O e-commerce vem se consolidando como um espaço capaz de ampliar o acesso a nichos que antes enfrentavam barreiras culturais e sociais. No mercado de sex shops, a digitalização trouxe conveniência e discrição, permitindo que consumidores explorassem novos produtos ligados à sexualidade. Ainda assim, essa expansão não tem sido suficiente para mudar a lógica que rege o setor. Para Marcela McGowan, médica, influenciadora e fundadora da sextech Magix, o comércio erótico continua sendo marcado por uma comunicação centrada no prazer masculino e pela invisibilidade da sexualidade feminina.

Ao falar sobre sua trajetória no setor de sexual care, a influenciadora foi enfática: o principal desafio para marcas desse segmento é vencer a barreira do tabu. Segundo ela, a sociedade ainda tende a associar sexo a algo banal, chocante ou restrito a ambientes secretos, o que dificulta o consumo consciente e saudável.
“O nosso maior desafio foi educar o público para entender que saúde e sexo andam juntos. Trabalhamos para mostrar que produtos ligados à sexualidade podem ser encarados com naturalidade e como parte do cuidado com o corpo”, afirmou.

Um mercado voltado aos homens (e o vazio deixado para as mulheres)
Ao identificar a oportunidade de empreender, Marcela percebeu que o mercado erótico no Brasil já era amplo, mas mal direcionado. A comunicação predominante, explica, era voltada para homens e para um consumo marcado pelo sigilo.
“Minha preocupação foi transformar esse espaço em um lugar onde as mulheres se sentissem acolhidas para comprar, receber em casa e entender que o prazer delas é legítimo. Mais do que encontrar produtos, nós encontramos um nicho: mulheres que queriam falar sobre sua sexualidade e não tinham esse espaço”, disse.
Da prática clínica à construção de uma sextech
Ginecologista e sexóloga, McGowan lembra que sua percepção sobre a carência do setor não surgiu apenas da observação social, mas também da vivência clínica com pacientes. Esse olhar profissional ajudou a embasar o modelo de negócios da Magix.
“Desde o início da minha carreira, entendi que esse era um mercado com um gap enorme de comunicação, de informação e de produto. Tudo que está na Magix vem de anos de estudo e da escuta das mulheres em consultório. Isso nos permite comunicar a sexualidade feminina a partir de uma perspectiva de saúde e não apenas de erotização”, explicou.
E-commerce como ambiente de acolhimento
A fundadora da Magix ressalta que o e-commerce é decisivo para impulsionar esse mercado. Além de facilitar o acesso, a compra online garante privacidade, fator essencial para superar barreiras culturais. Nesse contexto, a Magix vem se consolidando não apenas como uma loja, mas como uma comunidade.
“Trabalhamos para que cada vez mais sejamos um espaço de acolhimento, onde as mulheres se sintam seguras para experimentar seu prazer. A ideia é criar uma comunidade que ofereça informação, confiança e pertencimento”, afirmou.
Oportunidade para marcas e impacto social
O avanço do setor de sexualidade no e-commerce brasileiro ainda depende de inovação em comunicação e de um reposicionamento das marcas. Para McGowan, empresas que conseguirem romper com a lógica da invisibilidade feminina não apenas terão vantagem competitiva, mas também contribuirão para mudanças culturais relevantes.
“Quando uma mulher entende que tem direito ao próprio prazer, isso transforma sua relação consigo mesma e com o mundo. As empresas que perceberem esse potencial estarão à frente de um mercado que, além de promissor, tem poder de impacto social”, concluiu.