O ano de 2020 ainda carrega marcas causadas pela pandemia de Covid-19, sobretudo na economia mundial. Alguns setores voltam a se recuperar, mas o caminho ainda não será fácil em 2022, apostou Patrícia Palermo, economista e professora universitária no primeiro dia do Congresso E-Commerce Brasil — RS, na terça-feira (7) em Porto Alegre.
“O movimento de perda e tração da economia está acontecendo no mundo todo. Em 2022, o mundo vai crescer mais devagar. Os EUA continuam fortes, mas a China está passando por um processo de desaceleração bem relevante. O mundo vive as sequelas da pandemia: desequilíbrio entre recuperação da demanda e capacidade de atendimento da oferta, aumento do preço dos fretes e interrupções nas cadeias produtivas”, conta Palermo.
Segundo a economista, houve grande restrição de produção no mundo e, com o isolamento social para conter o avanço da pandemia, recebemos em casa muito estímulo fiscal e monetário. “Com mais renda para as pessoas e restrição na cadeia produtiva, elas demandam mais bens, então começou a faltar insumos. Hoje, 12,5% de toda a capacidade de carregamento de contêineres no mundo está parada em algum congestionamento marítimo. E o resultado disso é a inflação”.
A crise energética também foi um fator que influenciou a inflação, em diversas partes do planeta: crise hídrica no Brasil, falta de gás na Europa e de carvão na China.
Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e menos internações, aumentou a flexibilidade e as pessoas voltaram a se movimentar mais, o que influencia nas atividades econômicas.
Entraves na economia
De acordo com Palermo, antes da pandemia, as vendas em canais digitais correspondiam a 9,2% do faturamento dos varejistas. Em junho deste ano, o índice era de 21,2%. E entre os segmentos que mais se destacaram, está o de material de construção. “Este ano, os fechamentos ficaram mais restritos por tempos menores e estávamos mais adaptados. Por isso, a atividade econômica foi menos afetada. Porém, a expectativa de crescimento para o ano que vem é 0,51%”.
“A inflação trava a economia porque, com o orçamento apertado, as pessoas fazem escolhas. O e-commerce aparece como poupança de tempo e dinheiro. A preferência por preço ganha em relação às outras coisas. Com o transporte mais caro, o ‘entregar em casa’ não é só conveniência, mas é mais barato na organização do orçamento”, explica Palermo.
A inflação prejudica os consumidores de baixa renda de forma desproporcional, em relação aos consumidores com maior poder aquisitivo, segundo a economista. “As pessoas me perguntam como vai ser o Natal. Eu respondo que depende de para quem você vende. Quem consegue vender para as classes média e alta continua vendendo. Mas quem vende para classes com renda mais baixa vai retroceder e muito”, afirma.
Ainda segundo a economista, para vender para essa parcela do público, será necessário aumentar o escopo e eficiência nas vendas, e conhecer melhor o cliente e ser mais assertivo. “As classes de renda mais baixa não só não voltaram para o mesmo nível de confiança do pré-pandemia como estão com níveis de confiança bastante baixos”, completa.
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Por Dinalva Fernandes, da redação do E-Commerce Brasil