O meu último artigo, Prestem mais atenção na revolução silenciosa da TV Digital e do HDTV, provocou muitas discussões, com comentários muito ricos e apaixonados, que abordam questões como nomenclatura do Blu-Ray, Blue Ray ou Blu Ray, tecnologia Plasma, LCD e LeD e, finalmente, a qualidade do conteúdo da televisão e o desenvolvimento da humanidade.
Gosto muito quando as questões sobre o marketing digital e a Internet vão além de e-mail marketing e links patrocinados. É empolgante ver que muitas pessoas já se libertaram da "pseudo-liderança" do Google, e querem discutir de fato para onde estamos indo e o que queremos.
Você pode até se perguntar o que filosofar sobre os destinos da humanidade tem em comum com o marketing das empresas, e eu respondo com duas palavras simples: Nativos Digitais.
Um dos leitores colocou uma questão fundamental: ".. e novas tecnologias não vão ajudar o desenvolvimento humano". Esta é uma frase bastante interessante, e típica da minha geração e da chamada geração Y, pois enxergamos o mundo do ponto de vista dos nossos negócios e da forma como vínhamos tocando as coisas no planeta Terra.
Pensamos nas empresas multinacionais, nos grandes grupos de comunicação e nos países ricos, e ainda acreditamos que temos que gastar milhões em publicidade na televisão, e anúncios em revistas, distribuindo preciosos 20% para as agências de publicidade, pois é assim que vamos atingir o consumidor e manter nosso negócio vivo.
Continuamos pensando na Internet como uma coisa de jovens, uma mídia "barata", e em campanhas simples, preguiçosas e que usam o senso comum.
Olhamos para o mercado como se ele fosse formado por empresários entre 30 e 60 anos de idade e para os consumidores como a audiência de programas de televisão, como Big Brother, Caldeirão, Faustão ou Gugu. Temos certeza de que a televisão é a melhor, talvez única, mídia forte para investir em publicidade de massa, e que a audiência é fundamental.
Lógico que ainda muitos que assistem a estes programas e que os auditórios estão lotados de pessoas que sonham com seus cinco minutos de fama. Lógico que eles ainda são consumidores e que a publicidade na TV, mesmo que hiper-valorizada e inflacionada, ainda dá retorno.
Mas há um fato inexorável na humanidade, que vem desde seu surgimento, mesmo que aparentemente só os físicos e os médicos parecem ter consciência dele: o tempo não para.
O que quero dizer com isso é que o seu consumidor, que assiste à TV e consome um conteúdo de péssima qualidade, incluindo os merchandisings e os anúncios publicitários, está envelhecendo, rápida e inevitavelmente, e se tornando menos influente, menos interessado e, principalmente, menos rico.
O seu consumidor tradicional, que sustentava toda a sua visão de negócios, marketing e publicidade, terá cada vez menos poder de decisão e menos poder econômico, e por quê? Porque o tempo não para. E com o tempo, as crianças que nasceram com a Internet estão chegando à maioridade. Com o tempo as crianças que nasceram com a Internet estão se mobilizando, se relacionando, se educando e criando novos modelos de negócio.
Não estou falando do seu estagiário de 22 anos. Estou falando do garoto e da garota que têm menos de 18 anos e que nasceram sem entender porque existe a televisão, se ele assiste a tudo que quer no YouTube. Que nasceu sem entender direito porque existe o telefone, se ela se comunica pelo MSN ou pelo Skype. E que usa o celular como meio de acesso à única empresa de comunicação global que ela conhece e valoriza: a Internet.
Estou falando do que chamamos de Nativo Digital, uma criança que aos 3 anos já navegava na Internet, que aos 5 anos já fazia trabalhos escolares pesquisando no Google, que aos 7 anos já ouvia música nos vídeos clips do YouTube, que aos 9 anos criou seu primeiro Blog, e que aos 11 anos já tinha um Web Show.
Este Nativo Digital está se tornando maior de idade nesta década (2010 a 2019). Ele é mais instruído do que seu consumidor tradicional, ele tem uma mobilidade social muito maior, e talvez nem entenda bem este conceito de classe, porque olha as pessoas através de seu conteúdo. Ele terá uma profissão que sequer conhecemos hoje, porque ela será criada através das discussões e mobilizações nas mídias sociais.
O Nativo Digital terá uma renda e uma independência financeira, que supera nosso entendimento de como ganhar dinheiro. Este é o consumidor desta e das próximas décadas, e que vai varrer do mercado as empresas que não entenderem seu processo de decisão, de relacionamento e de consumo, e o tratarem como tratavam seus pais ou seus irmãos mais velhos. Ele vai comprar de empresas que se relacionam com ele e que contribuem com ele no seu meio. Ele vai comprar valor agregado, e não produtos.
E não se iluda: da classe A ao que chamamos de classe E, todos os garotos e garotas desta geração, no Brasil e no resto do Mundo, estão, sim, inseridos nesta comunidade global dos Nativos Digitais, seja aquele que tem um MacBook no seu quarto ou o que sai de casa para ir a uma Lan House pequena e escura, em um bairro de periferia, todos os dias.
Se você não entender os Nativos Digitais, e não começar já, hoje, agora, assim que terminar de ler este artigo, a montar um planejamento estratégico para atingir este público na Internet, seu negócio estará fadado e enfrentar tempos muito difíceis e inóspitos.
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