O Magazine Luiza quebrou um paradigma do mercado nacional ao se firmar como a única representante do varejo entre as “blue chips” (nome dado às ações mais confiáveis) do Ibovespa, índice referência para o mercado brasileiro. O Magalu fechou na quinta-feira (5) valendo R$ 178,4 bilhões, pela primeira vez acima da avaliação do Bradesco, segundo banco privado do país, que terminou o dia a R$ 177,3 bilhões. A empresa agora só está atrás de cinco outras: Vale, Petrobrás, Itaú Unibanco, Ambev e Weg.
“Tradicionalmente, as ‘blue chips’ foram bancos e estatais e, de repente, uma varejista está entre elas. Isso nunca aconteceu no Brasil”, disse a analista Daniela Bretthauer, da Eleven Financial, ao jornal O Estado de S. Paulo. Analistas consideram que o Magalu passar o segundo maior banco privado do Brasil é “um marco, uma quebra de paradigma”. A companhia já havia superado BB e Santander, no primeiro semestre.
Os especialistas também disseram que os bancos vivem um cenário desafiador, com mais concorrência das corretoras e dos bancos digitais, além das carteiras digitais que terão a operação facilitada pelo sistema de pagamentos Pix, do Banco Central (BC). Já o Magalu é visto como uma força da digitalização do varejo brasileiro, com espaço para crescer.
Magazine Luiza valorizada
As apostas do mercado se concentram nas perspectivas para os setores. No segundo trimestre, por exemplo, o Magalu teve prejuízo de R$ 64,5 milhões, enquanto o Bradesco lucrou R$ 3,8 bilhões. “Mas, olhando para frente, os investidores projetam que o Magazine Luiza vai ser a maior ação da bolsa brasileira”, disse Marcel Zambelo, analista da Necton, à publicação. “O Magalu pode consolidar todos os sellers (vendedores) na plataforma mais tecnológica do mercado, transformando o concorrente em aliado. O cenário de bancos é mais desafiador.”
Além disso, ter varejistas no topo das bolsas não é novidade fora do Brasil — essa é uma tendência observada em companhias como a Amazon, nos Estados Unidos, e o Alibaba, na China. Os dois setores subiram em meio ao resultado das eleições americanas.
Mas o e-commerce local também se beneficiou do balanço do Mercado Livre — que, embora seja argentino, recolhe a maior parte de sua receita no Brasil e é considerado um concorrente direto das varejistas listadas na B3.
Além de reverter um prejuízo de US$ 146 milhões no mesmo período do ano passado em lucro de US$ 15 milhões, apesar do câmbio desfavorável, o Mercado Livre teve alta de 112% nas receitas auferidas no Brasil. Para o banco Goldman Sachs, foi um desempenho ainda mais forte do que as expectativas, que já eram altas.
E-commerce em alta
O resultado fez com que Magazine Luiza, Via Varejo e B2W, as três varejistas listadas na B3 que mais são reconhecidas pela operação de e-commerce, subissem. Mas Magalu e Via Varejo foram melhor porque, diferentemente da B2W, também operam no varejo físico, o que geralmente resulta em margens melhores.
“O Magazine Luiza e a Via Varejo estão em um nicho do setor em que o Mercado Livre não é um concorrente direto, porque têm dinâmicas diferentes, exploram as lojas físicas”, explicou Raphael Guimarães, operador da RJ Investimentos. “O Mercado Livre é um concorrente direto da B2W, e isso coloca pressão sobre ela.”
Além disso, o Magazine tem a confiança do investidor estrangeiro, que começa a fazer alocações pontuais na B3. Estrategistas dizem que o Magalu atrai esse investidor, que quer crescimento unido à solidez. Além disso, a empresa da família Trajano é considerada mais avançada do que as rivais na integração entre varejo físico e digital.
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