Cada vez mais presente nas organizações, a busca por transformação motivada pela necessidade adequação aos novos tempos, tem trazido à pauta assuntos que invariavelmente tocam de alguma forma na cultura da empresa. Nesse processo costuma-se dedicar muitos investimentos, sejam financeiros ou de tempo. Tudo em prol de entender os caminhos que possam levar a tal mudança amparada por uma cultura organizacional sólida.
Não pretendo minimizar o quão complicado são os esforços necessários acerca do assunto. No entanto, percebo muitas vezes uma energia enorme em buscar os pontos de mudança, adaptação e disrupção internamente, desenhando processos e modelos de relação com o mercado. Não raramente, com as “cabeças” que definiram o atual modus operandi. Vou provocar um pensamento sob outra ótica. Se entendo que tal mudança se faz necessária, pois são outros tempos e outros hábitos, me parece bem racional que ao invés de uma grande mesa de reuniões para definir caminhos, um contato maior com o público seja interno (colaboradores) e externo (clientes) possa e talvez seja um ótimo ponto de partida.
Por mais óbvio que isso pareça, talvez o principal ponto de mudança seja o de buscar caminhos alternativos para as perguntas — ao invés de respostas diferentes dos mesmos tomadores de decisão que nos trouxeram até aqui. Perguntar internamente sobre estratégia de aumento de vendas, por exemplo, pode nos trazer propostas do tipo “aumento do time comercial” (ou ainda “aumento de verba de mídia”). Já uma observação — sustentada por dados — junto ao mercado pode ter como resposta novos canais de comercialização, que tal produto se encaixa melhor para determinado segmento de pessoas ou ainda região.
Cada vez mais, e por vezes espontaneamente, temos acesso a feedbacks de consumidores, sejam eles positivos ou negativos. Estar atento a eles e ter um modelo de ação e atuação é o que nos tornará mais competitivos e próximos desse público. E, preparando ações da porta para fora, provavelmente surgirão oportunidades da porta para dentro. Uma vez que como clientes falamos mais, nas empresas que trabalhamos apenas mudamos o lado da mesa sem perder a essência e identidade. Se esta mesma relação com o cliente for implantada também com os colaboradores, corre-se o risco de uma mudança cultural orientada às pessoas e às relações. E, com isso, é muito provável que se reforce a autenticidade e genuinidade deste posicionamento.
Se focarmos que a mudança na cultura das organizações e nas relações é motivada pelas mudanças da sociedade com a qual a empresa está inserida, observar e entender tal movimentação nos dará insights e norteadores poderosos que auxiliarão nessa movimentação. Penso que quando esse modelo é percebido e naturalmente implantado por meio do pleno entendimento, as relações e valores gerados passam a ser ponto de partida e não ponto de chegada, permitindo de fato um posicionamento com as pessoas no centro.
Não quero ser repetitivo, mas convido a todos a olhar para fora e ver o que temos de oportunidade em atender e solucionar algo para nossos clientes e colaboradores. Devemos mudar um pouco a ótica, deixando não de lado, mas em segundo plano, o produto ou serviço. E, a partir disso, olhar com mais atenção os que o produzem, criam ou os utilizem. Fazendo isso com olhar crítico e observador, tenho certeza que os caminhos arduamente buscados para promoção da mudança e transformação talvez comecem a aparecer claramente em frente.
Fica então o desafio: menos suposição e mais observação como ponto de partida em nossas iniciativas de transformação. Afinal, a percepção da necessidade de mudar provavelmente esteja ligada a um fato. Portanto, que consigamos dar maior atenção ao fato sem sermos exclusivamente orientados pela vontade de mudar.