Por volta do ano 2000, com a chegada da Internet, o comércio eletrônico deu seus primeiros silenciosos e tímidos passos no Brasil. Pesquisas da Ebit|Nielsen, mostraram que no primeiro semestre de 2005 as vendas por esse canal somavam R$ 1 bilhão. Essa cifra subiu para R$ 8 bilhões em 2010, R$ 18 bilhões em 2015 e atingiu R$ 39 bilhões apenas no primeiro semestre de 2020 — representou um aumento de 47% em relação a 2019.
O mais surpreendente é que no período de abril a junho, quando a maioria das cidades brasileiras adotava medidas restritivas para conter a pandemia da Covid-19, as incertezas dominavam o mundo. E, com a atividade econômica fortemente retraída, o e-commerce cresceu 70% em quantidade de pedidos comparado com o mesmo período de 2019.
De acordo com o Ebit|Nielsen, mais de 7 milhões de brasileiros realizaram agora sua primeira compra online, fazendo o Brasil ultrapassar a marca de 40 milhões de clientes ativos. A escalada de crescimento geométrico catapultado pela pandemia deixa clara e transparente a consolidação das mudanças extraordinariamente profundas no comércio de bens e serviços. Como resultado, no dia dos pais as vendas no e-commerce cresceram 127% com mais de 6 milhões de pedidos. Outros estudos realizados por entidades e consultorias especializadas apontam que fecharemos o ano de 2020 com vendas de R$ 120 bilhões — ou seja, 50% acima de 2019 —, enquanto as projeções indicam uma cifra anual de R$ 200 bilhões em 2024.
Vale observar e entender que não é um movimento novo, pois a pandemia apenas acelerou esta tendência e consolidou definitivamente a grande virada nas relações de comércio. Mesmo aqueles consumidores reticentes a mudanças — que foram compelidos a aderir ao modelo por conta da pandemia — perceberam sua praticidade e conveniência e passarão usá-lo com mais frequência. O conforto de receber em casa um produto com as características escolhidas, dentro do prazo, sem os inconvenientes de custo, riscos e tempo de deslocamentos são elementos decisivos para continuar usando de forma crescente o e-commerce.
Esta realidade obriga às empresas que atuam na área de varejo a reformularem seus negócios de forma drástica e rápida, sob o risco de desaparecerem. O consumidor mudou, requalificou suas prioridades de compra, está mais racional e menos impulsivo. Com isso, as relações entre as empresas e os clientes mudaram. Os conceitos de marketing para cativar e fidelizar os clientes também, e a logística não só mudou como ganhou importância ainda maior.
O pequeno varejo aderiu definitivamente aos marketplaces. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), 150 mil novas lojas online foram criadas de março a junho deste ano no Brasil e estes shopping centers de lojas virtuais já representam 78% do e-commerce Brasileiro.
O grande desafio para os varejistas será reformular suas estruturas. Em alguns casos até desmobilizá-las, criar novos canais, rever capacidade e instrumentos tecnológicos, abandonar conceitos históricos e arraigados e recriar uma nova mentalidade de comprometimento das equipes — o que poderá incluir treinamentos de capacitação ou mesmo substituições.
A nova realidade precisa ser entendida de imediato pelos empresários e executivos para buscarem novos caminhos e novas ferramentas adequadas. Recomendo, inclusive, contar com o apoio de consultores externos qualificados e experientes não só no ramo, mas também em processos de transformação, capazes de trazer conhecimento e isenção vitais ao processo.
Em síntese, separei algumas recomendações úteis na adequação das empresas para este momento de mudança:
- Esteja convencido que o mundo muda e o mercado mudou.
- Abra mão do conforto histórico, questione o status quo e lembre que o sucesso no passado não garante mais o sucesso no futuro.
- Use intensamente, porém de forma integrada, coerente e racional, as múltiplas tecnologias e as ferramentas disponíveis.
- Mude a estratégia de comunicação de forma a cativar e fidelizar clientes diante das suas novas expectativas e exigências.
- Seja rápido e flexível, mais do que seus concorrentes. Afinal, a velocidade das mudanças será maior do que a capacidade de adaptação da maioria das empresas.
- Estabeleça alto nível de comprometimento das suas equipes com as mudanças, criando um propósito e uma bandeira para engajá-las.
- Considere que o Brasil é e continuará sendo um dos maiores mercados consumidores do mundo.