Recebi a missão de escrever este artigo superimpotante para falar sobre a experiência de ser mulher, mãe, gestora e, além disso, estar prestes a ter o meu segundo filho, Gabriel, que nasce no final do mês. A ideia central deste artigo era como nós, mulheres, podemos nos organizar diante de tantos papéis e como lidar com esses dilemas e responsabilidades no cotidiano.
Confesso que parei um tempo para refletir um pouco sobre essas minhas “funções” e como poderia contribuir de alguma forma, com algum novo conteúdo relevante para quem estivesse lendo. Pode ser que eu fale de forma menos romântica, passando por um lado mais racional e, possivelmente, menos emocional. Inclusive, é assim que eu tento tomar as minhas decisões, seguir os meus caminhos: indo para o lado da racionalidade e do planejamento. Claro que nem sempre consigo ser assim. Afinal, sou uma ótima descrição de canceriana: vira e mexe, choro por aí.
Ao planejar a escrita deste texto, eu coloquei a palavra “planejamento” na minha cabeça, pois, para mim, faz todo sentido compartilhar com vocês. E é como eu consigo lidar com todos esses meus papéis e encarar dilemas que possam surgir no meio do caminho. Sempre me considerei uma pessoa extremamente planejada, e isso fez toda a diferença na minha vida, seja ela profissional ou pessoal. Quando entrei na faculdade, há alguns anos, eu tinha um plano muito detalhado na minha cabeça de como seria a minha vida: sabia quando eu pretendia terminar a graduação, já tinha em mente quando iniciaria o meu MBA, minhas especializações, quando me casaria, engravidaria e por aí vai. Tudo bem planejado na minha cabeça – e consegui seguir tudo o que tinha desenhado. Claro que precisamos entender a realidade de cada um, de cada condição, de cada estilo de vida e até de possíveis mudanças de rotas que, às vezes, podem acontecer, é normal. Mas ter um direcionamento, ter um plano traçado facilita muito, pelo menos para mim, a chegar nos objetivos e dar conta de tudo isso. Não vou falar que é fácil, porque sabemos que não é, mas ter um passo a passo, decerto, ajuda.
Quando decidi ser mãe pela primeira vez, lá em 2017, fiz todo um planejamento, junto com o André, meu marido, para que pudéssemos viver esse momento da melhor forma possível. Ter filhos não é uma via de mão única, não é só papel da mãe acumular todas as tarefas – apesar de saber que, infelizmente, no mundo há milhares e milhares de mães solteiras, e que desempenham muito bem esse papel duplo. No entanto, sabemos que não deveria ser assim. Mas, para mim, a dádiva de colocar uma vida no mundo não poderia ser diferente de tudo o que eu prezo, por isso, fizemos questão de que fosse assim: com planejamento e tendo todos os passos mapeados – todos que eram possíveis prever, claro.
Hoje, nós temos muito bem definido quem desempenha cada papel: eu, por exemplo, dou comida para a Maria Sofia, minha primogênita, já o André prefere dar banho. Claro que algumas tarefas, como colocá-la para dormir, gostamos de fazer juntos, pois é um momento nosso, que ela gosta muito que estejamos os dois com ela. Mas a Sosô sabe, porque nós passamos isso para ela desde sempre, que há uma rotina e um planejamento diário, e que isso é importante para todos. Ela sabe o horário em que eu estou trabalhando e, enquanto isso, ela também tem atividades, e sabe que aquele é um momento dela, seja quando está na escola, desenhando em casa (na verdade, ela finge que trabalha como a mamãe), fazer natação na escolinha etc. Sentir-se valorizada, realizada e compreendida para atuar em tantos papéis diferentes é um dos motivos por me sentir tão completa como mulher hoje.
Ressalto, claro, que tudo isso envolve gestão de tempo para que eu possa dar conta e me sentir realizada em todos os momentos. Eu quero ser mãe por inteira, eu quero ser uma gestora por inteira, eu quero ser esposa por inteira e eu quero ser mulher por inteira. Na minha cabeça, eu não conseguiria fazer isso se não tivesse uma rota, um projeto (e minhas planilhas). Importante falar que, mesmo com todo o planejamento que eu possa ter, nem sempre conseguirei dar conta de tudo, e tudo bem. Pode ser que esta seja a principal mensagem do texto: mulheres, mães, gestoras, seja lá qual for o papel que estejamos desempenhando, a gente não precisa dar conta de tudo, não se cobre tanto, não somos super-heroínas. E para todas as frentes, nós precisamos – e podemos – contar com uma rede de apoio.
Quando falo isso do meu papel de mãe, por exemplo, você não precisa ter uma equipe toda com infinitas pessoas na sua casa, e cada uma com uma função. Não é isso, até porque poucas pessoas têm essa condição. Conte com a ajuda dos seus pais, dos pais do seu marido, dos seus irmãos, amigas ou amigos, pessoas que estão próximas a você. Não configuro isso nem com uma “ajuda”, mas sim como uma base de apoio, uma rede que estará ao seu lado para te apoiar em eventualidades. E, de novo, está tudo bem pedir ajuda. Você não precisa ser onipresente em diversas tarefas. Hoje, eu consigo me organizar para ser tudo o que eu quero ser: inclusive, eu tenho os meus momentos sozinha para me curtir, quando eu vou fazer as minhas atividades, mas eu não me torno uma mãe ou uma profissional pior por isso. Eu preciso de um tempo de autocuidado, e isso pode ser para que eu sente e veja uma série, vá fazer exercícios ou ao salão de beleza. Ter esse tempo só me dá mais forças para continuar sendo a mãe que sou, para continuar sendo a esposa que sou, a mulher que sou e a profissional que sou. E se eu posso dar outra dica é isto: valorize o tempo que você tira para você. Isso não é demonstrar que não aguenta mais, mas sim recarregar as energias para continuar dando o seu melhor. Afinal, ser mulher e mãe, principalmente, é sinônimo de doação, porque você está lá pelo outro, você se doa na educação, no seu tempo, no carinho, você precisa se doar. E só consegue fazer isso quem está por inteira.
Agora, depois de relatar e contar um pouco da minha experiência, e de dar algumas dicas que serviram muito para mim, preciso parar. Vou deixar o meu papel de gerente de marketing e gestora de um time de quase 30 pessoas para assumir o meu papel de gestora de gente: a Sosô está aqui, ao meu lado, me esperando, e o Gabriel vai nascer em algumas semanas. Ou seja, preciso cumprir o meu planejamento.
Até mais.
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