A SHEIN deu mais um passo em sua tentativa de abrir capital, dessa vez protocolando um pedido confidencial de IPO na Bolsa de Valores de Hong Kong. A operação, ainda sem data oficial, marca uma movimentação incomum no mercado local, onde a maioria dos registros costuma ser pública. As informações são da Reuters.

A expectativa é que o documento seja entregue até o início da próxima semana. Caso aprovada, a solicitação pode representar uma exceção às regras tradicionais da bolsa de Hong Kong, que só permitem esse tipo de confidencialidade em casos muito específicos — como empresas já listadas em mercados estrangeiros ou em processos de cisão de companhias controladoras.
Essa é a terceira tentativa da SHEIN de realizar uma oferta pública de ações. As duas anteriores — em Nova York e Londres — esbarraram na falta de aprovação por parte da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC). O órgão também precisa autorizar o IPO em Hong Kong, e, até o momento, não há confirmação se a empresa já obteve esse sinal verde.
A SHEIN e a Bolsa de Valores de Hong Kong não comentaram oficialmente sobre o andamento do processo.
Discrição como estratégia
O modelo confidencial permite que empresas protejam informações estratégicas e financeiras durante a fase de análise regulatória, antes que os dados se tornem públicos. Esse caminho, comum nos Estados Unidos, ainda é raro no mercado asiático, especialmente para empresas de grande porte como a SHEIN.
Segundo fontes próximas ao processo, a listagem da SHEIN pode se tornar a maior do ano em Hong Kong, reforçando o papel da cidade como um centro global de captação de recursos — especialmente após um primeiro semestre marcado por volatilidade no cenário internacional. No período, IPOs e novas listagens movimentaram cerca de US$ 12,8 bilhões no mercado local.
Contexto e desafios
A tentativa de listagem ocorre em meio ao acirramento das relações comerciais entre EUA e China. Recentemente, o governo norte-americano retirou benefícios fiscais de encomendas internacionais e aumentou tarifas sobre produtos chineses — medidas que afetam diretamente a SHEIN, cujo principal mercado é o consumidor norte-americano.
Avaliada em US$ 66 bilhões durante uma rodada de investimentos em 2023, a companhia viu sua estimativa de valor recuar cerca de 30% em relação ao ano anterior. Fontes indicam que a avaliação final no IPO pode depender dos desdobramentos dessas novas tarifas.
Além dos aspectos financeiros, a SHEIN também enfrenta pressão relacionada à cadeia de suprimentos. A companhia tem sido alvo de críticas e acusações de entidades internacionais e políticos dos EUA envolvendo sua produção.
Nos Estados Unidos, produtos associados à região estão proibidos de entrar no país, exigindo uma mudança de estratégia.
Estrutura e governança
Fundada na China em 2012, a SHEIN transferiu sua sede para Singapura em 2022, mas segue sujeita às regras chinesas de IPO devido à origem de seus produtos, que são fabricados por uma rede de cerca de sete mil fornecedores terceirizados no território chinês. A CSRC considera a substância da operação mais relevante que a localização formal da sede, o que amplia seu alcance regulatório.
A apresentação do prospecto também exigirá a divulgação de fatores de risco e detalhes sobre governança, estrutura societária e condições da cadeia produtiva. Esses pontos devem ser avaliados pela bolsa e pelo regulador chinês antes da audiência final de aprovação.
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