Uma das propostas do E-Commerce Brasil é fomentar conhecimento de alto nível técnico focado em comércio eletrônico para os lojistas brasileiros. Pensando em disseminar esse conhecimento, surgiram os eventos regionais, com conteúdos focados nas particularidades de alguns estados brasileiros.
Durante a Conferência E-Commerce Brasil Rio de Janeiro – Encontro de Líderes, Marcelo Osanai, Head de E-Commerce da NielsenIQ EBIT, falou sobre as principais tendências e oportunidades de vendas online para o Rio de Janeiro em comparação ao cenário do país.
Experiência própria
“Desde o começo da pandemia, adotei um estilo mais minimalista de consumir menos”, explicou o executivo, que optou por reduzir as compras às necessidades em 2020 e 2021.
Porém, com a retomada do convívio social em 2022, surgiu a vontade de dar uma repaginada no estilo e no guarda-roupa que fizeram tanto o palestrante quanto muitos brasileiros de volta às lojas. Apesar de trabalhar com o universo de e-commerce, Osanai ficou receoso de comprar roupas online, justamente pelo estigma de não ter elas a disposição para experimentá-las. No fim das contas, as compras foram feitas online mesmo, pois, de 2020 para cá, muitas marcas aprimoraram suas estratégias para entregar propostas diferenciadas e com uma experiência digital mais fluida.
Lojas de nicho, lojas de departamento e até marketplaces entraram nas listas de preferência de Osanai, o que mostra que tanto grandes quanto pequenos varejistas da moda conseguiram abraçar a experiência positiva ao eliminar barreiras, entre elas, a distância. Isso porque cada uma das lojas que Osanai consumiu entrega de um ponto diferente do Brasil, com estruturas logísticas específicas: “o e-commerce elimina barreiras geográficas”, defende o executivo.
Dados do e-commerce no Brasil
De acordo com dados do 46º Webshopper, o e-commerce no Brasil atingiu a marca de 118,6 bilhões de vendas no primeiro semestre de 2022, crescimento de 6% em relação ao semestre anterior.
Segundo Osanai, o crescimento menos expressivo do semestre não quer dizer uma redução ou uma retração do e-commerce, mas sim uma estabilidade maior do setor depois de um crescimento muito grande, além de estarmos em um momento de consolidação de canais, com maior maturidade do setor.
“Além disso, precisamos considerar o cenário econômico e social do Brasil”, completa o executivo.
Neste primeiro semestre, o destaque do setor vai para os meses de janeiro a março, que apresentaram crescimento acentuado, seguidos de uma leve retração entre abril e maio.
Já com relação ao número de consumidores, de 2021 para cá o e-commerce conquistou 48,8 milhões de novos consumidores, um amento de 18%.
Osanai comemora o crescimento, mas frisa que é importante trazer mais consumidores para dentro do universo digital: “o propósito do e-commerce não é fazer as pessoas comprarem mais, mas também alcançar o maior número possível de pessoas”.
Nova realidade de vendas
Com as constantes mudanças, o e-commerce vê também uma mudança gradativas do comportamentos de compra. O levantamento realizado pela Nielsen mostra que a maior parte das vendas online são realizadas durante os dias da semana (com destaque de terça-feira a sábado).
Depois da pandemia, inclusive, muitos consumidores passaram a mesclar as compras físicas com as digitais: “hoje o consumidor é bombardeado de opções, o e-commerce é apenas uma delas, então a execução do e-commerce precisa ser rigorosa”.
Outro fator de destaque para o primeiro semestre de 2022 é que o consumidor está mais consciente com os gastos e segurando mais o dinheiro que sai do bolso, o que levou a uma redução do ticket médio. A diversificação do catálogo de produtos disponíveis online também explica porque a média das compras está mais barata, já que muitas categorias apresentam produtos também mais baratos.
Categorias
Um dos destaques para os dados observados foi a categoria de Alimentos e Bebidas, que cresceu significativamente durante a pandemia e continua apresentando relevância para o digital. Além do investimento, a categoria tem um giro grande e uma demanda constante.
Enquanto isso, as categorias mais tradicionais, como Eletrônicos e Eletrodomésticos, tiveram crescimento mais modesto, considerando que o ticket médio delas é mais alto e que já são mercados que vendem bem, com menor espaço para crescimento em um momento de inflação. Apesar disso, Eletrodomésticos e Telefonia são as duas categorias que mais concentram vendas no e-commerce.
Os dados do Webshoppers mostram que as categorias de alto giro, nem sempre as tradicionais, tem apresentado crescimento das vendas.
Frete grátis
Para Osanai, o frete grátis é um grande divisor de águas no e-commerce, com a função de possibilitar o consumo para muitas pessoas e incentivar o consumidor que precisa de um incentivo para fechar a compra.
Novamente, o destaque é para Alimentos e Bebidas, que teve o maior crescimento de ofertas de entregas gratuitas em comparação ao ano passado. No primeiro semestre de 2022, as vendas do setor com frete grátis no e-commerce chegaram a 72%.
Nem sempre é possível oferecer o frete grátis, mas os dados mostram que há uma retração no valor dos que são pagos com relação ao mesmo período de 2021, o que pode significar maior maturidade dos lojistas e melhora das estruturas logísticas.
Mobile
Por mais incrível que pareça, houve retração pelas vendas do mobile, mas é importante olhar para cada categoria de maneira específica, pois pode haver divergências de acordo com os consumidores de cada segmento ou da usabilidade dos sites e aplicativos.
Perfil dos novos consumidores
“O e-commerce não é um canal só para a classe média e classe alta, ele alcança cada vez mais públicos e de diferentes idades”, defende Osanai. Entre os fatores que influenciam na amplitude dos perfis consumidores no e-commerce está a disseminação de formas de comprar mais acessíveis mas também na maior quantidade de produtos disponíveis.
Outro ponto importante de se destacar é que há um aumento das vendas para pessoas mais velhas, antes segregadas das vendas online.
Região Sudeste e o destaque do Rio de Janeiro
Ao analisar as regiões de acordo com o número de vendas, a Sudeste continua como mais importante, mas ao mesmo tempo a que menos cresce, pois concentra 61% do consumo do e-commerce brasileiro.
Porém, o executivo explica que “não existe uma fotografia única no e-commerce” e que mesmo dentro da região existem diversas particularidades que diferenciam um estado do outro.
Pois por mais que o crescimento da região tenha sido de apenas 1% no semestre, diversas categorias apresentaram crescimento expressivo que segmentam esse aumento de maneira bastante expressiva para os lojistas. Além disso, o estado Rio de Janeiro cresceu 7% (R$ 15,3 bilhões em vendas) em comparação ao 1% da região Sudeste.
O aumento do número de vendas veio acompanhado também do aumento do número de pedidos: 26,1 milhões de pedidos, crescimento de 13%.
Diferente do que foi observado como um todo no Brasil, o estado apresentou uma retomada interessante das vendas online a partir de junho, com crescimento de vendas e valores.
Mesmo no Rio, as categorias mais importantes continuam sendo Eletrodomésticos e Telefonia, mas Perfumaria foi a que apresentou maior crescimento no período. Osanai justifica com o valor e giro dos produtos.
Copa do Mundo e Black Friday
Por fim, o palestrante foi questionado sobre quais conselhos poderia dar para os lojistas da região com relação a aproximação da Copa do Mundo, que coincidirá com as vendas da Black Friday. Para ele, por maior que seja o desafio, a junção dos eventos apresenta uma oportunidade única de vendas para o digital, justamente por gerar uma ocasião de consumo bastante específica.
“Exige uma execução específica e estratégica, mas pode gerar resultados expressivos para o e-commerce”, ele finaliza.