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Psicografia no e-commerce: como criar lojas que convertem pelo comportamento, não pela idade

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Por: Rodrigo Cursi de Carvalho

Co-CEO e CXO na FRN³

Rodrigo Cursi é Co-CEO, CXO (Chief Experience Officer) e co-fundador da FRN³, empresa especializada em desenvolvimento digital. Com formação em Design de Games e Gráfico e Pós-graduação em Design: Conceito e Aplicação, possui 15 anos de experiência nas áreas de User Interface (UI), User Experience (UX), branding, e-commerce e aplicativos. Ao longo de sua trajetória, atuou como Diretor de Arte e Criação, liderando projetos de diversos segmentos e tamanhos, com foco em soluções criativas e de alto impacto. Seu trabalho se destaca pelo gerenciamento de equipes criativas e squads especializados em mídia e desenvolvimento de projetos digitais. Atualmente, é especialista em UX e UI, com um portfólio robusto de mais de 500 projetos realizados.

Durante anos, ouvimos que entender o “público-alvo” era o ponto de partida para qualquer estratégia de e-commerce. Mas, na prática, idade, gênero e localização geográfica não explicam por que alguém abandona um carrinho a segundos do checkout ou por que um banner desperta o clique em um visitante e passa despercebido por outro.

Nos projetos que lidero, percebo com cada vez mais clareza que o que move a conversão não é quem o consumidor é, mas sim por que ele faz o que faz. Entramos, então, no campo da psicografia: uma abordagem que abandona o rótulo demográfico para mergulhar no comportamento, nas motivações e nas emoções por trás da jornada de compra.

Do demográfico ao psicológico: a segmentação que faz sentido

Segundo o relatório Consumer Signals da Deloitte (2023), marcas que personalizam com base em comportamento e valores têm até 20% mais chance de retenção e aumentam em até 25% a lealdade de seus clientes. O dado reflete uma tendência que observo diariamente: usuários deixam rastros invisíveis, que vão muito além de onde moram ou quantos anos têm.

A análise psicográfica permite construir perfis como:

– O comprador explorador, que visita diversas categorias antes de tomar uma decisão e responde bem à curadoria e à autoridade;

– O comprador ansioso, que navega pouco, busca com precisão e converte rápido quando há escassez ou urgência;

– O comprador analítico, que lê reviews, compara produtos e precisa de argumentos objetivos para tomar uma decisão.

Esses perfis não são suposições: vêm da observação direta de mapas de calor, interações de microcliques, análise de rolagem e sessões gravadas. São dados comportamentais puros, não extraídos de cadastros ou segmentações clássicas de CRM.

Os gatilhos mentais silenciosos e seu impacto invisível

Em um teste A/B recente com um e-commerce de moda, apenas a reorganização dos produtos da vitrine (colocando “mais vendidos da semana” em destaque) aumentou em 14% a taxa de adição ao carrinho. Nenhuma mudança de preço ou design. Apenas um ajuste no discurso implícito.

Outro exemplo: ao posicionar a informação de “frete grátis a partir de R$ 149” logo abaixo de uma vitrine em um e-commerce de beleza, observamos um aumento de 18% na navegação por páginas subsequentes. O consumidor não estava comparando racionalmente o benefício, ele apenas sentiu segurança para continuar.

Esses são os chamados “gatilhos mentais silenciosos” – estímulos que ativam a antecipação de recompensa no cérebro do consumidor, conforme aponta a Journal of Consumer Psychology. Não se trata de manipulação, mas de afinar o e-commerce com o funcionamento real da mente humana.

Personalização real: além do “Olá, João”

Tratar o cliente pelo nome já é commodity. O desafio agora é compreender que a mesma pessoa pode ter comportamentos radicalmente diferentes conforme o horário, o dispositivo ou o contexto emocional em que acessa a loja.

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Imagem: Reprodução.

Um consumidor pode buscar eficiência e objetividade em uma visita rápida pelo celular numa segunda-feira de manhã e, no domingo à noite, buscar relaxamento e inspiração ao navegar pelo notebook. Se a loja virtual entrega a mesma experiência nos dois momentos, perde a chance de dialogar com o que realmente importa: a intenção do usuário.

Por isso, defendo o conceito de e-commerce vivo: capaz de capturar sinais de comportamento em tempo real e adaptar sua resposta – seja com a ordem dos produtos, os argumentos utilizados, ou mesmo a estrutura da jornada.

Psicografia como ferramenta de performance contínua

Não vejo a psicografia como uma tendência passageira, mas como uma consequência lógica da maturidade digital. À medida que os canais se saturam, os dados se democratizam e os produtos se tornam similares, o diferencial está na capacidade de leitura comportamental e ação precisa sobre ela.

É neste ponto que tenho concentrado minha atuação: transformar e-commerces em sistemas adaptativos, orientados por intenção e capazes de criar uma experiência que antecipa a necessidade antes mesmo do clique.