Nos últimos meses, a inflação tem mostrado números elevados. Da alimentação ao vestuário, passando pela compra de móveis e eletroeletrônicos, praticamente todos os setores sofreram com a alta dos preços.
Em junho, o IPCA, índice oficial da inflação no Brasil, elevou a porcentagem levemente: de 6,5% para 6,6%. Essa revisão leva em conta o fato de que a inflação brasileira vem sendo impactada pelo aumento do preço das commodities, ou seja, dos produtos agrícolas e minerais comercializados internacionalmente.
Outros fatores apontados foram os efeitos climáticos nas lavouras temporárias e a retomada do setor de serviços pós-pandemia de Covid-19. Até agora, a inflação do país chegou a 4,8% entre janeiro e maio e, no último ano, acumula alta de 11,7%.
Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) definiu a taxa básica de juros (Selic) em 13,25% ao ano, maior patamar desde 2016. O valor reflete o cenário de incertezas do país. No mercado de automóveis, também houve alta. A procura por carros mais baratos fez a venda de seminovos passar por um salto vertiginoso, como veremos a seguir.
O que há por trás do aumento de preços
Uma inflação nunca acontece sozinha. Por trás dela não há apenas um, mas vários motivos que explicam o aumento expressivo dos preços. Veja alguns:
Guerra da Ucrânia
Pode parecer estranho, já que o conflito acontece no Leste Europeu, mas a invasão da Ucrânia pela Rússia pode, sim, explicar a alta de preços no Brasil. A guerra impulsionou os preços das commodities e do petróleo, o que ajuda a explicar a alta da gasolina.
Pós-pandemia
As vacinas possibilitaram a volta à vida normal, mesmo que o vírus ainda esteja circulando. A queda vertiginosa da mortalidade encorajou o público a voltar às suas atividades. O problema é que essa retomada “desordenada” também ajudou a aumentar o preço dos combustíveis.
Em 2021, a reabertura econômica fez o preço do barril de petróleo chegar a US$ 80 – quatro vezes o valor que ele custava na fase mais aguda da pandemia (US$ 19). Além do aumento da demanda global, a política de retenção da China em zonas industriais e portuárias para conter o vírus provocou a queda de insumos e de mercadorias importadas disponíveis.
Escassez hídrica
Em 2021, o Brasil viveu sua pior crise hídrica em 91 anos. Baixo volume de chuva, períodos de seca, geadas e a própria pandemia fizeram o governo decretar bandeira vermelha de setembro de 2021 a janeiro deste ano.
Incerteza política
O cenário conturbado e a incerteza com relação às eleições também afetam os preços dos produtos e serviços. Afinal, há dificuldades em fazer estimativas sobre o andamento político dos próximos meses.
Alternativas ao aumento de preços
A alta dos preços força o consumidor a procurar maneiras de driblá-la. Afinal, o salário mínimo – reajustado para R$1.212 no início deste ano – não conseguiu repor sequer a inflação do ano passado.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIESSE), para que o consumidor pudesse suprir todas as necessidades de sua família, o salário mínimo deveria ser de R$6.012,18 – quase cinco vezes o valor atual.
Mercado de usados bombando
Para o consumidor, portanto, a solução foi apostar no mercado de usados. Para se ter uma ideia, um levantamento do Sebrae com base em dados da Receita Federal mostrou que a abertura de negócios que comercializam produtos seminovos e usados teve um crescimento de 48,58% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021.
No segmento de carros, não seria diferente. Segundo o Monitor de Variação de Preços da KBB Brasil, em 2021, a inflação chegou a 9% nos carros 0 km no acumulado até o final de dezembro. Já nos modelos 2022, a porcentagem salta para 18,4%.
A procura por carros mais em conta levou o consumidor ao mercado de seminovos. Para se ter uma ideia, somente em 2021, o setor avançou quase 47%. No geral, a tendência de lojas de usados é mundial. Os valores movimentados dobraram desde 2019 e podem triplicar até 2025.
Vale a pena ter um e-commerce de usados neste momento?
Com a alta dos preços num cenário geral, pode parecer difícil investir em um e-commerce no momento. Afinal, o Brasil investe no e-commerce. Para se ter uma ideia, entre abril e maio de 2020, o país abriu mais de uma loja virtual por minuto. Contudo, justamente a inflação faz com que o público procure produtos usados, que costumam ser mais em conta e, consequentemente, oferecer um melhor custo-benefício.
Outra vantagem de um e-commerce de usados é que os produtos vendidos costumam passar por uma espécie de “curadoria”. O lojista precisa analisar se aquele item realmente tem qualidade e potencial para ser vendido. Ao comprador, é uma garantia maior de receber um produto de qualidade, mesmo que ele já tenha passado por um dono anteriormente.
Veja algumas dicas para ter um e-commerce de produtos usados:
Plano de negócios
Um negócio precisa ter planejamento. Todos os potenciais passos, portanto, devem ser pensados, analisados e postos em um plano de negócios.
Um plano diz onde seu negócio está, para onde pretende ir e quais são as estratégias que podem levá-lo a esse objetivo. Portanto, mostra como o negócio vai crescer com o passar do tempo.
É importante lembrar que o plano de negócios não é imutável. Ao contrário: é preciso fazer uma análise periódica para saber o que está dando certo ou errado na sua estratégia, além do que precisa ser aprimorado para conseguir os resultados desejados.
Foco ou diversificação
Durante o planejamento, também é preciso decidir quais tipos de produto seu e-commerce vai vender. Ele será focado em um nicho ou venderá objetos usados em geral?
Normalmente, comerciantes voltados para itens seminovos e usados escolhem um nicho. Podem ser figurinhas, brinquedos de décadas passadas, selos e muito mais. Isso facilita a procura por colecionadores que queiram ceder seus itens.
Venda frequente
É importante que o lojista não se prenda à venda de itens sazonais, independentemente do tipo de produto vendido. Quem vende roupas usadas, por exemplo, não deve se prender apenas a casacos ou peças pesadas. O importante é que o item tenha procura frequente durante todo o ano, não apenas em algumas épocas.
Fornecedores
Quem trabalha com itens usados precisa redobrar os cuidados com fornecedores. Afinal de contas, os produtos adquiridos já foram usados e precisam estar em boas condições de uso para a comercialização.
Há produtos que vão diretamente ao consumidor, sem passar pelo lojista. Contudo, o item utilizado deve, sim, ser levado antes para o vendedor. Ele será responsável por avaliar as condições e fazer a limpeza e a higienização necessárias.
Quem é mais voltado para nichos costuma se relacionar com colecionadores. É preciso ter uma boa relação com pessoas confiáveis e, se possível, com um grande volume de itens para venda. Assim, é possível garantir que a loja se mantenha abastecida constantemente.
Já quem revende eletroeletrônicos usados provavelmente será responsável pelos reparos. Nessa parte, a análise será maior, para que o comprador não tenha prejuízos com pouco tempo de compra. Veja também se o item não é muito raro e difícil de comprar peças. Caso ainda haja itens disponíveis, tenha-os no seu estoque para eventuais consertos.
Descrição do produto
Um item usado precisa ser muito bem descrito no site. Quaisquer arranhões, falhas, manchas e desgastes devem estar especificados para que o cliente tenha ciência do que ele está comprando.
Uma classificação entre diferentes níveis também ajuda o consumidor na hora da compra. “Praticamente novo”, “seminovo”, “bom estado” ou outros termos podem ajudá-lo a ter uma ideia do estado em que o item se encontra.
Ainda no exemplo de eletroeletrônicos, uma mesma loja pode ter um notebook XYZ com apenas cinco dias de uso e outro utilizado por um ano. Mesmo que o segundo tenha sido reformado, o primeiro terá mais apelo e um preço maior. Quem deseja economizar, contudo, pode encontrar no segundo a chance de finalmente comprar seu aparelho.
Precificação
Obviamente, o preço do item usado deve ser mais barato do que o do novo praticado pelas lojas. Para isso, é preciso fazer uma pesquisa geral e descobrir qual o valor cobrado por ele numa loja convencional. Ao mesmo tempo, o preço deve compensar os gastos do lojista com logística, higienização e reparos.
Itens de colecionador podem ter um valor mais alto, pois contam com valor histórico e emocional. Como são raros, o tempo de fabricação acaba sendo um fator que interfere no preço: quanto mais antigo, mais valioso. Ele só precisa estar em ótimas condições para venda.
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