Supermercado a um clique de distância: o crescimento do e-grocery
Quantas vezes você já ouviu a frase da boca de um varejista: "E-commerce só serve para roubar o cliente da minha loja"? Quando o assunto era supermercado então, aparentava um senso comum de que a experiência de compra online jamais superaria as facilidades de escolha de produtos e rápido acesso dos pontos físicos. Por mais que o omnichannel tenha ganhado grande destaque nos últimos dez anos, o setor de alimentos e bebidas, também conhecido como grocery, resistia em adentrar no comércio eletrônico. Passado. O setor foi um dos que mais cresceram no varejo online nos últimos meses e, impulsionado pela pandemia do novo coronavírus, ganhou força até em marketplaces, como Magazine Luiza e Mercado Livre. O e-grocery veio para ficar! Desde o pão do café da tarde pedido pelo aplicativo, as verduras para a salada do almoço ou a guloseima da sobremesa, tudo passou a ser comercializado online. Dizer que a pandemia foi a principal responsável pela entrada de alimentos e bebidas no e-commerce é exagero, mas garantiu a aceleração do processo. "Alimentos e bebidas sempre foram vistos como as últimas barreiras para o e-commerce entrar. O consumidor é mais desconfiado na escolha de uma fruta, por exemplo. Não é simples confiar que um shopper vai selecionar o produto no ponto que você quer. A pandemia obrigou esse consumidor a pensar de outro modo, mas nada daria certo se a experiência não tivesse sido boa como foi. É o que mostram as pesquisas", explicou a diretora de canais e e-commerce da Unilever, Juliana Carsoni, durante webinar promovido pela S/A Varejo. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (AbComm), compras em supermercados online chegaram a registrar aumento de 180% desde março, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o Brasil como um dos países afetados pela Covid-19. A Ebit|Nielsen revelou que dobrou o número de consumidores de e-grocery, mesmo sendo um setor considerado essencial e que, portanto, não precisou fechar as portas durante a pandemia. Leia também: Como os supermercados podem ganhar dinheiro com o e-commerce? A explicação, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), está relacionada ao temor de sair de casa. “Tivemos uma mudança rápida no hábito de consumo da população, que tem priorizado a alimentação dentro do lar. O segmento está se preparando com o aumento dos estoques e ampliando seus centros de distribuição para atender à demanda do delivery”, disse em nota. Na 42ª edição do Webshoppers, pesquisa semestral realizada pela Nielsen em parceria com a Elo, os números mostram que os aplicativos de supermercados foram os que apresentaram maior entrada de shoppers desde março, registrando 14% de novos entrantes em cinco meses. Até mesmo players de sucesso abriram os olhos para o setor. Maior marketplace da América Latina, o Mercado Livre iniciou as operações de supermercados em abril e, em setembro, já registrou uma base superior a 30 mil SKUs. "A gente já tinha uma base e de repente ficamos com número superior a um grande hipermercado. Já atingimos 3,5 milhões de usuários só em supermercados. Tudo isso comprando online. É uma mudança de comportamento definitiva, já que muito provavelmente esses consumidores passaram a ser usuários híbridos", avalia Julia Rueff, diretora de marketplace do Mercado Livre no Brasil. A entrada do Mercado Livre no e-grocery, inclusive, causou um grande boom no setor. O marketplace entrega os produtos de supermercados em até 24 horas nas seis principais praças do país, e em 80% do Brasil as entregas são feitas em no máximo 48 horas, números inferiores apenas aos praticados pelos aplicativos de delivery. A ideia de que o e-grocery veio para ficar já é vista até mesmo por grandes redes de supermercados físicos. Ainda que o faturamento no online ainda não alcance nem 10% do total, esses varejistas já perceberam que a compra online é um caminho cada vez mais atrativo para o consumidor. "A venda online que, para nós, era uma realidade, se tornou prioridade. Muitos ainda entendem a venda online como uma concorrência para a loja física, mas acreditamos que devemos ao cliente, diferente de um ponto de venda, um momento de experiência. Como será daqui para frente? Ainda não sabemos. Mas o digital agora é um hábito de consumo do nosso cliente, este sim, sem volta", defende a analista de Marketing Digital do Grupo Super Nosso, Ana Luiza Horta. A rede, especializada em supermercados gourmet em Minas Gerais, implementou novos métodos omnichannel, como o Clique e Retire e o Ship From Store, além de ampliar suas vendas para aplicativos (Cornershop, iFood e Rappi). A rede Smart Supermercados, com muita força no Triângulo Mineiro, implementou o e-commerce no ano passado, mas só conseguiu perceber um grande aumento a partir deste ano. A experiência serviu para que esses varejistas entendessem a necessidade de união das lojas físicas e online, como explica o controller de Novos Negócios, Leandro Alves. "Um grande aprendizado é que o físico e o online se complementam. Muitas das vezes, o online é o responsável por uma compra mais planejada e com itens de abastecimento/alta frequência, e o físico para uma compra ‘mais prazerosa’. Sem dúvida o atendimento não presencial formou um pilar de sustentação e segurança para esse momento de distanciamento. Ainda que as lojas estejam abertas, vários consumidores preferem permanecer em casa e, para essas compras essenciais, o atendimento online é a opção viável".
Comentários