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Um problema de dados: uso de IA para organizar estoques B2B

Por: Onil Pereyra

CTO da Backchannel

Onil Pereyra é empreendedor e arquiteto de sistemas de IA. Bacharel em Engenharia Eletrônica, com MBA pelo INTEC, mestrado em Gestão de Projetos pela Université du Québec e especialização em inovação pela Wharton, co-fundou e escalou diversas startups de tecnologia. Antes de empreender, atuou em cargos de liderança técnica na Claro, Scotiabank e Fusemachines. Hoje, é CTO da BackChannel, marketplace B2B de inventário excedente da América Latina, onde aplica automação e inteligência artificial para transformar estoques parados em receita e promover eficiência na economia circular.

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No comércio B2B, a complexidade não está apenas em movimentar produtos, mas em entender exatamente o que se tem, onde está e como cada lote pode ser direcionado ao comprador certo. Estoques excedentes, dispersos entre centros de distribuição e diferentes sistemas internos, frequentemente escondem um ativo de alto valor, mas que só se torna líquido quando os dados são confiáveis e estão organizados.

uso de IA para organizar estoques B2B
(Imagem: reprodução)

Quando as negociações envolvem múltiplos intermediários e prazos apertados, a clareza sobre o estoque disponível pode definir o sucesso ou o fracasso de uma operação. A ausência de informações centralizadas gera incerteza e desacelera a tomada de decisão, impactando diretamente a velocidade de giro dos produtos e a capacidade de aproveitar oportunidades de mercado no momento certo.

Hoje, o desafio não é a falta de tecnologia, mas sim a falta de dados estruturados. A informação sobre um produto pode estar fragmentada: descrição incompleta no ERP, foto em um servidor local, nota fiscal em PDF, status de qualidade registrado manualmente. Nesse cenário, a inteligência artificial está deixando de ser promessa para se tornar ferramenta central de organização, padronização e uso estratégico das informações de estoque.

Do caos à inteligência: a personalização em escala

Sistemas de IA podem cruzar milhares de registros dispersos, identificar padrões e preencher lacunas automaticamente. Um lote de camisas, por exemplo, pode ter variações de cor e tamanho, entre outras especificações. Algoritmos treinados reconhecem e categorizam essas diferenças, enriquecem a base com atributos faltantes e sugerem padrões de nomenclatura que evitam duplicidade e ruído.

Com essa base de dados estruturada, é possível criar experiências personalizadas: conectar lotes específicos a compradores cujo perfil indica interesse naquele mix de produtos, precificar de forma dinâmica ou priorizar a venda de itens com maior risco de obsolescência.

Segurança, rastreabilidade e confiança

A IA também facilita a verificação de procedência, cruzando informações fiscais, datas de entrada e laudos de qualidade. Esse tipo de rastreabilidade não apenas reduz riscos de fraude ou venda indevida, como também aumenta a confiança entre empresas, fator decisivo no B2B, onde as transações são de alto valor e os relacionamentos são de longo prazo.

Eficiência que gera impacto

Organizar dados de estoque com IA não é apenas uma questão operacional. Trata-se de um vetor de eficiência que impacta sustentabilidade e margem. Quanto mais rápido e corretamente um lote é catalogado e direcionado, menor o risco de perda de valor ou descarte. Em setores como moda, cosméticos e eletrônicos, essa agilidade pode significar a diferença entre escoar mercadoria a um preço competitivo ou arcar com custos de armazenagem e descarte.

O próximo passo

O futuro da gestão de estoques B2B está na combinação de automação e inteligência. Plataformas que integram dados de diferentes fontes, enriquecem informações automaticamente e conectam oferta e demanda em tempo real serão a nova infraestrutura do comércio entre empresas. Mais do que movimentar produtos, será sobre movimentar dados de forma inteligente, porque, no B2B moderno, estoque organizado é sinônimo de novas oportunidades.