default

IA no e-commerce: eficiência sem perder a confiança

default
Por: Bruno Brito

CEO da Empreender

Co-fundador da Empreender, empresa que desenvolveu o Dropi (maior plataforma de dropshipping da América Latina) e mais de 20 apps como SAK, Rastreio.net, Lily Reviews e Landing Page.

Ver página do autor

A inteligência artificial já ocupa um grande espaço no e-commerce, e tende a crescer ainda mais. De sistemas de atendimento automatizados à personalização de ofertas, a tecnologia oferece soluções práticas, escaláveis e de baixo custo. Mas, à medida que seu uso se intensifica, especialmente na produção de conteúdo, surge um alerta importante: a busca por eficiência não pode comprometer a autenticidade da comunicação.

default
Imagem: Reprodução.

Nos vídeos promocionais, esse cuidado precisa ser ainda maior. Muitos lojistas, na tentativa de ganhar tempo e economizar recursos, estão recorrendo a vídeos gerados por IA com falas genéricas, avatares inexpressivos e personagens artificiais simulando depoimentos reais. O problema é que, em vez de aproximar o consumidor, esse tipo de conteúdo pode gerar desconfiança, afastar e até levantar suspeitas sobre a credibilidade da marca.

O uso da IA já é uma realidade

Ferramentas de geração de texto, imagem, áudio e vídeo estão cada vez mais acessíveis, mesmo para micro e pequenos negócios. Em poucos minutos, é possível criar conteúdos que antes exigiriam uma equipe inteira, desde descrições de produtos até vídeos institucionais.

No contexto do e-commerce, esse ganho de produtividade é uma mina de ouro e deve ser aproveitado. A IA permite responder mais rápido aos clientes, manter redes sociais ativas, produzir conteúdo com frequência e testar novas abordagens com agilidade. Se bem utilizada, pode reduzir custos operacionais e aumentar a competitividade.

O ponto central, portanto, não é se a IA deve ser usada, mas como. O uso consciente, transparente e estratégico da tecnologia pode gerar bons resultados. O problema surge quando ela substitui experiências que exigem sensibilidade, expressão e verdade.

Quando a praticidade compromete a autenticidade

Depoimentos falsos de “clientes satisfeitos” feitos com IA são um exemplo claro de mau uso. Personagens artificiais, com discursos genéricos e emoções programadas, soam inverossímeis. E, para consumidores atentos, isso parece mais uma tentativa de manipulação do que uma prova de qualidade.

O efeito é ainda mais crítico quando a marca é nova ou pouco conhecida. Sem histórico ou reputação, vídeos com linguagem robótica e estética artificial rapidamente geram desconfiança. E com a popularização de golpes digitais usando IA, esse tipo de conteúdo se aproxima perigosamente da linha entre inovação e má fé.

Mesmo empresas legítimas correm o risco de serem associadas a práticas enganosas quando optam por vídeos automatizados em contextos que pedem autenticidade.

Onde a IA funciona bem

Apesar dos riscos, há usos adequados da IA na produção de vídeos. Conteúdos explicativos, institucionais ou técnicos podem se beneficiar da clareza e da objetividade dos avatares. Quando o objetivo é apresentar um sistema, descrever funcionalidades ou ilustrar dados, a automação pode ser bem-vinda.

A IA também é útil para adaptar vídeos para diferentes idiomas, gerar variações de roteiro, inserir legendas ou criar testes A/B. Nesses casos, a finalidade é operacional, e não emocional. A tecnologia atua como suporte e não como substituta da experiência humana.

Outro uso interessante está no apoio visual a conteúdos narrados por pessoas reais, ou em vídeos educativos que não demandam expressividade. A chave está no contexto e na expectativa do público.

Onde a IA não deve substituir o humano

Há conteúdos, no entanto, que exigem conexão verdadeira e a IA ainda não consegue entregá-la. Depoimentos de clientes, por exemplo, perdem valor quando são interpretados por personagens artificiais. O mesmo vale para vídeos de unboxing, demonstrações de produtos ou bastidores da operação.

Esses materiais funcionam justamente por sua espontaneidade. Um gesto, uma pausa, um erro corrigido na hora: são elementos humanos que transmitem verdade e criam vínculo com quem assiste. Substituí-los por avatares programados compromete tanto o conteúdo quanto a credibilidade da marca.

Imagine um possível cliente que está buscando depoimentos para decidir se compra um produto ou não, e se depara com um robô elogiando a peça? O principal elemento do depoimento foi perdido: a prova social. Afinal, não existe uma aprovação autêntica.

Outro elemento importante na decisão de compra do cliente é o video commerce. Poder ver como o produto se comporta em uma situação real com mais detalhes que textos e imagens faz toda a diferença.

Também é preciso cuidado com vídeos emocionais feitos com IA. Emoções forçadas, expressões rígidas e falas genéricas produzem desconforto, não empatia.

Conclusão: não basta parecer real, é preciso ser confiável

A IA tem muito a contribuir para a produtividade e escalabilidade no e-commerce. Mas sua aplicação exige critério. A eficiência oferecida por essas ferramentas não pode vir à custa da confiança construída com o cliente.

Na comunicação, especialmente em vídeo, o fator humano segue sendo insubstituível. O consumidor valoriza a verdade, mesmo quando imperfeita. Automatizar com consciência é diferente de automatizar por conveniência.

O desafio para os lojistas é equilibrar inovação com autenticidade. Porque, no fim das contas, o que fideliza não é a velocidade da produção, mas a qualidade da relação.