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Shoppertainment: a nova era do varejo que veio para ficar

Por: Bernardo Carneiro

Formado em Administração com Ênfase em Finanças e Mestre em Estratégia pelo IBMEC, também é graduado pela Harvard Business School (OPM 49). Possui mais de 15 anos de experiência em e-commerce, participou da fundação da Braspag, Netcredit, MoIP e Site Blindado. Atualmente é sócio diretor na Stone Pagamentos.

Existem diversos aspectos que interferem diretamente nas relações de consumo, como os avanços tecnológicos, o comportamento do consumidor, os players globais, além da diversidade dos canais de venda. Diante desses constantes desafios e mudanças, o varejo precisa se adaptar, e seguir as tendências é fundamental para sobreviver em um mercado tão acirrado. Dentre as tendências que se despontam para os próximos ano está o shoppertainment. O termo significa combinar compras — tanto no ambiente online quanto offline — com entretenimento, a fim de oferecer uma experiência mais envolvente aos clientes, com apresentação de novidades, descobertas autênticas e recomendações de outros usuários.

O shoppertainment pode ser colocado em prática a partir de ações, como eventos ao vivo, apresentações musicais, performances teatrais e até demonstrações interativas de produtos. Tudo é pensado para engajar os consumidores, tornando suas visitas às lojas ou o contato virtual com a marca em uma experiência divertida e única. Isso não só impulsiona as vendas, mas também fortalece o vínculo emocional entre vendedor e consumidor.

De fato, essa é uma forte tendência do varejo. Um estudo realizado pelo TikTok em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) mostrou que o shoppertainment tem potencial de movimentar US$ 1 trilhão na Ásia-Pacífico até 2025, com projeção de crescimento de 63%. É exatamente por isso que as gigantes do varejo e entretenimento já colocaram essa tendência em prática por meio de livestreaming, gamificação e experiência de realidade virtual. A gamificação, por exemplo, é uma das estratégias em constante ascensão. Uma pesquisa da Bazaarvoice mostrou que 70% dos consumidores querem elementos de jogos integrados à experiência de compra online.

Shoppertainment tem potencial de movimentar US$ 1 trilhão na Ásia-Pacífico até 2025

Considerando essa necessidade principalmente da geração Z, o McDonald´s desenvolveu ações de shoppertainment no jogo “Minecraft”, quando criou seu restaurante número 1000 de maneira virtual e disponibilizou QR Codes que, se encontrados pelos jogadores, poderiam ser usados em pedidos via delivery. A rede de restaurantes também entrou no “The Sims 4” ao liberar objetos da construção do Méqui 1000 para os jogadores que poderiam baixar e criar suas próprias histórias. Com essas ações, o objetivo do McDonald’s era estreitar o relacionamento com o público gamer, dar mais visibilidade à marca e, consequentemente, impulsionar suas vendas.

Embora o shoppertainment esteja bastante evidente no mundo virtual, também é possível explorar ações nos espaços físicos. Os parques da Disney, por exemplo, são mestres em criar uma atmosfera mágica onde entretenimento e compras se fundem perfeitamente. Os visitantes podem assistir a desfiles, interagir com personagens e, ao mesmo tempo, explorar lojas temáticas repletas de produtos exclusivos. Essa combinação transforma cada compra em uma extensão da experiência encantadora do parque.

Outro caso notável é a Apple Store, que se destaca por suas experiências interativas. As lojas da Apple não são apenas locais de venda de produtos, mas espaços onde os clientes podem participar de workshops gratuitos, aprender novas habilidades e interagir com a tecnologia de maneira prática e envolvente. Esse modelo de loja reforça a lealdade à marca e cria um ambiente em que a compra se torna uma experiência educacional e prazerosa.

A partir desses três importantes casos de sucesso, é possível compreender por que o Shoppertainment está ganhando força. Primeiro, os consumidores estão cada vez mais interessados em experiências mais divertidas, memoráveis e envolventes, que os fazem voltar a comprar e recomendar o estabelecimento para amigos e familiares. Além disso, o Shoppertainment gera conteúdos nas mídias sociais, à medida que os clientes compartilham suas experiências (UGC, user generated content), aumentando a visibilidade da marca e atraindo novos públicos, desde famílias com crianças até jovens adultos em busca de entretenimento. Tudo isso amplia o alcance do varejista e cria oportunidades para novos segmentos de mercado.

Outro aspecto que precisa ser considerado é o crescimento exponencial das redes sociais. Segundo pesquisa da Kepios, mais da metade da população mundial faz uso diário das ferramentas, com mais de 5 bilhões de usuários ativos. Algumas plataformas, como o TikTok, ganharam força nos últimos anos e tomaram conta das telas dos celulares, principalmente da geração Z. Isso transformou a forma de viver, se relacionar e, principalmente, as relações comerciais com as marcas. Com isso, diariamente, o TikTok (com mais de 62 milhões de usuários), o Kwai (com mais de 47 milhões de usuários) e o Instagram (com mais de 99 milhões de usuários) se tornaram centros comerciais que permitem aos consumidores comprarem e se divertirem ao mesmo tempo.

Na minha visão, o futuro do shoppertainment promete ser ainda mais dinâmico, com avanços tecnológicos e integrações cada vez mais sofisticadas entre o mundo online e offline. A realidade aumentada (AR) e a realidade virtual (VR) estão prontas para transformar a maneira como os consumidores interagem com produtos e marcas, oferecendo experiências ainda mais imersivas. Além disso, a personalização baseada em inteligência artificial (IA) permitirá que as lojas adaptem as jornadas de compra às preferências individuais de cada cliente.

Acredito, ainda, que o shoppertainment aumentará as colaborações criativas entre marcas, artistas, celebridades, criadores de conteúdo e influenciadores para lançamentos de produtos exclusivos, coleções inspiradas em eventos e colaborações de marketing que geram “buzz” e interesse entre os consumidores.

A integração entre o comércio físico e digital também deve se aprofundar, permitindo a participação de clientes em eventos de lançamento de produtos na loja física com transmissão ao vivo do evento online, trazendo ofertas exclusivas e interações em tempo real.

O shoppertainment ainda pode se alinhar mais estreitamente com valores de sustentabilidade e responsabilidade social, oferecendo eventos que promovam causas ambientais e sociais, atraindo consumidores conscientes e fortalecendo a imagem da marca.

Com todos esses benefícios e possibilidades, fica claro que o shoppertainment não é apenas uma moda passageira, mas uma evolução natural do varejo. Ele transforma a simples tarefa de comprar em uma experiência rica e envolvente, garantindo que os consumidores voltem sempre em busca de mais.