Enquanto o universo do e-commerce continua a avançar rapidamente, o headless commerce vem se tornando uma escolha incrivelmente popular no mercado. Se olharmos para algumas das principais tendências no e-commerce nos próximos anos, podemos imaginar algumas das razões para isso.
De acordo com algumas projeções de mercado, estima-se que o e-commerce global irá atingir US$ 8,1 trilhões em 2026. Essas estimativas corroboram os números crescentes de novas lojas de e-commerce pelo mundo. Isso significa grande competição entre lojas virtuais, o que resulta em custos cada vez maiores para aquisição de novos clientes.
Por isso, empresas precisam se diferenciar e apostar na construção da lealdade através de experiências personalizadas e diversificadas para se posicionarem no mercado. O fim do third-party cookie também tem papel importante no estímulo da criatividade para que lojistas consigam se destacar em um mercado tão diverso.
Outra tendência é a evolução da integração de todos os canais e áreas de uma empresa de forma fluída, o famoso omnichannel, que coloca o consumidor no centro de tudo que a companhia faz. A integração, e sincronia, de tudo isso em tempo real é conhecida como unified commerce.
E é aqui que o headless commerce entra. O headless promete a liberdade de criar experiências de compra únicas para cada ponto de contato com o cliente através do desbloqueio de limitações de desenvolvimento. Graças ao headless, torna-se possível vender em qualquer lugar e a qualquer hora sem limitações de desenvolvimento ou de design.
A seguir, vamos explorar o headless commerce, por que você deveria considerar isso, e como tomar as primeiras decisões se esse caminho for o adequado para você.
1. Conceituando o headless commerce
De maneira simples, podemos dizer que o headless commerce é um modelo de e-commerce que desconecta o front-end, ou seja, o “head”, dos processos de back-end, permitindo atualizações independentes ou alterações no front-end sem impacto no back-end, de forma similar ao que fazem os sistemas de gestão de conteúdo (CMS).
Uma configuração headless separa front-end de back-end objetivando dar mais flexibilidade para as experiências de cliente que lojistas são capazes de oferecer. Assim, marcas podem atualizar o front-end sem tocar no back-end.
Inferfaces de aplicação de programação (APIs), parceiros de tecnologia e gestores de experiências digitais normalmente formam uma parte vital do sucesso do headless commerce. Empresas precisam desses recursos para entregar novas experiências e funcionalidades que engajam clientes e excedem suas expectativas.
Antes de entrarmos mais fundo no headless commerce, é importante esclarecer sobre o que é front-end e o que é back-end.
Front-end, frente de loja digital ou vitrine de loja, é onde o cliente navega, isto é, a camada em que consumidores interagem com sua loa virtual. Mas o conceito de front-end vai muito além das lojas de e-commerce, serve também para toda interface de interação, como os sites de social media, aplicativos mobile, e os bilhões de dispositivos usados na IoT (internet das coisas). Atualmente, a IoT inclui atividades como espelhos inteligentes, quiosques de autoatendimento, máquinas de vendas automáticas, wearables e tecnologias assistidas por voz, como a Alexa da Amazon.
Já o back-end compõe sistemas, processos, fluxos de trabalho e ferramentas que rodam em background para lidar com tudo que envolve dados e operações, a fim de garantir que seu negócio esteja funcionando com dinamismo e fluidez. Essa camada de tecnologia pode ajudar em atividades como merchandising, atendimento, integrações, armazenamento de dados e checkout.
O headless commerce, ou seja, a separação entre front-end e back-end, é impactante, uma vez que plataformas tradicionais não permitem tal separação. Empresas headless podem usar à vontade sua imaginação para construir experiências de cliente que as diferenciem de seus concorrentes, trazendo consigo todos os canais, dispositivos e características que cada negócio necessita individualmente, sem limitações ou barreiras.
2. Como o headless commerce funciona?
O segredo para o funcionamento do headless é a utilização das APIs. Uma API é uma conexão entre o front-end e o back-end, e ela é responsável pelo envio de informações entre as duas camadas em tempo real.
O conteúdo voltado para o cliente é gerenciado na plataforma de back-end, de maneira muito semelhante ao que empresas fazem em um CMS. Com uma frente de loja headless, é possível a utilização de vários sistemas de back-end, dependendo das necessidades de uma empresa. Esses sistemas podem incluir:
– Sistema de gestão de conteúdo (CMS);
– Progressive web app (PWA);
– Gestão de relacionamento com o cliente (CRM);
– Plataforma de experiência digital (DXP).
A inclusão de ferramentas SaaS (Software as a Service) adicionais permitem a criação de novos pontos de contato junto aos clientes, como um aplicativo móvel ou uma máquina de vendas automática. Toda vez que um cliente interage com uma vitrine de loja headless, uma chamada de API envia essa informação para o back-end.
Do ponto de vista dos clientes, não há alteração em sua jornada de compra, ou seja, consumidores não notam diferenças por usarem uma arquitetura de back-end headless – eles interagem com a interface de frente de loja headless de maneira normal, enquanto a empresa que utiliza essa tecnologia é capaz de entregar uma experiência de compra diferenciada e flexível aos seus clientes.
3. Headless commerce versus plataformas monolíticas
Como já explicamos anteriormente, uma arquitetura headless oferece mais ferramentas aos lojistas para que possam atingir uma base crescente de clientes, se comparada a uma plataforma de e-commerce tradicional, também conhecida como plataforma monolítica. A seguir, irei explicar as principais diferenças entre as duas estruturas.
3.1. Headless commerce
O headless commerce é uma opção melhor para marcas que precisam de personalizações completas e preferem desacoplar o sistema de front-end do sistema de back-end. São exemplos de plataformas headless as soluções de Shopify Plus, Adobe Commerce, BigCommerce e VTEX.
Apesar da separação entre as camadas, como o headless front-end e back-end ainda se comunicam, é simples, por exemplo, integrar provedores terceirizados. Uma vantagem dessa arquitetura é que operações headless podem atualizar facilmente o front-end sem precisar fazer qualquer alteração no back-end.
O uso mais comum para o headless é o de enviar conteúdos para o front-end a partir do CMS (Content Management System) já existente na plataforma de e-commerce. Nesse sentido, empresas podem alterar o conteúdo de seu site sem passar pelo back-end.
3.2. Plataforma monolíticas
As plataformas de e-commerce tradicionais, também chamadas de monolíticas, têm como vantagem serem mais simples de configurar. Elas oferecem tudo que os varejistas precisam para criar uma loja virtual – vitrine de loja, métodos para receber e processar pagamentos, e de transporte.
Contudo, grandes varejistas podem chegar à conclusão de que sua plataforma de e-commerce tradicional está limitando a forma como consumidores interagem na vitrine da loja, além de reduzir as entregas desejadas do ponto de vista do UX e do UI design.
Sob o aspecto do design, é um grande desafio criar um website com uma experiência visual verdadeiramente atrativa. Personalizações únicas, elementos gráficos e interativos podem ser muito difíceis de se criar com plataformas de e-commerce tradicionais. É muito comum varejistas descobrirem em pouco tempo as limitações visuais das plataformas monolíticas, e que poderiam superar os templates disponíveis se tivessem mais flexibilidade a fim de levar aos seus clientes uma experiência inovadora em sua loja virtual.
Nas plataformas de e-commerce tradicionais, o front-end e o back-end são interdependentes. Isso significa que o carrinho de compras, o CMS, o checkout, o sistema de assinaturas e o layout do site são todos conectados – uma mudança em uma dessas camadas pode exigir alterações em outra. Quando as atualizações do site são necessárias, elas normalmente consomem muito tempo e acabam custando muito caro. Além disso, algumas plataformas exigem inatividade para atualização do site por certo período, causando possível perda de receita.
Alterações de design ainda podem ser mais difíceis de se aplicar em plataformas monolíticas, especialmente para experiências altamente personalizadas. Essas plataformas trazem também o risco de deixar o carregamento das páginas mais lento, devido às chamadas de API e a limitações técnicas características das plataformas tradicionais.
4. Principais benefícios do headless commerce
Como já falamos, um benefício do headless commerce é a flexibilidade. Assumindo que o e-commerce e as tecnologias irão continuar a evoluir rapidamente, o headless commerce posiciona o seu negócio para qualquer que seja a direção em que as novas tecnologias se desenvolvam no futuro.
A seguir, aponto cinco vantagens do headless commerce:
– Personalização completa;
– Tempo de carregamento mais rápido de páginas;
– Menor necessidade de suporte técnico;
– Maior controle e dimensionamento mais rápido;
– Tempo mais rápido para o mercado.
4.1. Personalização completa
Plataformas de e-commerce headless permitem a aplicação da aparência e da interface exata desejada e, com isso, a aplicação da experiência e do sentimento (UX) que a marca quer transmitir.
Enquanto plataformas tradicionais de e-commerce podem ajudar varejistas a iniciar suas operações rapidamente, com frequência esses lojistas entendem que os temas visuais limitados disponíveis nessas plataformas são um problema. Mesmo que os varejistas possam rapidamente construir uma loja e anunciar os seus produtos, muitas vezes eles podem desistir de aplicar uma experiência personalizada de marca, como esperavam inicialmente.
Aplicar headless commerce significa que não haverá mais sacrifícios nas limitações de design – as marcas podem personalizar qualquer coisa desde o primeiro dia de implantação.
A arquitetura headless também permite a execução de testes sobre aquilo que foi construído. Portanto, é possível otimizar a experiência do cliente e a taxa de conversão a partir dos resultados dos testes rapidamente.
Além disso, como a experiência de front-end é separada do back-end, é mais simples e menos arriscado fazer alterações no front-end sabendo que tais alterações não afetarão a arquitetura de back-end do site. Por exemplo, existem cases de headless commerce criados para aplicar experiências de gamification, no qual o checkout da loja virtual emula uma máquina de venda automática para a venda de cereais pela internet.
4.2. Tempo de carregamento mais rápido das páginas
Quando um cliente chega ao nosso site, temos somente alguns segundos para garantir que a página carregue e chame atenção. Estudos indicam que dois em cada três usuários de smartphone esperam que webpages carreguem em menos de quatro segundos, 40% dos consumidores não esperam mais do que três segundos antes de abandonar um site, e 82% dos consumidores afirmam que a baixa velocidade no carregamento das páginas impacta em suas decisões de compra.
As plataformas de comércio tradicionais não foram construídas tendo a velocidade do site como prioridade. Elas são mais pesadas e demoram mais para carregar, o que pode fazer com que os visitantes desistam e os compradores abandonem seus carrinhos no meio do processo de compra.
O uso de uma arquitetura headless facilita a criação de páginas de carregamento rápido em computadores e dispositivos móveis. Quando o front-end é construído separadamente, o pesado back-end é separado das páginas com as quais os clientes interagem.
Ao mudar para uma arquitetura headless, os compradores poderão alternar entre página inicial, blog, páginas de produtos e checkout rapidamente.
Melhorar a velocidade do seu site também pode afetar seus resultados. A marca de dois a três segundos é o ponto de inflexão em que as taxas de rejeição disparam – lembrando novamente que 40% dos consumidores não esperam mais do que três segundos para abandonar um site. Um segundo adicional no tempo de carregamento normalmente significa 11% menos pageviews e uma queda de 7% nas conversões.
Ao usar uma arquitetura headless, as marcas melhoram a experiência dos clientes e reduzem a probabilidade de eles perderem o interesse como resultado da demora no tempo de carregamento das páginas.
4.3. Menor necessidade de suporte técnico
Empresas que usam headless commerce são capazes de proporcionar experiências de compra inovadoras no seu front-end rapidamente. Uma vez que alterações no front podem ser feitas mais facilmente, desenvolvedores economizam tempo e esforço nas alterações. Sendo assim, equipes web podem executar modificações sem precisar depender em demasia da equipe de desenvolvimento.
Uma arquitetura de headless commerce também fornece menos limitações para a internacionalização de lojas online, ou seja, fica muito mais fácil incluir múltiplas moedas e múltiplas línguas, por exemplo.
4.4. Maior controle e dimensionamento mais rápido
Sistemas previamente codificados em diferentes idiomas muitas vezes podem impedir a realização de integrações críticas, que impactam inclusive a experiência do cliente. Já o headless commerce, através de APIs, permite integrar todos os sistemas existentes – por exemplo, ERP, OMS, CRM etc. – para criar uma experiência de compra usando o idioma escolhido pelo cliente.
Outra vantagem é a segurança sobre grandes mudanças de tecnologia. Isso quer dizer que caso alguma grande inovação ou necessidade tecnológica aconteça, graças ao headless commerce, empresas poderão decidir quando se adaptar a essas alterações, seja para sair na frente da concorrência, seja para decidir aguardar e caminhar no próprio ritmo.
4.5. Agilidade no tempo de lançamento
O headless commerce possibilita maior agilidade nos testes e experimentos voltados para a otimização das lojas virtuais. Isso reduz drasticamente o problema da separação das áreas do desenvolvimento back-end e front-end, permitindo o trabalho das equipes em separado e sem impacto entre si, inclusive ao mesmo tempo, sem depender que uma dessas equipes finalize algo para que a outra possa atuar.
5. Situações mais comuns para o uso do headless commerce
Caso você esteja considerando utilizar a metodologia headless para atingir seus objetivos de negócio, a seguir cito algumas situações de uso mais indicadas.
5.1. Integração de múltiplos canais
A arquitetura headless é uma das soluções recomendadas para marcas que buscam aprimorar experiências multicanais. O headless permite a integração com canais radicalmente diferentes para a entrega do conteúdo ideal para cada um – tudo sem a necessidade de gerenciar a experiência do usuário por meio de processos e ferramentas separadas.
Por exemplo, se você tem por objetivo entregar conteúdos para visitantes em diversos canais, um CMS (Content Management System) headless é certamente um ótimo caminho ao qual se recorrer. Dessa forma, será possível a utilização de um único CMS para a criação de conteúdos específicos para cada canal, através da sincronização que deverá ser estabelecida entre front-end e back-end por meio de API.
5.2. Conformidade com PCI, proteção contra fraudes e segurança no checkout
Os três elementos do tópico acima – PCI, fraude e segurança no checkout – podem ser uma grande dor de cabeça para as operações de e-commerce. No entanto, existe uma boa notícia: utilizar um provedor de SaaS com arquitetura headless pode ajudar a reduzir o trabalho dos times internos de tecnologia e agilizar o processo de adequação de conformidade e segurança. Isso acontece porque os provedores de SaaS podem assumir o risco e gerenciar o processo para o lojista.
5.3. Capacidade de personalização sem limite
A arquitetura aberta das operações headless torna possível alcançar qualquer coisa que se imagina em termos de personalização. É possível pré-fabricar integrações com plataformas de ERP, CRM e muitas outras funções. Ou, ainda, é possível optar por personalizar a construção utilizando-se de APIs e SDKs. Tudo isso graças à desconexão entre seu front e back-end.
6. Sua empresa está pronta para ser headless?
Após ler este material, espero que tenha podido esclarecer um pouco mais o que é uma arquitetura headless e qual é o perfil de empresas indicado para essa tecnologia.
Quer você seja uma empresa experiente, com infraestrutura bem estabelecida ou ainda esteja desenvolvendo sua arquitetura corporativa, de maneira resumida, se você pretende se diferenciar, competindo com outros players com base na experiência do cliente em vez simplesmente do preço de venda, a sua empresa pode ter o perfil para a implementação de uma metodologia headless.
E aí, sua empresa está preparada?