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Um hobby que virou negócio: mãe e filho investem em e-commerce de plantas ornamentais

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado digital desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Mãe e filho apostam na venda de arranjos de plantas ornamentais e conquistam cada vez mais espaço em São Paulo

Segundo apontam os livros de história, o período Edo no Japão, que durou de 1603 a 1868, ficou marcado pela paz, uma vez que o país havia passado por séculos de guerras civis. Também nesses anos, tanto a arte como a cultura avançaram demais na região, o que contribuiu muito para a sustentabilidade e autossuficiência dos japoneses.

Entre os trabalhos desse tempo destacou-se o kokedama, método de plantio herdado dos bonsai, cujo vaso artesanal (e redondo) se destaca pela delicadeza escultural. Essa arte secular atravessou o globo graças à Internet e caiu nas mãos de Raquel Maria dos Santos, uma artesã de 49 anos da Bahia que a princípio produzia os vasos exclusivamente por hobby.

Porém, o passatempo de Raquel começou a trazer lucro quando seu filho, Rian dos Santos Miranda, postou seus trabalhos no Instagram. “Muita gente começou a perguntar para a minha mãe onde ela havia comprado. Quando souberam que era ela quem fazia, passaram a fazer pedidos das plantas”, contou.

Foi então que Rian decidiu investir em uma página de Instagram comercial para a mãe, e percebeu que aquele de fato era um nicho promissor para investir. Apenas por curiosidade: na tradução direta do japonês para o português, kokedama significa bola de musgo – koke (musgo) dama (bola).

Imagem: Instagram da marca

Não demorou muito para Rian deixar seu emprego, no qual estava há oito anos como gerente comercial em um restaurante japonês e passar a trabalhar direto com Raquel. O organograma ficou mais ou menos assim: Rian fazia o trabalho de atendimento e marketing do Instagram, enquanto Raquel produzia os kokedamas sob encomenda. “Começamos a Xique Xique em 2018, e de imediato tivemos um resultado positivo. Mas foi na pandemia que tudo ganhou ainda mais corpo e vimos que precisava de um investimento maior”, lembrou Rian.

O boom da pandemia

Ao contrário de muitos mercados, o varejo de flores cresceu exponencialmente na pandemia, uma vez que se tornou uma distração para as pessoas em confinamento. “Em julho de 2020, chegamos a vender 90% mais do que nos outros meses, pois foi o momento de maior apreensão da população sobre a Covid-19”.

Além de contratar pessoas para ajudar Raquel na produção, Rian investiu em um site, pois era bastante cobrado por consumidores das redes sociais. “Muitos desconfiam se o negócio é de fato seguro quando não existe um e-commerce. Por isso lancei a plataforma de vendas e aproveitei para agregar informações aprofundadas sobre o produto, já que isso não é possível no Instagram”.

Poucos meses após a plataforma de e-commerce conquistar amantes do kokedama, Rian passou a receber outro pedido: ter uma loja física para retirar os produtos. “Desde o início da Xique Xique, meu maior cuidado foi atender aos pedidos das pessoas. Seja no modelo do vaso, tipo de flor, acabamento… Tudo o que fazemos é baseado no gosto dos clientes e nas sugestões que nos encaminham. Então, quando percebi que muitas pessoas gostariam de retirar os vasos em um espaço físico, aproveitei a boa fase da empresa e inaugurei uma loja, na região da Vila Olímpia”, disse, explicando que o bairro é onde há mais admiradores do kokedama.

Bastidores dos kokedamas

E de fato valeu a pena seguir a dica da freguesia! Hoje, segundo Rian, o espaço físico da Xique Xique responde por mais de 60 vendas semanais. “Além da possibilidade de apresentar os produtos fisicamente, a loja me trouxe um retorno muito bom nesse momento em que as pessoas estão voltando às compras físicas”.

Entretanto, a maior parte das vendas continua no digital: e-commerce e Instagram, juntos, vendem por semana aproximadamente 80 unidades . Mais incrível ainda é saber que todos os produtos saem das mãos de Raquel: “Costumo brincar que a minha mãe tem ‘mão verde’, porque qualquer planta evolui aos seus cuidados.

Além de perfeccionista, ela é muito eficiente na produção e sempre se orgulha da qualidade dos arranjos”, elogiou. Vale lembrar que todo o acabamento trançado dos vasos é realizado manualmente, com fios de algodão – o interior, nesse caso, leva o esgafno, qualidade de musgo que armazena a unidade.

Mesmo com o enorme poder de vendas, o empresário admite que a questão logística impede entregas muito distantes. “Como se trata de um produto muito delicado e que demanda cuidados especiais no transporte, limitei as entregas até a grande São Paulo. Mais do que isso, corro o risco de perder a qualidade dos produtos, e isso está fora de cogitação”.

Além disso, a Xique Xique dispõe do serviço de manutenção dos kokedamas, que precisa ser feito de seis a oito meses após a aquisição. “Temos a opção de retirar a planta em domicílio ou a pessoa pode nos trazer na loja. Nesse caso, trocamos todos os acabamentos, assim como aplicamos fertilizantes, entre outras coisas”, explicou o empresário.

Ao que tudo indica, o trabalho de Raquel que nasceu por um hobby, em breve, irá para outro patamar. Isso porque Rian pretende abrir uma segunda unidade física, ainda maior do que a loja atual.

“Uma das coisas que percebi com a experiência da loja é que, quanto mais espaço e produtos à disposição, melhor”. Para tanto, ele investirá em uma equipe de produção para aliviar a rotina da mãe. “Também vou reformular o e-commerce, a fim de deixá-lo mais interativo e intuitivo. Por conta disso, acredito que a demanda dos produtos irá crescer muito, e será a hora de expandir os negócios que começaram com a minha mãe”. Portanto, todo o cuidado e apreço que Raquel e Rian demandam com as plantas continuará vivo e fortalecendo suas raízes.

Por Giuliano Gonçalves, da Redação do E-Commerce Brasil.