Nas últimas semanas, vimos o agravamento da pandemia no Brasil. Com isso, diversas cidades aumentaram as restrições – o que afetou diretamente o comércio varejista. No caso das lojas físicas, claro, negativamente. Mas no e-commerce, salvo todas as questões de saúde e de diminuição da renda dos trabalhadores, o lockdown e demais restrições emergenciais estão se mostrando como uma oportunidade para as vendas.
Diante deste cenário de lockdown, faço um alerta, o qual pode servir como um alento também: redes de lojas físicas podem ser ainda mais prejudicadas se não utilizarem de uma estratégia de logística inteligente: o ship from store.
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A partícula “se”, no caso acima, é o que traz luz à solução do problema enfrentado atualmente, uma vez que com o ship from store, os estoques das lojas físicas ficam integrados. Assim, mesmo com o fechamento do comércio, as prateleiras podem continuar ativas nas vitrines da internet.
Mudanças com o ship from store
Sabe-se que o conceito ship from store não é capaz de resolver todas as questões enfrentadas pelos lojistas. Porém, de maneira instantânea, a partir da sua implantação, ele facilita a rotina de empresários e profissionais da área com a melhora na gestão do estoque. Além disso, rapidamente se observa entregas mais rápidas e fretes mais baratos.
Em curto prazo, percebe-se também o aumento das vendas, uma vez que o valor do frete acaba sendo um chamariz, atraindo clientes pela possibilidade de economia. A menor taxa do frete também reflete na diminuição do abandono de carrinho, fazendo com que as compras sejam concluídas.
Em médio prazo, a maior movimentação nas vendas, resultará no aumento da receita da empresa. E a melhora nas finanças do negócio também pode ser gerada graças à satisfação do cliente, o qual não precisará acionar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da empresa, porque receberá o produto de forma segura e dentro dos prazos estabelecidos.
Dois modelos clássicos
O ship from store pode ser trabalhado de várias formas, mas, de acordo com Rodrigo Maruxo e Samuel Gonsales, autores do livro ‘Vendas + operações no e-commerce’, a estratégia é aplicada de duas mais clássicas:
- Demonstrar ao cliente de onde o produto sai
No momento da compra online, a loja informa ao consumidor que o produto será entregue a partir do estoque um uma loja específica. Provavelmente, da unidade que seja mais perto do local de entrega.
- Não demonstrar ao cliente a origem do produto
Algumas empresas optam por não informar ao consumidor a origem do produto, seja por estratégia ou por utilizar uma plataforma que não permita essa informação. Neste caso, é importante que o cliente possa acompanhar o fluxo da compra, como o fechamento do pedido e o despacho, por exemplo.
Na hora de se isolar, aproveite para se aproximar do cliente
A ideia do ship from store no mercado é de aproximar as empresas do consumidor final, inclusive neste momento com regras de distanciamento.
Contudo, essa estratégia de fazer com que a mercadoria tenha como origem o estoque que estiver mais perto do cliente irá perdurar mesmo com o fim de fases – emergenciais ou do lockdown, por exemplo.
A afirmação de que o ship from store não é um conceito apenas para o momento de pandemia, se dá devido à consolidação do e-commerce.
Tendência mundial made in China
Na China, a previsão é que neste ano as vendas on-line ultrapassem o comércio físico. Segundo um estudo recente da eMarketer, empresa norte-americana de pesquisa de mercado, o e-commerce pode atingir 52% do faturamento das vendas do varejo.
Essa será a primeira vez no mundo que as compras pela internet superam o comércio físico em um país. O fato histórico mostra uma tendência de mercado. A eMarketer prevê que em 2024 o comércio pela internet no país chinês alcance o índice de 58% do faturamento total do varejo. A precursora realidade chinesa aponta a direção que outros países também seguem.
Realidade brasileira
Recentemente, duas grandes empresas anunciaram a adoção do modelo ship from store em suas operações no Brasil. Uma delas foi a Lindt, que aproveitou as suas cerca de 50 lojas no país para implementar a estratégia. O Grupo Big também aderiu à tendência e aproveitou o lançamento de seu e-commerce com entrega gratuita para usar a nova base com o conceito ship from store.
Contudo, quem saiu na frente já consegue colher os frutos do investimento. É o caso da Lojas Renner, por exemplo, que durante a pandemia implantou os serviços clique e retire e ship from store. O resultado disso foi que em comparação com o ano anterior, a alta de 2020 foi de 126%.
Já outra importante varejista de moda, a C&A, teve um crescimento de 444% na receita líquida de operações via aplicativo e site da empresa, em relação a 2019. Somente até o quinto mês de 2020, a estratégia ship from store representava 55% do faturamento das compras digitais. Com tamanho sucesso, a empresa expandiu o modelo para 250 lojas.
Enquanto isso, a Lojas Marisa fez um piloto do ship from store na virada para 2020. Com o fechamento das lojas em março, devido à pandemia, ampliou-se o piloto para 70 lojas. O resultado fez com que em maio 130 lojas já estivessem operando com esse modelo. Em entrevista ao UOL, o CEO da empresa, Marcelo Pimentel, afirmou que o ship from store participa de cerca de 20% das vendas on-line. Segundo o executivo, somente de ship from store, as vendas partiram do patamar de R$ 200 mil em março para R$ 9 milhões em maio.
Assim, concluo que, atualmente, o ship from store se mostra como um respirador para o varejo físico. Mas não apenas isso. Em um futuro próximo, essa estratégia será como uma mola propulsora para o varejo do futuro.
Os lojistas que quiserem se preparar, o momento é de fazer parceria com empresas especializadas em logística inteligente a fim de que mobilizem mudanças necessárias e estejam prontos para o que de melhor está por vir.