e performance das lojas online

Como em qualquer e-commerce de sucesso, a estrutura e a experiência de navegação do site são determinantes no momento da compra. As artistas pop, cientes disso, personalizam suas lojas virtuais de acordo com a estética de suas eras musicais ou datas comemorativas específicas, como Natal ou Black Friday, criando uma imersão visual que conversa diretamente com seus lançamentos.

A oferta de itens exclusivos e em edição limitada costuma gerar picos de tráfego intenso, e por isso é essencial que o site funcione sem falhas: nada de páginas que travam, checkouts lentos ou estoques que desaparecem do dia para a noite. Afinal, nesse meio, uma única loja online, sediada nos Estados Unidos, pode receber acessos simultâneos de fãs dos sete continentes.

Para entender melhor esse comportamento, conversei recentemente com colecionadores brasileiros e, segundo o relato da maioria, cerca de 80% dos consumidores se preocupam com a estrutura do site, o design da página e a apresentação dos produtos, especialmente em épocas de lançamentos e ofertas especiais. Assim, a experiência visual e funcional tem um peso direto na decisão de compra.

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Legenda: Pesquisa realizada em 25/03/2025 com 70 colecionadores, por meio da plataforma Google Forms.

A experiência completa também vende

Mais do que produtos, as artistas vendem experiências, e isso começa muito antes da entrega de um pacote. Desde o layout da loja até o storytelling por trás de um lançamento, tudo é desenhado para reforçar o universo pop e criar conexão emocional com o público. Quem domina essa jornada transforma fãs em compradores fiéis e colecionadores apaixonados. E, talvez, essa seja a maior lição das divas pop para o universo dos negócios.