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Marcas invisíveis: o futuro do e-commerce está se tornando indetectável, mas irresistível

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Por: Rodrigo Cursi de Carvalho

Co-CEO e CXO na FRN³

Rodrigo Cursi é Co-CEO, CXO (Chief Experience Officer) e co-fundador da FRN³, empresa especializada em desenvolvimento digital. Com formação em Design de Games e Gráfico e Pós-graduação em Design: Conceito e Aplicação, possui 15 anos de experiência nas áreas de User Interface (UI), User Experience (UX), branding, e-commerce e aplicativos. Ao longo de sua trajetória, atuou como Diretor de Arte e Criação, liderando projetos de diversos segmentos e tamanhos, com foco em soluções criativas e de alto impacto. Seu trabalho se destaca pelo gerenciamento de equipes criativas e squads especializados em mídia e desenvolvimento de projetos digitais. Atualmente, é especialista em UX e UI, com um portfólio robusto de mais de 500 projetos realizados.

Imagine uma experiência de compra em que cliques, carregamento de páginas e digitação de senhas se tornam desnecessários. Basta expressar um desejo, e ele se materializa sem esforço. Esse futuro já começa a se tornar realidade. O e-commerce invisível está transformando a forma como consumimos, substituindo interações tradicionais por processos fluidos e imperceptíveis. O que parecia ficção científica há poucos anos é viabilizado hoje por APIs, inteligência artificial e novas formas de interação digital. No entanto, vender online ou fisicamente não se limita a canais; é essencial compreender toda a jornada do cliente.

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Imagem: Reprodução.

O declínio da dependência exclusiva de sites

Os e-commerces tradicionais, baseados em sites e interfaces complexas, não estão perdendo relevância, mas passaram a ser apenas uma parte de uma jornada de compra mais ampla e diversificada. Eles agora coexistem com novos canais de venda direta que tornam a experiência do consumidor mais fluida e acessível. O consumidor moderno não depende mais de uma plataforma centralizada para realizar compras; ele interage com as marcas onde quer que esteja.

Essa evolução se deve a três fatores principais:

– APIs e headless commerce: integrações diretas permitem que marcas vendam dentro de plataformas de terceiros sem necessidade de um site próprio. Marketplaces, redes sociais e apps de mensagens se tornam hubs de compra. –
– Comércio por voz e automação: dispositivos como Alexa, Google Assistant e assistentes veiculares possibilitam compras sem necessidade de tela.
– Redes sociais e mensageiros: ferramentas como TikTok Shop, WhatsApp Business e e-mails interativos revolucionam o funil de vendas, tornando o processo de compra quase instantâneo.

Casos reais de comércio invisível

Empresas que compreenderam essa mudança colhem resultados expressivos.

– WhatsApp como canal de conversão: na China, o WeChat se consolidou como uma das principais plataformas de e-commerce, eliminando a necessidade de sites para milhões de marcas. No Brasil, o WhatsApp Business segue um caminho semelhante, integrando atendimento, pagamento e logística.
– E-mails interativos: lojas adotam mensagens que permitem finalizar a compra diretamente no e-mail, reduzindo a taxa de abandono de carrinho.
– Social commerce em ascensão: redes como TikTok e Instagram possibilitam compras sem que o usuário saia do feed, reduzindo a fricção e aumentando a conversão.
– Wearables e IoT como facilitadores invisíveis: smartwatches e eletrodomésticos conectados realizam compras automáticas com base no consumo do usuário. A Amazon expande seu programa de Dash Replenishment, que permite reabastecimento automático de produtos essenciais.

Frictionless commerce: compras sem barreiras

O conceito de frictionless commerce busca eliminar qualquer barreira entre desejo e compra. Algumas soluções avançadas já estão sendo implementadas:

– Pagamentos invisíveis: o Uber transformou a experiência de transporte ao remover a necessidade de pagamento manual. O mesmo conceito se aplica ao e-commerce, com tokenização e reconhecimento facial permitindo compras sem interrupções.
– Reabastecimento inteligente: serviços de assinatura dinâmicos analisam padrões de uso e ajustam entregas automaticamente.
– IA preditiva: algoritmos avançados antecipam as necessidades do consumidor e sugerem compras antes mesmo que ele perceba. Grandes varejistas utilizam essa tecnologia para ajustar estoques e personalizar ofertas em tempo real.

A invisibilidade é sustentável?

Diante desse cenário, surge um questionamento: esse modelo de e-commerce sem domínio próprio ou presença física é viável a longo prazo? Nos últimos anos, grandes marcas reforçaram a importância da experiência física e da conexão direta com o consumidor. Apple, Nike e até mesmo gigantes digitais como Amazon continuam investindo no varejo físico, pois compreendem que a experiência de marca é um diferencial competitivo.

O modelo de marca invisível, atuando exclusivamente em canais únicos, não pode ser visto como uma substituição total, mas sim como um complemento estratégico. A verdadeira inovação no e-commerce não está em excluir canais, mas em entender como cada um pode agregar valor à jornada do consumidor. Se uma marca nasceu no TikTok ou vende majoritariamente pelo WhatsApp, é positivo, mas será que vale a pena se limitar a isso?

O futuro do comércio digital exige uma abordagem omnichannel eficiente, na qual a presença nos canais certos seja uma decisão estratégica, e não apenas uma resposta a tendências momentâneas. O mais importante não é estar em todos os canais, mas garantir uma presença relevante e eficaz em que o público realmente interage.