Quando surgiram os primeiros e-commerces no Brasil, ainda na década de 90, surgiu também uma necessidade: como pagar pelos produtos adquiridos? Se já havia a possibilidade de comprar produtos a partir de um computador e receber em casa, deveria haver uma possibilidade igualmente prática para pagar por eles.
Por nascerem quase ao mesmo tempo, as histórias do e-commerce e dos meios de pagamento no Brasil caminham juntas. Durante o fim da década de 90 e os anos 2000, diversas formas de pagamento foram utilizadas. Pagamento na entrega ou transferência entre bancos eram a escolha antes de existir os pagamentos digitais.
Cartões, boletos e fraudes
Com o surgimento dos primeiros gateways de pagamento digitais e a utilização de boletos e cartões de crédito, a experiência de pagar se tornou tão simples quanto comprar. Mas com os novos meios de pagamento, vieram novos problemas. As fraudes geraram um mercado à parte, hoje com empresas especializadas apenas em prevenir isso.
A febre dos cartões próprios, de cada loja, nascida no varejo físico do início dos anos 90, tinha chegado ao e-commerce e provocava uma guerra pela preferência dos clientes. E havia um meio de pagamento que era rápido, fácil e virou logo a preferência nacional: o boleto. Pagar com boleto era simples, você enchia o carrinho, preenchia os dados e um boleto com o valor da compra era gerado, em geral com vencimento para os próximos três dias. Uma vez confirmado o pagamento, a mercadoria poderia ser enviada à casa do comprador.
Mas essa aparente facilidade gerou um problema operacional enorme: um boleto era uma compra que poderia nunca ser paga. E de fato metade não era. Isso era um verdadeiro pesadelo logístico para os e-commerces. Uma venda com pagamento no boleto exige a reserva da mercadoria por dia, até que o pagamento se concretize, se isso ocorrer. Exige as integrações bancárias sistêmicas que verificam e notificam se esse boleto foi pago. E, apesar de ser um meio de pagamento com taxas menores para o varejista do que os cartões, sempre foi algo que parecia estar ali por não existir algo ainda melhor.
Fintechs e Pix
O jogo começou a virar após 2010, com o surgimento de mais formas de pagamento digitais e aos primeiros intermediadores de pagamento que dariam origem às fintechs. Foi a era do Paypal, do início do MercadoPago e do PagSeguro e da guerra entre as bandeiras de cartão pela fidelidade do consumidor. Mas nada disso foi capaz de matar o boleto.
Até que em outubro de 2020 chegou algo que enfim poderia mudar os rumos de como pagamos, dentro ou fora dos e-commerces. Nascia o Pix, o sistema de pagamento instantâneo, que unia bancos e fintechs, e que permitia pagar e receber de forma rápida e acessível. Porém, foi somente em 2022 que o Pix começou a aparecer mais forte nos e-commerces, e ele veio para ficar!
Lembra os três dias para pagar o boleto? Eles não precisam existir mais. Assim como não precisa mais reservar a mercadoria e acabar perdendo a venda para outra pessoa. Com o Pix, são apenas alguns segundos até que o pagamento e o recebimento ocorram, eliminando uma série de problemas pelo caminho. E o Pix está evoluindo para permitir ainda mais – no início, o Pix só permitia que o valor da compra fosse debitado integralmente da conta do pagador.
Em um país onde tudo se compra parcelado e a prazo, ainda é pequena a parcela da população que pode comprar algo de um valor mais elevado dessa forma. Portanto os cartões ainda continuam reinando em absoluto. Agora existem outras formas.
Um exemplo é o Pix Parcelado, uma evolução criada pelas próprias instituições de pagamento enquanto o Banco Central não regulamenta a prática (que será chamada de Pix Garantido). Funciona como o cartão de crédito, porém com um intermediário, como um banco ou fintech, que garante que os lojistas recebem o valor parcelado corretamente e essa instituição realiza a cobrança ao cliente final. Menos taxas para o cliente, menos taxas para o varejista, instantaneidade e benefícios para todos.
E a agenda do Pix continua, com previsão até de Pix Internacional, segundo o Bacen, o que pode também virar o jogo para as compras em e-commerces estrangeiros. É necessário aos varejistas acompanharem todas essas mudanças e se adaptarem.
Em 2022, os pagamentos via Pix foram uma tendência, com grandes redes inclusive oferecendo descontos agressivos a quem aderisse a essa forma de pagar. E tudo indica que 2023 seguirá no mesmo caminho.