Finalmente lançado, após embargo regulatório, o WhatsApp Pay inicia sua trajetória no ecossistema de pagamentos. Temida por muitos, considerada disruptiva e inovadora por outros, a nova plataforma une peças tecnológicas já existentes de players tradicionais como Visa e Mastercard à capilaridade e à funcionalidade do WhatsApp.
Boas ideias não precisam ser complexas ou inovadoras na sua essência. O mérito do WhatsApp Pay é utilizar as ferramentas de tokenização das bandeiras de cartão (capacidade de armazenar com total segurança o número de um cartão de pagamento e associá-lo a uma chave única de uso – o token) na plataforma de comunicação instantânea do WhatsApp.
Isso permite que os usuários desta ferramenta associem em segurança um meio de pagamento a seu ID social, usando uma camada extra de validação.um PIN de 6 dígitos a ser adotado pelo usuário para este uso exclusivamente.
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Importante destacar que esta senha não é a senha do cartão cadastrada no banco emissor. Trata-se de uma camada extra de validação (senha) administrada pelo Facebook/WhatsApp. Não é, portanto, uma autenticação forte, como acontece em transações presenciais com uso de chip e digitação de senha no terminal pagador.
As compras com o WhatsApp Pay serão consideradas como não presenciais, tais quais as de comércio eletrônico, sem autenticação, sujeitas às mesmas regras desse tipo de pagamento.
Tanto a tokenização quanto a plataforma para trocas de mensagens são tecnologias validadas, patrocinadas por empresas idôneas, que juntam as expertises fortes de cada uma para criar uma experiência de pagamentos que faça sentido usando a comunicação instantânea do WhatsApp. Este novo “Pay” nasce com alguns dos requisitos essenciais para a função “Pagar” – usabilidade, rapidez e amplitude.
Funcionalidades do WhatsApp Pay
Na fase que se inicia, o WhatsApp Pay estará disponível apenas para transferências de valores entre pessoas (P2P), para um grupo de bancos integrados, devendo ser expandido no futuro para transações comerciais de aquisição de bens se serviços (P2B ou B2B), o que acredito seja o foco principal dos agentes envolvidos, uma vez que na modalidade P2P não haverá cobrança de tarifas. Tal qual o PIX, a rentabilidade dos agentes é focada no segmento P2B (ou B2B).
Existe, contudo, uma diferença importante no operacional do PIX e no do WhatsApp Pay: este último não desintermedia a cadeia usual de pagamentos, preservando o papel de bandeiras de aceitação e adquirentes, o que não necessariamente acontece no caso do PIX.
Considerado pelo órgão regulador e por muitos agentes de mercado como concorrente do PIX, o WhatsApp Pay enfrentou um retardamento do seu início de operação por esse receio, o da concorrência com o PIX, esta sim uma modalidade disruptiva, que exige uma quebra da inércia do ecossistema de pagamento em grande proporção.
De fato, a absorção do WhatsApp Pay pelo ecossistema é muito mais simples, uma vez que sua implementação usa partes de processos já existentes. Não acredito que essas formas de pagamento sejam totalmente concorrentes, devendo coexistir ao encontrar seus nichos de preferência na medida da sua evolução, seja para quem paga, seja para quem recebe ou vende.
Importante evolução
O grande mérito do WhatsApp Pay está em agregar a funcionalidade de pagamento a algo tão natural e culturalmente adotado nas diversas camadas sociais da população – a troca de mensagens instantâneas.
Antes do seu surgimento, o WhatsApp já era um canal promissor de vendas no varejo, permitindo uma forma de comunicação direta entre vendedores e consumidores de forma imediata e prática. Faltava agregar a ele um novo patamar na experiência de pagamento, sem a necessidade da digitação do número do cartão. com alta usabilidade pelo celular.
O WhatsApp Pay é, por isso, uma importante evolução – e não uma revolução nos pagamentos, como está sendo usualmente qualificada. É um caminho natural de aperfeiçoamento, com a utilização de canais online para a efetivação de vendas.
Mesmo antes do WhatsApp Pay, lojas como Via observaram que as vendas online (não presenciais) através de mídias sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp) chegavam a representar 20% do total de seu comércio eletrônico, fazendo com que o canal já fosse promissor e representativo com as plataformas de pagamento até então existentes.
Por outro lado, a característica do WhatsApp Pay em não desintermediar a cadeia existente, preservando os papéis tradicionais existentes entre bandeiras, adquirentes e emissores não pode em seu processo qualificar o esse meio de pagamento como revolucionário ou disruptivo.
Esta evolução vai favorecer ainda mais a “multi-canalidade”. Imagine o consumidor em uma loja, procurando um item que, naquele momento, não está disponível no estoque físico do local. O vendedor pode encaminhar posteriormente, via WhatsApp, uma mensagem avisando da disponibilidade e, convenientemente, concretizar a venda através do mesmo canal (com poucos cliques), tudo pelo celular, sem a necessidade de o consumidor visitar a loja física. Conveniência – este, sim, é o principal valor dessa nova forma de pagar.