O Acordo Mercosul-União Europeia, concluído na última sexta-feira (6), promete alavancar o comércio entre os dois blocos e reposicionar os mercados europeus na pauta exportadora brasileira, com a eliminação progressiva de tarifas para 97% dos bens industriais e 77% dos produtos agrícolas do Mercosul ao longo de 10 anos. O anúncio encerra um processo de negociação que durou cerca de 25 anos.
Segundo a ApexBrasil, o Brasil poderá acessar mais de 1.800 novas oportunidades comerciais no curto prazo, em áreas como café, milho, suco de laranja, mel natural, calçados, móveis de madeira e aeronaves, o que pode incrementar as exportações em mais de US$ 7 bilhões nos próximos anos. O acordo abrange 25% da economia mundial e beneficia diretamente 780 milhões de pessoas, representando um marco na diplomacia brasileira, em grande parte impulsionado pelos esforços do presidente Lula, desde seu primeiro mandato.
Panorama atual e objetivos do acordo
A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na atualidade, com uma corrente de comércio superior a R$ 90 bilhões em 2023. No entanto, sua participação nas exportações brasileiras caiu de 23% em 2003 para 13,6% em 2023, devido ao aumento do comércio com a Ásia, especialmente a China. O acordo é visto como uma oportunidade de diversificar a pauta exportadora brasileira, historicamente concentrada em commodities como petróleo, café e soja, e agregar maior valor aos produtos vendidos ao bloco europeu.
Como já mencionado, as negociações para o acordo levaram 25 anos, com o texto final adotado em 2019. Segundo Aloysio Nunes, ex-chanceler e atual chefe de assuntos estratégicos da ApexBrasil em Bruxelas, o pacto transcende um simples tratado comercial, incluindo mecanismos de cooperação política em temas como meio ambiente, direitos humanos e governança global. Ele reafirma o compromisso brasileiro com o multilateralismo e inaugura um capítulo nas relações internacionais do país.
Além do impacto no comércio, o acordo é estratégico para atrair investimentos europeus. A União Europeia já é a maior fonte de investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil, com um estoque acumulado de US$ 497 bilhões em 2023, embora sua participação relativa tenha caído de 49% em 2019 para 38% em 2023. Ao impulsionar o comércio bilateral, o acordo também deve estimular uma retomada desses investimentos, fortalecendo os laços econômicos e políticos entre o Brasil e a União Europeia.