Desde o surgimento do e-commerce, há a tentativa de levar a realidade encontrada nas lojas físicas para o digital. Novas formas de mostrar os produtos, interações diretas com o consumidor via chatbots e, até mesmo, simulações dos produtos no ambiente do usuário são algumas das formas encontradas para proporcionar uma experiência omnichannel. Esses esforços, claro, ganharam mais força durante a pandemia iniciada em 2020, onde 13 milhões de brasileiros tiveram a oportunidade de realizar suas primeiras compras pela Internet.
Acontece que a maior barreira para que essa imersão seja completa está no checkout, onde muitas lojas ainda possibilitam concluir a transação apenas via cartão (de crédito ou débito) ou boleto à vista. Isso restringe o acesso de uma parcela significativa da população – mais especificamente, 10% – que não utiliza serviços bancários e tem, no crediário, uma chance de aumentar seu poder de compra. Essa realidade contribuiu para que a utilização de fintechs no varejo ganhasse espaço.
Mas, afinal, o que é uma fintech?
O termo é uma junção das palavras financial e technology. Na prática, fintech é uma empresa que aplica a tecnologia na busca de soluções financeiras. E elas vêm crescendo rapidamente no país. De 2017 para cá, o número de startups desse segmento passou de 244 para 1.466, segundo levantamento da Fincatch. Ainda de acordo com a plataforma, dividem-se em 16 categorias, sendo que as de crédito correspondem a 14% do total e as de meios de pagamento a 11,5%.
Apenas por esses dados, é possível perceber que as fintechs no varejo já não são uma novidade. Uma das mais populares, as maquininhas de pagamento do PagBank PagSeguro, por exemplo, já conta com uma base de 7,7 milhões de usuários. Esse número mostra um crescimento de 1,4 milhão no número de vendedores utilizando a solução em apenas 12 meses. Porém, a previsão é de que os resultados sejam ainda mais expressivos daqui para frente. Isso porque, na busca por oferecer um ecossistema mais completo, a empresa já firmou parceria com outra fintech para disponibilizar novas alternativas de pagamento parcelado nas maquininhas modelos Smart e X.
Outra solução financeira de destaque é a Ame Digital. O aplicativo é uma iniciativa da empresa responsável por Americanas, Shoptime, Submarino e Sou Barato, e funciona como uma carteira digital. O cliente, então, pode escolher utilizá-la para concluir a compra em uma das lojas parceiras e garantir parte do dinheiro de volta, o cashback. Em 2020, a fintech passou a oferecer, também, o cartão de crédito pré-pago e expandiu suas parcerias, a exemplo do Carrefour, onde é possível utilizar a Ame em lojas físicas. Já em 2021, disponibilizou aos usuários a possibilidade de realizar o crediário digital.
O que mais as fintechs podem fazer pelo varejo?
Mesmo que as fintechs já tenham adesão de uma parte significativa dos consumidores e lojistas, existe um gap que ainda precisa ser resolvido: os meios de pagamento. Afinal, de pouco adianta investir em uma experiência memorável no e-commerce e, na hora de finalizar a compra, o consumidor não se encaixar em nenhuma das opções disponíveis. Na verdade, algumas startups brasileiras já oferecem uma maneira de fazer com que o fluxo de compra seja concluído.
Essas empresas vêm investindo na aplicação de um modelo já bastante popular nos Estados Unidos e na Austrália: o crediário digital. Ele leva para o virtual algo já bastante presente na vida offline dos brasileiros, que é o parcelamento de uma compra sem a necessidade de cartão de crédito. Visto que 34 milhões de brasileiros não possuem conta em banco e, consequentemente, cartão de crédito, essa é uma forma de abrir o e-commerce para receber os “desbancarizados”.
Chamado também de buy now, pay later (“compre agora, pague depois”), o crediário digital funciona da seguinte maneira: os varejistas que disponibilizam esse meio de pagamento recebem o valor integral da compra entre 2 e 5 dias úteis, enquanto o cliente pode pagá-lo parcelado à fintech integrada à plataforma de e-commerce.
As fintechs no varejo atuam, então, ligando as possibilidades de compra dos consumidores às ofertas de venda dos lojistas. Ao utilizar essa solução financeira, o cliente ganha mais poder de compra e de escolha na hora de pagar. Enquanto isso, o e-commerce pode registrar tickets médios maiores (de acordo com um levantamento da Cardify publicado na Forbes, metade dos consumidores gastam entre 10% e 40% acima do planejado quando esse meio de pagamento está disponível) e, claro, mais conversões.
Entretanto, há espaço para muito crescimento a partir da inclusão financeira e digital de uma parte da população que ainda se sente excluída do virtual. E é aqui que as fintechs, ao tornarem o acesso às finanças e ao consumo menos burocrático, mostram o quanto ainda têm a somar para o varejo.
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