A Black Friday de 2025 chega em um cenário pouco favorável ao consumo: os juros estão no nível mais alto desde a popularização da data no Brasil, em 2010. Mesmo assim, as projeções mostram que o varejo digital deve registrar um desempenho histórico, com diferentes entidades apontando altas expressivas no faturamento.

A Neotrust estima um faturamento de R$ 11 bilhões entre quarta-feira, 26, e domingo, 30. O valor representa um avanço de 17% na comparação anual, com destaque para categorias como saúde, esporte e lazer, automotivo e beleza.
A Associação Brasileira de Inteligência Artificial de E-commerce (Abiacom) também projeta forte expansão. A entidade prevê R$ 13,34 bilhões movimentados durante a semana da Black Friday, alta de 14,74% sobre 2024, quando o e-commerce registrou R$ 11,63 bilhões em vendas.
Esses números chamam atenção porque esta será a edição com a taxa básica de juros mais alta da história da Black Friday no país. A Selic está em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006.
Ainda assim, o varejo online já movimentou R$ 29 bilhões entre 1º e 21 de novembro, um crescimento de 32% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de 2025, o setor avança 18%.
Consumidor mais racional e experiente
O desempenho positivo está diretamente ligado à mudança de comportamento do consumidor. Um levantamento do Instituto Locomotiva e QuestionPro, baseado em 1.500 entrevistas em todo o país, mostra que o brasileiro chega à Black Friday mais racional, planejado e experiente.
Oito em cada dez consumidores conhecem e já compraram na data. Entre eles, 72% monitoram preços antecipadamente e 75% pesquisam antes de fechar a compra. Além disso, 69% dão preferência a marcas que já conhecem.
Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, essa maturidade é resultado de experiência acumulada, não dos juros. Ele afirma que o consumidor está mais atento às variações de preço e menos suscetível a falsas promoções. “O dinheiro continua difícil de conquistar, e isso reforça o planejamento”, observa.
Os juros elevados seguem sendo o principal freio, especialmente quando há atraso nas parcelas ou estouro do orçamento. Ainda assim, quando o desconto é real, o consumidor considera o gasto justificável durante esse período, visto como uma “licença poética para consumir”.
A pesquisa também indica que roupas, acessórios e beleza lideram o desejo de compra. A preocupação com golpes faz crescer a busca por lojas com boa reputação, enquanto famílias com filhos e mulheres são as que mais usam a data para antecipar compras de Natal.
A Abiacom reforça que novembro se tornou um período estendido de ofertas, impulsionado por eventos como o 11/11. Esse movimento já aparece nos números do BTG Pactual: até 20 de novembro, o volume de vendas online cresceu 27% no mês, enquanto o faturamento avançou quase 40%.
Só no 11/11, o volume de pedidos online subiu 65% em relação ao ano passado, o que levanta dúvidas sobre possíveis impactos nas vendas de Natal e até na própria Black Friday.
Varejistas intensificam disputas
Com a expectativa de um evento histórico, as principais plataformas reforçaram estratégias para atrair consumidores e ganhar participação.
O Mercado Livre lançou R$ 100 milhões em cupons, frete grátis e parcelamento em até 24 vezes sem juros via Mercado Pago. A Amazon ampliou em 20% o portfólio internacional e aumentou os incentivos aos sellers.
A Shopee reforçou centros de distribuição e programas de fidelidade, enquanto a Shein diversificou categorias e reduziu comissões para atrair vendedores. Para analistas do BTG, essa disputa intensa tende a elevar volumes, mas pode pressionar margens das companhias.