default
Publicidade: default

Chegada da Meituan no país coloca em xeque a liderança do iFood no setor? Entenda

default
Por: Amanda Lucio

Jornalista e Repórter do E-Commerce Brasil

A Meituan, empresa chinesa considerada a maior do delivery no mundo, começou seus trâmites para entrar no mercado brasileiro até o final de 2025. Planejada há anos, a marca tem registro aqui desde 2020, quando os executivos começaram a sondar o mercado e avaliar a estrutura logística do Brasil. A chegada ameaça liderança do iFood no país, atualmente com mais de 80% de participação no mercado. Enquanto a líder global de entregas tem uma receita de US$ 46 bilhões e um GMV 12x maior que a concorrente.

default
Entregadores da Meituan (Imagem: TechNode/Shi Jiayi)

Fundada em 2010 por Wang Xin, a Meituan não atua apenas com delivery de comida, mas também em setores de turismo, mobilidade urbana e reserva de hotéis. Já o iFood, presente no Brasil desde 2012, é controlado pela holandesa Prosus, que recentemente adquiriu a Just Eat.

Setor ainda é concentrado

Não é a primeira vez que o mercado brasileiro chama atenção de gigantes estrangeiras, pois ano passado, a Doordash havia sinalizado interesse na aquisição do Rappi – o que não ocorreu por incompatibilidade na visão de valor dos ativos. Outro exemplo é o Mercado Livre, que no ano passado aumentou seu investimento no setor de supermercados e elevou seu faturamento em 77%.

Com um crescimento habilitado pela tecnologia, inclusão digital e mudanças no comportamento dos clientes, o delivery no país tem se transformando numa ferramenta facilitadora da rotina do dia a dia dos consumidores. Quando os estabelecimentos abraçaram a ideia, os gargalos da operação ‘analógica’ ficaram evidentes, sinalizando a necessidade de se modernizar.

“Antes, os consumidores estavam insatisfeitos de precisar ligar para fazer pedidos de entregas. Não conseguiam monitorar seus pedidos e o tempo de entrega; era complicado pagar; muitas vezes também não conseguiam falar com o estabelecimento, pois a linha de telefone ficava ocupada”, lembra Leandro Guissoni, professor da FGV e na Universidade da Virgínia.

O especialista destaca que a revolução do mercado de delivery aconteceu com o Decoupling, ou desacoplamento, um conceito originado na Harvard Business School que explica como startups disruptam mercados tradicionais.

Os apps digitalizaram o processo de delivery e permitiram a eliminação de atividades da cadeia de valor do cliente que eram consideradas ‘erosivas’, ou um ‘mal necessário’ para alguém pedir alimentos e bebidas, consumindo em casa. No entanto, Guissoni chama atenção para a crescente demanda de investimento para operar, crescer e sobreviver no setor, fazendo com que o mercado tenha poucos sobreviventes.

Ao observar o mercado brasileiro e algumas tentativas mal sucedidas, o professor destaca o caso do James Delivery, incorporado depois pelo GPA, a Glovo, startup espanhola de entregas que deixou o país em 2019, após tentar operar no país por um ano. Em seguida, em 2022, o Uber Eats também encerrou operação de delivery de alimentos no Brasil.

Desbancados pelo iFood e Rappi, esses aplicativos não ofereciam uma solução integrada com uma cesta abrangente de produtos. “O cliente quer conveniência e integração, ao invés de fazer compras em vários apps, a depender do restaurante ou estabelecimento que queira comprar. Isso levou a uma concentração de mercado que vemos atualmente”, ressalta.

Para competir no Brasil, “é preciso oferecer máxima conveniência ao cliente”, enfatiza Guissoni. Seja nas opções de produtos, marcas, restaurantes ou estabelecimentos comerciais.

A liderança será desafiada?

A entrada da Meituan pode acelerar as possibilidades dos super apps atuarem no Brasil, reflete o especialista. Ao desafiar o status quo do mercado, o país será impulsionado a iniciar o processo de orquestração de um conjunto de plataformas e ecossistemas, os ‘super apps‘, comuns no mercado chinês.

Fora do país, a atuação da Meituan oferta diversos serviços para o cliente, do delivery até a reserva de passagens e hotéis. Porém, “ainda é cedo para dizer se buscarão tamanha integração entre verticais e plataformas no Brasil”, adverte Guissoni.

Além disso, a Prosus, controladora do iFood, detém uma participação de 4% na Meituan. O que indica, de certa forma, o iFood como um pequeno acionista da concorrente. Em um mercado ainda concentrado, o professor comenta “imagino que haverá sobreposições, porém, haverá possibilidades de coexistência entre eles. Isto é, os benefícios aos consumidores, restaurantes e entregadores diante de um aumento de competição, podem ser apenas circunstanciais”.

Delivery mais digitalizado

Responsável pelo aumento do consumo no primeiro semestre de 2024, o setor de entregas ainda tem um longo caminho de investimento tecnológico. Mesmo com sinalização da chegada ao país, “ainda é cedo para sabermos como a empresa vai entrar e atuar”, salienta o Guissoni.

Se a Meituan vai desbancar o iFood ou não, é impossível afirmar, mas a chegada de uma grande concorrente desperta reflexões sobre o futuro do mercado. Para o especialista, “a expertise da gigante chinesa no uso de dados, analytics e integração de ecossistemas e plataformas podem promover a cultura do super app“.

“Caso isso ocorra, teremos uma digitalização mais acelerada do setor, tanto para os consumidores (B2C), como para as empresas que podem se beneficiar de estarem conectadas neste ecossistema digital (B2B)”, completa.

Publicidade: default