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Hiperpersonalização e IA: o futuro irreversível do varejo

Por: Renato Lahud

Superintendente de Negócios no Pagbank

Como Superintendente de Negócios, Renato Lahud lidera as equipes comerciais de produtos online do PagBank, trabalhando para fortalecer e aprimorar o relacionamento com os lojistas e seus negócios no e-commerce. Com mais de 2 décadas de experiência em desenvolvimento e gestão de produtos financeiros, trabalhou em grandes empresas como Loja Integrada, PayPal, Metlife, Citi e IBI.

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Todo comerciante já vivenciou a frustração de investir tempo, dinheiro e esforço em iniciativas que simplesmente não geram o resultado esperado. Contudo, muitas vezes, o problema não está na qualidade do produto, no atendimento ou na estratégia de divulgação, mas sim em um fator que vem se tornando indispensável no mercado: conhecer profundamente quem, de fato, é o seu cliente.

É exatamente para solucionar essa questão que se deve trabalhar com foco na hiperpersonalização, uma estratégia que, impulsionada pela inteligência artificial (IA), está revolucionando a experiência de consumo e, consequentemente, os resultados das empresas. Se antes personalizar uma oferta era visto como um diferencial, hoje é uma necessidade. Segundo um estudo da McKinsey & Company, 71% dos consumidores já esperam que as marcas ofereçam experiências personalizadas, e empresas que fazem isso conseguem gerar até 40% mais receita do que aquelas que seguem oferecendo experiências genéricas.

Mas, afinal, o que de fato é a hiperpersonalização? Trata-se de uma evolução da personalização tradicional, que deixa de tratar os clientes como meros grupos segmentados e passa a enxergá-los como indivíduos únicos. Utilizando dados em tempo real, cruzando informações de diferentes canais e aplicando inteligência artificial, essa estratégia permite entender com profundidade os hábitos, os interesses e até o momento de vida de cada consumidor. A lógica é simples, porém poderosa: não se trata apenas de oferecer o produto certo, mas também de enviar a mensagem certa, no canal certo e no momento mais oportuno.

Os pilares de uma estratégia eficaz de hiperpersonalização

Por trás dessa estratégia existem três pilares fundamentais. O primeiro deles é a coleta avançada de dados, pois não basta saber o nome, a idade e o histórico de compra do cliente. É necessário ir muito além: rastrear padrões de navegação, tempo em páginas específicas, cliques, localização, horário de acesso, respostas a pesquisas e preferências de compra.

Com o uso de Big Data, as empresas conseguem consolidar todas essas informações e construir uma visão 360° do consumidor, garantindo que as decisões sejam baseadas em dados sólidos, organizados e protegidos. O segundo pilar é a inteligência artificial, que analisa essas informações com uma agilidade impossível para seres humanos, ajudando a identificar padrões, prever comportamentos e criar segmentações altamente precisas e capazes, por exemplo, de perceber quando um cliente tende a abandonar carrinhos em determinados horários e, automaticamente, enviar uma notificação com desconto ou uma sugestão personalizada para evitar essa perda.

Já o terceiro pilar, talvez o mais importante, é o foco no indivíduo. Hiperpersonalizar significa tratar cada cliente como uma pessoa com preferências, hábitos e ritmos próprios, e isso vai além de simplesmente colocar o nome dele no início de um e-mail. Significa entender se ele prefere ser contatado pelo WhatsApp ou por e-mail, se gosta de receber ofertas mais objetivas ou mais emocionais, se espera respostas rápidas ou um atendimento mais consultivo. As pessoas querem ser vistas, compreendidas e valorizadas, e as marcas que conseguem oferecer essa experiência saem na frente, por consequência.

O poder dos dados e da inteligência artificial

No varejo, especificamente, essa estratégia transforma completamente a experiência do consumidor. Seja em uma loja física ou no e-commerce, a proposta é criar uma jornada fluida, na qual o cliente se sinta reconhecido em todos os pontos de contato. Imagine entrar em uma loja e o vendedor já saber que você comprou um tênis na semana passada e pode te oferecer uma sugestão de meias esportivas que costumam acompanhar esse tipo de compra. Ou acessar um site e encontrar uma vitrine personalizada, que prioriza os produtos que mais fazem sentido para você, naquele exato momento. É aqui que a hiperpersonalização se alia ao conceito de omnicanalidade. Ou seja, não importa se o consumidor começa a interação no Instagram, continua no site e finaliza na loja física. Todas as informações estão integradas e cada novo contato dá continuidade ao histórico anterior, tornando a experiência contínua e coerente.

Nas vendas, os ganhos são ainda mais evidentes. A capacidade de oferecer o produto certo, no momento certo, para a pessoa certa multiplica as chances de conversão. As empresas conseguem automatizar campanhas com alto grau de personalização, desde um e-mail marketing que sugere uma oferta específica até mensagens no WhatsApp que reforçam o interesse do cliente por um produto que ele visualizou, mas não comprou. Isso encurta o ciclo de vendas, aumenta o valor médio dos pedidos e, mais importante, fortalece o relacionamento com o consumidor.

Contudo, nada disso seria possível sem a inteligência artificial. Ela é o motor que permite que a hiperpersonalização aconteça em escala, processando milhões de dados em tempo real e oferecendo recomendações com altíssima assertividade. É exatamente essa tecnologia que está por trás dos sistemas de recomendação que já fazem parte do nosso cotidiano, como as plataformas de streaming. Esses algoritmos aprendem, continuamente, com o comportamento do usuário, ajustando sugestões e tornando as interações cada vez mais relevantes.

Do ponto de vista do consumidor, os benefícios tendem a ser percebidos de forma imediata e muito claras. Ele deixa de ser impactado por mensagens irrelevantes e passa a receber conteúdos, ofertas e sugestões que realmente fazem sentido, considerando o seu perfil, seu comportamento e seu momento de vida. No e-commerce, isso significa uma navegação mais direcionada, com menos esforço e mais acerto nas sugestões. Na loja física, o atendimento se torna mais consultivo e assertivo, já que o vendedor tem acesso ao histórico de interações do cliente. E na comunicação em geral, a marca passa a se posicionar como alguém que conhece, entende e respeita o consumidor, o que fortalece vínculos e gera fidelização.

Para o varejo, os ganhos são tão expressivos quanto. Com uma visão aprofundada do comportamento do consumidor, as empresas conseguem planejar melhor os seus estoques, criar campanhas mais eficientes, reduzir desperdícios e melhorar, inclusive, a sua margem de lucro. Além disso, a hiperpersonalização melhora significativamente o atendimento, tornando-o mais ágil, mais humano e mais efetivo, já que parte de dados e não de suposições.

Cuidados necessários para alcançar o sucesso

Claro que colocar tudo isso em prática exige planejamento e organização. Não basta acumular dados, é necessário estruturá-los, filtrá-los e analisá-los com inteligência e, nesse caso, não estou falando apenas de IA. Muitas empresas já possuem uma enorme quantidade de informações, mas essas estão dispersas, desorganizadas e, portanto, subutilizadas.

Dessa forma, é essencial integrar dados de diferentes canais – e-commerce, redes sociais, CRM, SAC – em uma base única, capaz de fornecer uma visão ampla e precisa do consumidor. A partir disso, torna-se possível desenvolver campanhas altamente personalizadas, que levam em conta não só o histórico de compras, mas também o comportamento atual e até as preferências de comunicação de cada cliente.

Existem, evidentemente, desafios éticos que não podem ser ignorados. Coletar e utilizar dados pessoais exige responsabilidade, transparência e total alinhamento com as legislações de privacidade, como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa. As empresas precisam informar claramente como os dados são coletados, armazenados e utilizados, além de oferecer ao cliente a possibilidade de controlar essas informações. Mais do que uma obrigação legal, essa transparência é um fator decisivo para gerar confiança e construir uma relação saudável e sustentável com o consumidor. A governança de dados deve ser tratada como uma prioridade, com regras claras sobre o que é coletado, como é armazenado e quem pode acessar essas informações.

Diante de tudo isso, fica claro que a hiperpersonalização não é apenas uma tendência passageira. Ela é o caminho inevitável para quem deseja se manter relevante e competitivo em um mercado no qual o consumidor, cada vez mais informado e exigente, não aceita mais ser tratado como apenas mais um.

O futuro do varejo e, na verdade, o presente, pertence às marcas que conseguem aliar tecnologia, inteligência artificial e, sobretudo, respeito pelo indivíduo. Marcas que entendem que personalizar não é só vender mais, mas criar experiências que geram valor real, que constroem vínculos e que transformam clientes em verdadeiros defensores da marca terão uma vida mais longa e, consequentemente, mais sucesso.

A hiperpersonalização, sem dúvida, é o futuro que já chegou, e quem não se adaptar corre o sério risco de ficar para trás.