A expressão “pensar global e agir local” nunca esteve tão clara para mim desde o tempo em que a ouvi pela primeira vez, em meados dos anos 90, quando o mundo discutia que mudanças viriam com a globalização.
A internet já estava a toda. A sensação de euforia em relação ao futuro digital era alta e o futuro brilhante. O clima era outro e a comunicação também, mas a ideia de pensar global e agir local já estava ali como base para o futuro.
Hoje, mais do que nunca, esse é o caminho… Pensar globalmente e agir localmente. A pandemia do Covid-19 trouxe, além de muitos questionamentos, uma mudança abrupta, um colapso no formato de trabalho, de consumo e desejos de todos nós. Depois de uma revisão dos valores de consumo e excessos da sociedade, teremos inevitavelmente uma nova visão sobre o mundo e sobre o futuro. A pandemia irá acelerar tendências que já estavam rondando o estilo de vida, de oferta e procura de produtos e a maneira como vivemos e convivemos uns com os outros, nossas prioridades e o que realmente valorizamos.
Lições do coronavírus
O livro “Devagar”, de Carl Honoré, lançado em 2005 (e já em sua oitava edição), fala sobre isso. Sobre a desaceleração da vida, modelos de negócios repensados para uma nova realidade que já era iminente… Afinal, convenhamos, o estilo de vida que estávamos levando não era sustentável. O impacto do surto está nos forçando a desacelerar de fato. E desse momento difícil e sem precedentes, tiraremos grande lições — ou pelo menos assim esperamos.
As tendências que serão “aceleradas” visam justamente o oposto: a desaceleração das coisas. Entre tais tendências estão a junção definitiva do mundo online com o offline — que, para muitas empresas, está acontecendo agora, no meio da crise, com a necessidade dos negócios se transformarem o quanto antes para sobreviver. O apoio aos pequenos empreendedores e aos negócios locais como prioridade também está na linha de aceleração, assim como o consumo consciente de comida e roupas (veja aqui mais sobre tendência recommerce), e a comunicação por vídeo e lives.
Digitalização forçada
O consumo de produtos para bem estar e a valorização do tempo como bem precioso também farão com que e-commerces e vendas online em geral tenham o seu grande momento de consolidação no Brasil — nesse sentido, o resto do mundo em geral está bem mais a frente e já tem o e-commerce como serviço trivial. A realidade é que a mudança não tem volta. Para que empresas e marcas sobrevivam, o canal online terá de ser uma realidade para os negócios… A transformação digital será forçada.
As empresas e marcas terão que tratar, de uma vez por todas, os consumidores como indivíduos, humanizando o negócio, e não mais como números ou relatórios. E nesse sentido pequenos empreendedores tem vantagens pela agilidade em meio às mudanças. Para sobreviver, marcas de moda, por exemplo, não poderão mais se basear somente em vendas. Extensões de negócios terão que ser pensados e aplicados, como a oferta de outros serviços atrelados à marca, e não apenas a roupa pela roupa.
Serviços estendidos como consultoria de estilo, reparo de roupas, opções de peças de recommerce, entre outras ideias e conceitos, serão o caminho para este novo momento que já estamos vivendo. O conteúdo em redes sociais — que hoje já é um conversor de vendas e que vem sendo trabalhado como diretriz para marcas se destacarem no mundo virtual — será responsável por grande parte do faturamento das lojas online. As marcas precisarão se posicionar (valores e missão) e trabalhar novos formatos urgentemente.
Muitas inovações surgirão desse trabalho de repensar o consumo de forma sustentável. O tempo virou, tudo mudou. Entramos em uma quarentena de consumo e temos agora uma página em branco para um novo começo, um novo momento do mundo digital. O impacto do coronavírus será também cultural e afetará de forma profunda as relações humanas, a comunicação, nossas prioridades, os serviços e a produção industrial. Daqui teremos saltos de tecnologia e um mundo diferente… E que seja para melhor!