Comecei a fazer alguns “bicos” aos 16 anos, mas posso dizer que entrei formalmente no mercado de trabalho em 1998. Fazendo as contas, posso dizer que tenho mais de 26 anos de carreira.
Muitos desses anos foram dedicados ao universo do marketing e comportamento.
Já naveguei em alguns bons mares e surfei algumas ondas de tendências, análises e movimentos. Uma das teorias que mais me deixou (e ainda deixa, confesso) reticente é aquela das “gerações”. Será que podemos mesmo olhar para recortes temporais e datas de nascimento das pessoas e enquadrá-las em atitudes e visão de mundo convergentes?
Às vezes penso no quanto essas análises podem ser subjetivas, mesmo teórica e cientificamente embasadas, como a Astrologia. Um pisciano sabe escolher roupa melhor do que um virginiano? Um senhor de 70 anos pode ser mais suscetível a um tipo de propaganda do que um rapaz de 17 anos?
Acredito que não devemos reduzir nossas análises a conclusões tão binárias, e os comportamentos são influenciados por inúmeras variáveis diferentes.
Mas, a cada dia, entendo que, sim, a geração é um ângulo de análise importante. Ao observar minhas filhas adolescentes, fico cada vez mais tentada a considerar esse aspecto: um prisma interessante para entender tendências e comportamentos predominantes, mesmo que não sejam definitivas ou aplicáveis a todos os indivíduos.
Quando observamos a geração Z (nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010), é impossível ignorar o contraste em relação às gerações anteriores, especialmente no ambiente de trabalho e no consumo.
No trabalho: uma nova mentalidade
A geração Z cresceu em um mundo digitalizado, globalizado e marcado por profundas mudanças sociais e econômicas. Isso moldou suas expectativas profissionais de maneira única.
Diferentemente das gerações anteriores, que frequentemente valorizavam estabilidade e lealdade à empresa, a geração Z tende a priorizar propósito e bem-estar. Eles buscam ambientes de trabalho que promovam diversidade, inclusão e flexibilidade.
Além disso, enquanto a geração X e os millennials foram adaptando-se às novas tecnologias, a geração Z já nasceu conectada. Isso os torna não apenas nativos digitais, mas também mais críticos em relação à adoção de ferramentas tecnológicas. Para eles, processos lentos e hierarquias rígidas são sinônimos de ineficiência. Por isso, esperam agilidade e clareza em todas as interações, desde o onboarding até o desenvolvimento de carreira.
Outro ponto relevante é a visão sobre a liderança. Se, para as gerações anteriores, o chefe ideal era uma figura de autoridade respeitada, a geração Z valoriza líderes que atuem como mentores, oferecendo orientação e apoio, mas sem sufocar sua autonomia. Essa abordagem evidencia o quanto eles desejam ser vistos como parceiros, e não subordinados.
No consumo: propósito e transparência em alta
Quando falamos de consumo, a geração Z também quebra paradigmas. Essa geração é mais consciente e crítica, dando preferência a marcas que demonstrem valores alinhados aos seus próprios. Sustentabilidade, responsabilidade social e autenticidade são pilares que influenciam suas decisões de compra.
Enquanto os millennials trouxeram o consumo de experiências para o centro das atenções, a geração Z vai além: eles esperam que essas experiências estejam integradas à digitalização e ao propósito. Um bom exemplo disso são as redes sociais, que para eles não servem apenas como plataformas de entretenimento, mas como ferramentas para descobrir produtos, interagir com marcas e participar de comunidades.
Além disso, essa “turma” (jeito geração X de falar) não tem paciência para estratégias de marketing tradicionais. Propagandas genéricas ou invasivas dificilmente os impactam. O que funciona é o conteúdo relevante, autêntico e personalizado. A presença de influenciadores, por exemplo, faz diferença, mas apenas quando eles são percebidos como genuínos e comprometidos com causas reais.
Geração Z: o que esperar e como estar preparado?
1. Pesquisa intensa antes de comprar
A geração Z dedica tempo a comparar preços e produtos. Plataformas como YouTube, Instagram e TikTok são fontes comuns de pesquisa, onde influenciadores mostram reviews e dicas.
2. Experiências compartilháveis
Esse público prefere produtos ou serviços que ofereçam experiências únicas e que possam ser compartilhadas nas redes sociais. Isso inclui desde embalagens chamativas até brindes exclusivos.
3. Compras online
Embora muitos ainda visitem lojas físicas, a geração Z tem uma clara preferência por compras online devido à praticidade e ao acesso a mais opções. Durante eventos como a Black Friday, é comum que eles se organizem em listas de desejos ou carrinhos previamente preenchidos em plataformas digitais.
4. Exclusividade e urgência
Estratégias como ofertas relâmpago e edição limitada despertam o senso de urgência dessa geração, incentivando compras rápidas. A geração Z é atraída por campanhas que criem a sensação de que estão adquirindo algo único.
5. Conexão emocional
Personalidades digitais têm forte influência no comportamento de compras da geração Z. Promoções recomendadas por influenciadores são vistas como mais confiáveis, reforçando a importância das parcerias entre marcas e criadores de conteúdo.
Para finalizar, embora seja tentador rotular uma geração inteira com base em suas características predominantes, é importante lembrar que a diversidade dentro de cada grupo é imensa. Nem todo jovem da geração Z compartilha da mesma visão ou comportamento. No entanto, ao compreender as tendências gerais, podemos adaptar estratégias e diálogos mais eficazes, seja no trabalho, seja no mercado de consumo.
Afinal, entender a geração Z não é apenas uma questão de acompanhar o zeitgeist; é também uma oportunidade de aprender com suas prioridades e repensar as práticas estabelecidas. Eles não estão apenas mudando as regras do jogo – estão nos desafiando a criar um futuro mais ágil, consciente e conectado.