A transformação digital vem impactando de forma rápida e ágil o setor financeiro. Ocorre tanto pelo avanço das tecnologias como blockchain, contactless, inteligência artificial, IoT, como pela entrada das fintechs e bancos digitais — que cada vez mais oferecem soluções customizadas para os clientes. Tudo está se tornando mais rápido, simples e fácil em apenas alguns cliques. Está diminuindo, por exemplo, as longas esperas em bancos para atividades simples, como criar uma conta bancária ou fazer um pagamento, por exemplo.
Além da redução de processos burocráticos e custos operacionais, este novo momento, em que o detentor de seus dados é o usuário (segundo a Lei Geral de Proteção de Dados), traz novas oportunidades, mas também alguns obstáculos. Em um país, cujo número de pessoas que não mexem em uma conta bancária há mais de 6 meses ou que optaram em não ter uma conta bancária é de 45 milhões de pessoas — e movimenta R$ 800 bilhões anualmente, de acordo com o IBGE —, falar sobre Open Banking é um grande desafio.
O open banking e o relacionamento com o cliente
O “Sistema bancário aberto” estabelece o compartilhamento de dados e informações financeiras por meio de uma integração de sistemas com o consentimento do titular. Na prática, significa ter acesso à toda sua movimentação bancária, independentemente de quais instituições financeiras você tenha contas e relacionamentos. O mesmo vale a receber sugestões de ofertas e investimentos, de como e quando aplicar seu dinheiro da melhor forma — além de identificar padrões de comportamentos de compras e alertar sobre a fatura. Em suma, qualquer uma destas instituições terá acesso à uma grande quantidade de dados a seu respeito. Portanto, poderá fazer uso disso melhorando e personalizando as ofertas de produtos e serviços e melhorar a sua experiência de consumo e relacionamento com ela.
A implementação do Open Banking foi dividida em quatro fases, de acordo com o Banco Central. Na primeira fase, que começa no dia 30/11, as instituições financeiras devem divulgar informações dos produtos e serviços de varejo oferecidos para clientes. A expectativa é que até o final de 2021, o sistema esteja em vigor completamente no país. O intuito do Banco Central é aumentar a concorrência do setor financeiro, reduzindo juros, créditos e tarifas bancárias. O mesmo será em relação a democratizar o acesso e fomentar a inovação do sistema financeiro por meio do uso de tecnologia. Por isso, conseguirá oferecer melhores produtos e pacotes de serviços a preços mais acessíveis, aumentando assim a democratização do sistema.
Quando se trata do compartilhamento de dados, muitas pessoas ainda são resistentes e não se sentem confortáveis com a abertura dos dados. Na Alemanha e Reino Unido, a confiança no Open Banking é de 30%, segundo um estudo realizado pela Ernst & Young. O índice de confiabilidade só foi maior na China, em que 49% dos consumidores afirmaram que se sentiam mais confortáveis em transações online. Cenário que pode ser justificado pelo grande acesso do país com meios de pagamentos digitais e alto acesso à tecnologia. No Brasil espera-se que a adoção seja mais rápida conforme se ganha confiança na segurança do arranjo.
Entraves do open banking no Brasil
Avançar no uso de ferramentas tecnológicas é o desejo de muitos países. Isso implica em grandes investimentos de infraestrutura, financeiros e também em uma mudança cultural da população. Entre os principais entraves para a implementação do Open Banking, está também o baixo acesso dos brasileiros à internet. Uma em cada 4 pessoas não têm acesso a rede mundial de computadores, o que significa 47 milhões de pessoas sem conexão com a informação digital — de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2019, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet. É, praticamente, uma Espanha inteira fora do sistema.
O estudo ainda aponta o alto preço da internet no país como uma das principais causas da ausência de internet nas residências; em segundo lugar está a falta de interesse dos usuários. A disparidade entre as regiões é grande: na região Norte, 72% dos domicílios que não possuem o serviço de internet porque o acham caro. Em seguida está o Nordeste, com 63%, e a região Sudeste, com 53%.
Compreendo que o Open Banking é um forma de descentralizar a atuação de grandes instituições financeiras. Ou seja, trará mais empoderamento dos usuários sobre seus dados, principalmente na democratização do crédito. Porém, exige ao setor público e privado foco também na educação financeira e digital do usuário, para evitar riscos à privacidade. Afinal, só temos a ganhar com um ambiente seguro, tecnológico, rápido, barato e que entenda as necessidades da população.