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Proptechs aproveitam revolução tecnológica no mercado imobiliário para eliminar a burocracia e potencializar acordos

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado digital desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Negociações totalmente digitais e remotas criam facilidades para inquilinos, corretores e proprietários e impulsionam negociações nos últimos anos

Comprar ou alugar um imóvel é um grande passo na vida de qualquer pessoa. Uma etapa marcante que até um passado recente esbarrava em uma grande burocracia e processos antiquados, que atrapalhavam essa experiência.

E essas dificuldades já apareciam no processo de pesquisa, que passava pela pessoa ter de visitar uma imobiliária e o imóvel em si, encaixar o horário em sua agenda, que nem sempre era flexível.

O futuro inquilino ainda podia se deparar com fotos enganosas e uma infinidade de documentos a serem preenchidos, caso fosse, enfim, concluída a negociação. Porém, o surgimento das Proptechs e a ida do mercado imobiliário para o digital, remodelou completamente o processo.

Dentro desta nova realidade, no final de 2012, chegou ao mercado brasileiro o Quinto Andar, startup que revolucionou o mercado imobiliário e a forma de se pensar nele. Sem sair da tela do computador ou do celular, o cliente consegue visitar, negociar e até mesmo assinar o contrato de locação, compra ou venda de um imóvel, concluindo a negociação de forma totalmente digital, eliminando os processos antigos.

Desburocratização

Na visão de Thais Galli, VP de Marketplace da empresa, foi a desburocratização do processo de negociação dos imóveis que impulsionou a empresa e conquistou rapidamente a confiança dos clientes, que viram logo de cara, a partir de 2014, mudanças significativas nos processos de negociação.

“Ao invés de ficar ligando no meio do dia, no meio do trabalho, poder ir lá, ver qual horário está disponível, casar agenda do proprietário, do inquilino, do corretor e fazer isso de uma forma muito mais simples. Em seguida, a segunda grande mudança que aconteceu foi ter a assinatura digital. Não precisa ir a uma imobiliária para assinar aquele contrato, toda aquela papelada, burocracia de cartório. Dá pra fazer isso de casa de maneira totalmente digital”, explicou a executiva.

“E a terceira foi a garantia locatícia grátis. Todo mundo lembra do processo de procurar um fiador. Para não precisar mais disso, o inquilino passa a ter uma experiência muito mais simples e digital. Toda aprovação de crédito é feita digitalmente. E para o proprietário não precisar ir atrás do fiador, quando tiver um problema de aluguel, tendo aquele aluguel garantido todo mês”, disse.

Atenção às necessidades dos clientes

Atuando em um mercado diretamente impactado pela pandemia de Covid-19, Thais Galli aproveitou para trazer o tema de volta à tona durante sua palestra no Fórum E-Commerce Brasil 2022 e apontar como a empresa inovou e encontrou soluções para garantir que os proprietários não fossem afetados com a falta de pagamento dos aluguéis. “Aluguel antecipado foi algo criado durante a pandemia. Nessa situação muito difícil, de muita incerteza, poder garantir esse aluguel antecipado para o proprietário fez uma diferença muito grande.”

Já para os inquilinos, durante um momento de incerteza e isolamento social, a solução encontrada pela empresa foi transformar visitas aos imóveis em experiências totalmente digitais, trazendo maior segurança e respeitando as normas vigentes à época.

“Durante a pandemia, muitos dos nossos contratos foram fechados sem que a pessoa visitasse o imóvel. Mas isso teria sido uma crise gigante se a gente não tivesse parado pra pensar em como mudar, como se ajustar”, argumentou Thaís.

“As pessoas vendo fotos e vídeos, sabendo para onde ela estava indo. Não tendo de visitar durante uma situação insegura. Fazendo todo o contrato de forma online, foi uma coisa que ajudou os corretores a manterem o emprego e os proprietários a liquidez”, disse. As visitas online, inclusive, contaram com um processo rígido de fotografia e filmagem dos imóveis por profissionais vinculados à empresa, para eliminar qualquer possibilidade de que fotos adulteradas ou maquiadas, escondendo os pontos negativos e enaltecendo as qualidades do imóvel, chegassem aos clientes.

Com isso, Thais defende que não apenas a tecnologia proporcionou tal revolução, mas, sim, ela aliada à parte humana do processo, que passa desde entender que a busca por um imóvel tem um significado muito maior do que apenas comprar mais um item e de englobar na equação corretores, inquilinos e proprietários. “Estamos falando de um sonho de alguém, de um próximo passo, de uma mudança de estágio de vida. Nesse caso, o lado humano casado com a tecnologia funciona muito melhor”.

Evolução constante

Apesar de trabalhar constantemente para que essa união aumente e seja cada vez mais harmoniosa, a VP reconhece que ainda há muito espaço para que o processo seja aperfeiçoado.

“Na área das proptechs, a parte da tecnologia e a parte humana ainda estão muito descasadas. As imobiliárias tentando seguir sem a tecnologia, enxergando mais como uma ameaça do que uma forma de melhorar. Do outro lado, as empresas de tecnologia pensando no lado delas e não tanto no lado humano. Então acho que a evolução vai ser o casamento entre esses lados”.

Tendo em mente a parte humana de todo o processo, Thais enxerga que existem áreas a serem aperfeiçoadas, como a busca por imóveis, e outras a serem desbravadas, como a experiência do inquilino ou proprietário em seu novo imóvel.

“Outro grande próximo passo não é só o foco na busca, que pode melhorar muito, mas o período em que você mora no imóvel. Todo esse processo de morar e tudo que envolve morar naquele imóvel, desde a parte física até a parte da experiência, com os vizinhos, é criar uma rede. Conectar o processo inteiro de moradia. Não só a parte do mercado imobiliário, mas o processo dessa pessoa viver”.

Relação com as imobiliárias e o método tradicional

No papel de player que mudou o mercado e principalmente a forma com que o público procura por imóveis, é até natural que imobiliárias tradicionais torçam o nariz para a plataforma e a considerem uma rival. Porém, Thais Galli vê a situação por um outro prisma e reconhece que ambas as partes são beneficiadas pelas parcerias que se desenham. Com isso em mente, a empresa lançou a “Rede Quinto Andar”, que busca firmar parcerias com imobiliárias regionais para ampliar sua gama de atuação e fortalecer o mercado imobiliário.

“A gente pode continuar sozinho, mas não é o jeito que achamos certo. Lançamos essa rede justamente para trazer essas parcerias para aliar a nossa tecnologia com o que essas imobiliárias têm de melhor, o lado humano e o conhecimento regional. E o casamento de ambos os lados, que trazem essas parcerias, é o que a gente acredita como próximo passo da transformação desse mercado imobiliário”, diz Thaís.

“Então como a gente junta os dois lados, traz benefícios para ambos, em uma relação onde todo mundo ganha e realmente muda esse mercado. Claro que não terão apenas benefícios, mas como a gente potencializa essa transformação que está acontecendo e não pode parar. Por isso a importância da co-criação e da colaboração”, completa.

Para embasar seu pensamento, Galli cita a gigante varejista norte-americana Amazon, que também se utiliza de parcerias que apenas potencializaram as disrupções criadas por ela no setor.

“Se a gente pensar no caso da Amazon, eles vendem produtos dos outros. São exemplos de co-criação, colaboração que foram fundamentais para chegar em uma mudança grande no mercado. Esses são apenas os primeiros passos. Estamos só começando. Mudar esse mercado demora. Qualquer mudança é difícil. Ainda tem muita coisa para acontecer e a gente já olha quando vai se mudar de uma forma diferente”, ela conclui.

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Por Lucas Jesus Couto, em colaboração especial durante o Fórum E-Commerce Brasil 2022