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Logística é marketing. Você só não entendeu ainda

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Por: Denis Strum

Com quase 20 anos de experiência em estratégias digitais e growth para B2B e B2C, Denis Strum tem uma trajetória marcada por acelerações digitais em diversos setores, como full commerce, varejo e tecnologia. Foi sócio e CMO da Synapcom, pioneiro no full commerce no Brasil. Depois atuou como diretor na unidade de digital da Infracommerce. Antes disso, foi o primeiro profissional de marketing da WestWing, onde estruturou as estratégias de aquisição e retenção da companhia.

A diferença entre vender e fidelizar está em algo invisível.

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Imagem: Freepik.

Imagine dois e-commerces vendendo o mesmo produto, com o mesmo preço e até com campanhas parecidas. Qual deles ganha a preferência do cliente?

A resposta está nos bastidores: a logística. Poucos percebem, mas a logística no e-commerce é o marketing que ninguém vê – e talvez por isso mesmo seja tão decisiva.

Empresas gastam fortunas em mídia paga, em branding, em design de site, mas esquecem que a reputação de uma marca se constrói no tempo entre o clique de compra e a entrega na porta. E é aí que o marketing silencioso acontece.

Quando o marketing termina, a logística começa

Toda boa campanha de marketing promete algo: velocidade, qualidade, confiança, experiência. A questão é: quem cumpre essas promessas?

A resposta não está no time de performance, no social media ou no CRM. Está no sistema de picking do estoque, no roteirizador de entregas e no atendimento pós-venda.

Se a logística falha, não importa quão bonita seja sua campanha. A promessa quebra e, com ela, quebra também a confiança.

A Amazon entendeu isso antes de todo mundo

Quando a Amazon chegou ao Brasil, muitos varejistas olharam para o catálogo ou para os preços. Errado. O que ela trouxe foi um novo patamar de logística no e-commerce.

Entrega no dia seguinte. Rastreamento preciso. Atendimento rápido. Tudo isso não é só operação, é marketing puro, na forma mais estratégica e silenciosa que existe.

Jeff Bezos entendeu que o cliente só volta se tudo funcionar depois da compra. Foi assim que ele construiu fidelização, não apenas conversão.

O marketing não termina no carrinho

Você pode usar o melhor copywriter do Brasil. Investir em tráfego pago como ninguém. Ter o melhor vídeo do YouTube. Mas se o produto atrasa, se vem errado, se o cliente não encontra resposta, tudo isso é esquecido.

A memória do cliente se forma no pós-clique, e é por isso que a logística no e-commerce precisa ser tratada como parte do marketing, não como um setor separado.

A experiência está no invisível

O cliente não vê o seu armazém. Não sabe o que é picking. Nunca ouviu falar de SLA.

Mas ele sente tudo. Ele sente quando o pedido chega antes do prazo. Quando o pacote vem bem embalado. Quando o rastreio funciona, e cada etapa da entrega o deixa mais tranquilo.

E também sente quando dá errado. Uma caixa amassada. Um atraso sem aviso. Um atendente despreparado.

Tudo isso corrói a experiência que você investiu tanto para construir.

O problema é que as marcas ainda tratam a logística como backstage. Quando, na prática, é palco principal da percepção do cliente.

Quando a entrega vira memória

A jornada de compra não termina quando o cliente paga. Ela só começa ali.

Ele não vai se lembrar do seu post patrocinado. Não vai lembrar da headline. Nem do vídeo da campanha.

Mas vai se lembrar da entrega. Se chegou rápido. Se veio certo. Se superou o que ele esperava. Essas são as memórias que ele compartilha com os outros. No grupo da família. Nas redes sociais. No Google Reviews.

É aí que o marketing de verdade acontece.

O custo de não entregar o que prometeu

Logística é caro.” Essa frase ainda ecoa em muitas salas de reunião.

Mas e o custo de um cliente perdido? E o custo de um comentário negativo em público? E o custo de ver o CAC dobrar porque ninguém mais volta a comprar?

Você pode até economizar na operação. Mas se o cliente sente que não valeu a pena comprar de novo, você vai gastar o dobro para recuperar o estrago.

Investir em logística não é sobre eficiência. É sobre reputação. É sobre percepção. É sobre marca.

A decisão acontece depois da compra

Quer saber quando o cliente decide se vai comprar de novo? Não é na hora do pagamento. É no momento em que ele recebe o pedido.

É ali que ele compara:
“Cumpriram o que me prometeram?”
“Foi melhor do que eu esperava?”
“Me trataram com respeito até o fim?”

A resposta para essas perguntas é o que separa uma compra única de um cliente fiel.

E tudo isso acontece fora do seu departamento de marketing. Acontece na operação.

Como integrar marketing e logística no seu e-commerce

1. Prometa o que pode cumprir

Não construa campanhas em cima de promessas logísticas frágeis. Você estará minando sua própria credibilidade.

2. Use a operação como argumento de venda

Média de tempo de entrega, taxa de satisfação, índice de reentrega… esses são os dados que vendem de verdade. Mostre.

3. Coloque o cliente no centro da entrega

Notifique, antecipe, tranquilize. Rastreabilidade não é obrigação. É parte da experiência.

4. Treine seu atendimento como se fosse o time de vendas

O pós-venda é o lugar onde se fecha a jornada. E onde, muitas vezes, ela recomeça – ou termina para sempre.

5. Unifique as conversas

Marketing e logística não podem ser dois mundos. Precisam ser uma mesma visão: entregar o que a marca promete, até o fim.

O que aconteceu quando uma marca de moda brasileira parou de culpar o marketing

Recentemente, uma marca nacional de moda acusou o marketing pela queda nas vendas do e-commerce.

A diretoria achava que o tráfego estava ruim, que os anúncios estavam mal segmentados e que a mídia não estava performando. Na verdade, o tráfego estava em linha com o planejado, mas a taxa de conversão estava muito aquém.

Mas os números contavam outra história. A verba de marketing tinha caído 40% nos últimos três meses. O frete para o Sudeste – onde está a maior concentração de compradores – era até 20% mais caro que os concorrentes diretos. E mais lento.

Mesmo com mais de 200 lojas físicas espalhadas pelo país, a marca não tinha uma funcionalidade de pickup point eficiente. A tecnologia até existia, mas falhava constantemente. O cliente escolhia retirar na loja, e ao chegar lá, o produto ainda não estava disponível.

Não havia diferencial competitivo. A promessa não se cumpria.

E o marketing – claro – era o culpado da vez.

O ponto de virada

Tudo começou a mudar quando a equipe de operação resolveu encarar o problema real.

Recalibraram os prazos de entrega. Negociaram contratos logísticos melhores. Corrigiram falhas no sistema de retirada em loja. Criaram uma malha de distribuição mais próxima da demanda real. E, principalmente, deixaram de acreditar que mídia resolveria tudo.

O resultado? Faturamento 40% maior no primeiro mês. E no segundo mês, a curva seguiu crescendo. Tudo isso sem aumentar a verba de mídia.

A diferença estava na experiência. Não no anúncio.

A dificuldade é aceitar que o buraco é mais embaixo

É mais fácil culpar o tráfego, o ROI, a campanha. É mais fácil apontar para o anúncio do que para o estoque.

Mas a verdade é que o cliente não enxerga setores separados. Ele não sabe se o problema foi da logística, do site, do atendimento ou do marketing.

Ele só sente que a marca falhou com ele. E é por isso que resolver problemas operacionais gera impacto direto nas vendas, mesmo que ninguém clique mais, mesmo que o criativo continue o mesmo.

Uma sugestão para você

Na próxima reunião, antes de perguntar “quanto estamos investindo em mídia?”, pergunte: “Estamos entregando o que prometemos?”

Porque não importa o quanto você anuncia, o cliente só volta se confia. E a confiança não nasce do clique. Nasce da entrega.

Logística não é só operação. É percepção. É marketing sem anúncio. Branding sem slogan. Reputação sem campanha.

A sua marca não é o que você posta. É o que o cliente sente depois que recebe.

E talvez o maior erro esteja em achar que o problema é o marketing. Quando, na verdade, o marketing só está tentando manter vivo um cliente que a logística já afastou.

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