Neste artigo vamos apontar algumas das dificuldades vivenciadas por um mercado relativamente recente: os operadores logísticos. O foco do conteúdo abordado vai ser direcionado para logística interna.
Como regra geral, os operadores não estão imunes à limitação básica de serviços terceirizados: o depositante quer pagar menos do que gasta e, o que é pior, quer que o prestador faça tudo o que ele gostaria de ter feito e não conseguiu fazer.
01. Operadores logísticos, mercado perfeito
Há muitos operadores logísticos, assim a precificação dos serviços prestados independe de cada um deles. A partir desse fator resulta a importância da qualidade dos processos (recebimento, armazenagem e separação), redução das movimentações e economia da área de armazenagem
02. Quem não agrega valor perde o cliente
A simplicidade da operação do depositante reduz a margem e a segurança na permanência do depositante como cliente. Essa característica implica na necessidade de os operadores contarem com mão de obra especializada
A facilidade para a entrada de novos competidores no segmento perturba significativamente a margem das operações com pouca agregação de valor. Caso a economia esteja desaquecida, sempre haverá outro operador apto a oferecer seus serviços aos depositantes com operações padrões e por um preço menor
03. Na incerteza, a prudência
Os operadores logísticos optam por ter uma estrutura de armazenagem e software de ampla abrangência, fugindo da especialização. A generalidade de uso da estrutura de armazenagem e dos equipamentos dá maior segurança ao investimento. Porém, a relativa irreversibilidade da capacidade produtiva pode gerar ineficiência em caso de inadequação à demanda. Por exemplo: congestionamento nas docas, escassez de locais de picking etc.
04. Automação, rara exceção
Somente operações muitíssimo padronizadas e de alto volume justificam a automação paralela ao investimento exigido e, devido ao risco, raramente estão ao alcance dos operadores logísticos. Outro fator que estimula a automação é o alto custo da mão de obra nos países desenvolvidos.
Com a globalização, as empresas multinacionais tendem a uniformizar seus processos em todas as suas unidades produtivas trazendo consigo as empresas de automação para o mercado nacional.
Há um grande esforço de venda de tais processos, porém eles não resistem a um confronto custo-benefício – considerando o custo da mão de obra no Brasil. Tal como o luxo, a automação é fascinante e destina-se a poucos. Fala-se muito mais da exceção do que da regra.
05. Lotar é preciso
Os operadores obrigam-se a manter a taxa de ocupação do armazém próxima de 90%. A necessidade de sempre evitar espaço ocioso – mais importante até mesmo do que o fator restritivo – praticamente força que qualquer depositante seja bem-vindo independentemente do fluxo de entrada e de saída, da natureza e do tipo de controle da mercadoria, etc.
06. Investimento somente com garantia
Assim como quase todo o setor de serviços, o segmento de operadores logísticos é pouco capitalizado. Deve haver uma demanda segura para que haja melhoria nos processos operacionais como investimentos em hardware, software e qualificação de mão de obra. Em outros termos, a demanda é que determina a qualificação da oferta de serviço.
07. A comunicação é por conta do operador
As normas de comunicação depositante-operador são determinadas pelo depositante. Isso implica no aumento do custo inicial da operação e na despadronização de procedimentos internos, uma vez que é o software do operador que tem ser alterado para receber e para remeter informações ao depositante.
08. A incerteza da demanda de serviço
Nada impede que o comportamento da demanda de serviços seja irregular, principalmente no final de mês e em vésperas de festa. Não há qualquer proteção do operador quanto a essa incerteza e cabe somente aguardar esse período da ociosidade de mão de obra ou horas-extras. Somente a irregularidade da armazenagem é, por vezes, considerada para efeito de receita cobrando-se pelo pico.
09. É difícil precificar uma operação
A regra de cobrança das operações logísticas está muito longe da realidade dos custos e das despesas. É muito difícil convencer o depositante de todas as atividades necessárias para receber, conferir, armazenar, separar e expedir suas mercadorias.
Há muitas variáveis envolvidas: a natureza da mercadoria, a unitização com a qual é recebida, o tipo de controle necessário no recebimento, o grau de dificuldade na identificação dos itens, as divergências entre nota fiscal e a conferência no recebimento, a reunitização para armazenagem, a escolha do método de separação mais adequado ao perfil das saídas, a formação de carga etc.
Essa falta de sensibilidade do depositante aliada às sutilezas operacionais resulta, em geral, numa forma rudimentar de cobrança por posição de estoque ocupada considerando um mínimo. Por essa imprecisão, ambos perdem.
10. Comércio eletrônico, a alma lavada
Enquanto a maioria dos depositantes opta pela terceirização por razões de custo, escassez de área de armazenagem ou necessidade de proximidade do centro consumidor, nas lojas virtuais a logística interna está entre suas atividades essenciais.
Ao capturarem um pedido e prometerem uma data-turno de entrega no momento de seu fechamento, a loja virtual pressupõe a existência de estoque, o prazo padrão para sua expedição e o tempo esperado de trânsito – o cumprimento dessa promessa determina a qualidade da loja.
Enfim, a gestão da logística interna começou a requerer modelos mais sofisticados, em geral, tomados de empréstimo da indústria: planejamento dos recursos (área, docas, equipamentos, mão de obra, hardware), definição de processo e tempos padrões para suas atividades, além de programação e controle da separação, análise de desempenho dos operadores e informações gerenciais.