O e-commerce no Brasil tem cerca de duas décadas e acompanhou a evolução da internet no país. Com a pandemia do coronavírus, o e-commerce brasileiro cresceu muito no primeiro semestre de 2020, atingindo patamares nunca antes vistos nesses últimos vinte anos. Segundo pesquisa da Ebit/Nielsen, o faturamento com as vendas online subiu 47% nos primeiros seis meses do ano, totalizando 38,8 bilhões de reais… E continua em expansão.
Os consumidores, cada vez mais digitalizados, entenderam e gostaram da praticidade e comodidade de comprar pela internet — e estão cada vez mais interessados em experiências digitais. Muitos deles entraram no mundo virtual recentemente. Tendências que estavam por vir se aceleraram, como a digitalização (que acabou sendo “forçada”) de empresas e serviços.
No mundo da moda, por exemplo, scanner corporal (pelas câmeras do celular e computadores) para criação de peças especiais estão vindo por aí… E, com isso, a experiência de comprar peças exclusivas terá um grande espaço em um futuro próximo.
Existem vários pontos importantes para que uma loja virtual tenha sucesso no mercado. Entre eles, um layout bem construído pensando na usabilidade do site; um mix de produtos que faça sentido para o público alvo da loja; ofertas; segurança da informação; bom atendimento e entrega rápida (se possível frete grátis)… Tudo para garantir a conversão de vendas.
A lógica do mercado digital segue a de uma compra em um shopping ou uma loja física comum — onde o cliente entra na loja, escolhe o produto, paga e leva na hora. Ah, e talvez pague um estacionamento por conveniência. Esta lógica de compra e entrega na hora — ou com poucas horas ou dias de espera — é um diferencial em lojas virtuais. Aliás, é um objetivo constante para a maioria dos empreendedores: entrega rápida e eficiente.
No mundo pós-pandemia, depois de tudo o que estamos vivendo, será mesmo a rapidez um ponto decisivo para uma compra em uma loja virtual? No mercado de moda por exemplo, o fast fashion — que já tem seus dias contados há alguns anos — ainda terá espaço em um futuro próximo? Será que teremos uma mudança de pensamento em relação ao tempo e o valor das coisas? Acredito que sim.
Entre tendências e inovações que estão aparecendo no mercado, a tendência “Alfaiate Digital”, por exemplo, é uma das apostas para uma nova forma de consumo de moda online em todo o mundo. Nesse caso, prioriza a qualidade e valoriza o tempo de produção do produto. No exterior, a americana Proper Cloth oferece o serviço de confecção de roupas masculinas sob medida através de encomendas online.
No site, o cliente indica suas medidas, detalhes sobre seu corpo e suas preferências de estilo, para, assim, finalizar sua compra/encomenda. A também americana Pick a Shirt acompanha esta tendência e é especialista em camisas masculinas. É possível escolher pelo site o estilo de corte da camisa, o tecido, estilo de gola, de punho e acabamentos para finalizar seu pedido, que será produzido especialmente para o cliente — e isso leva tempo.
No Brasil, o publicitário e consultor em inovação de empresas de moda, Cairê Moreira, da start-up Genys, criou um scanner scanner corporal. A partir das medidas escaneadas pelo sistema, um molde especial é criado para a produção de peças de roupa seguindo exatamente as medidas e proporções de cada cliente.
Dentro da diversidade de corpos brasileiros, os tamanhos P, M, G não fazem tanto sentido no mercado. Portanto, essa é uma das soluções para um consumo personalizado e digital, atendendo às necessidades de cada corpo.
Seguindo este pensamento, a estilista Julia Pak lançou recentemente a Mel by Julia Pak, e-commerce brasileiro de moda feminina sob medida. A marca convida as mulheres a olharem para si mesmas, a se reconectar com seus corpos, tirar suas medidas e encomendar peças feitas exclusivamente para elas. A loja oferece a experiência totalmente sob medida, com croquis de cada peça e vídeos didáticos sobre como tirar suas próprias medidas.
Também trabalha com a opção de compra por grade, uma extensa gama de tamanhos, de 34 à 60 — todas as peças são confeccionadas no velho estilo corte e costura de antigamente. A marca pede 15 dias para a criação e envio da peça. Ou seja, depois de duas semanas de confecção a peça será despachada, e só neste momento será contabilizado o tempo de entrega na residência da cliente.
Valorizar o tempo das coisas é uma tendência que já estava em vista
Com o que passamos com a pandemia, essa tendência vai começar a se tornar uma realidade. Acredito que o mundo digital traz oportunidades imensas de inovação nesse sentido, a rapidez do online versus o tempo físico das coisas abre portas para novos pensamentos.
No mercado de moda esta tendência tem um nome: “slow fashion”. É exatamente o oposto do famoso “fast fashion”, em voga há tantos anos. Hoje, a rapidez e curto prazo são muito valorizados e têm o seu lugar. Porém, é hora de abrirmos espaço para novos formatos e experiências digitais cada vez mais humanas. Sinal dos novos tempos?