Um estudo realizado por técnicos do Sistema de Informações das Estatais (Siest), do Ministério da Economia, soluciona um dos principais impasses dos Correios, que tem sido objeto de inquietações no mercado. A estatal caminha para um processo de privatização, com a quebra do monopólio do serviço postal e a modernização do setor.
A análise da Siest mostra que o passivo dos Correios chega a R$ 14 bilhões. Quase a metade da dívida corresponde a pendências financeiras com o fundo de pensão dos funcionários, o Postalis, e o plano de saúde da empresa.
Obrigações sociais e trabalhistas respondem por cerca de 17% do passivo. Outros 7% são compostos de dívidas com fornecedores, segundo o Siest.
O estudo também examinou o ativo da estatal e outros indicadores financeiros e econômicos importantes, como a liquidez, que teve uma piora entre 2017 e 2019, ficando abaixo de 1 nesse período. Outro indicador analisado foi o custo da atividade, que no ano passado consumiu mais de 85% da receita líquida. Em outras palavras, os Correios estão utilizando a maior parte do faturamento para pagar suas contas.
Segundo reportagem da Exame, não há somente más notícias. Em 2019, houve um lucro líquido de R$ 102 milhões. Foi o terceiro ano de lucros, após quatro de prejuízos. Mesmo assim, não foi suficiente para equacionar o equilíbrio financeiro da estatal.
“Nos exercícios de 2018 e 2019, a empresa contratou operações de crédito de R$ 750 milhões, recebeu aportes do Tesouro (R$ 224 milhões), e consumiu aplicações financeiras para a manutenção de suas atividades operacionais e para realizar investimentos”, aponta o relatório.
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Desestatização dos Correios
De acordo com a ressalva do auditor independente do balanço de 2019, foi identificada uma incerteza sobre a continuidade das operações dos Correios. Na prática, isso quer dizer que a estatal corre o risco de se tornar dependente do Tesouro. Quando isso acontece, os custos da empresa são pagos pela União. Esses gastos incidem sobre as despesas discricionárias do governo.
No entanto, a estatal não está de braços cruzados. Um plano de demissão voluntária reduziu em 11 mil o quadro de funcionários, hoje de 95 mil pessoas, para enxugar os custos. A estatal também fechou 161 agências no ano passado.
Já foi dado início ao processo de desestatização da empresa. No dia 10, o projeto de lei que acaba com o monopólio dos Correios sobre o serviço postal foi enviado para apreciação da Secretaria-Geral da Presidência da República e Casa Civil. A expectativa é que seja enviado ainda neste ano para o Congresso.
O consórcio contratado pelo BNDES para propor modelos de desestatização dos Correios e sua precificação segue trabalhando. A intenção é que esses estudos sejam finalizados, depois de rodadas de conversas com o governo e o mercado, até o final do ano que vem. Depois disso, será lançado o edital referente à desestatização.
A privatização conta com o apoio de boa parte da sociedade. Uma pesquisa EXAME/IDEIA realizada com 1.235 pessoas entre os dias 24 e 31 de agosto mostrou que 40% dos brasileiros apoiam a venda dos Correios — percentual muito superior em relação aos que apoiam a venda da Petrobras, 28%, ou da Caixa, 22%.
As queixas dos consumidores em relação ao serviço prestado pela estatal aumentaram neste ano. Somente nos primeiros 14 dias de setembro, a Fundação Procon-SP registrou 756 reclamações contra os Correios. No mesmo mês no ano passado, foram 132, um aumento de 472%. O principal motivo é o não fornecimento do serviço em razão da última greve, que durou 35 dias.
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Fonte: Exame