Muito relacionado à pauta do desenvolvimento sustentável no e-commerce, o recommerce surge com a proposta de comercializar, através da internet, produtos usados, um conceito já bem conhecido entre a sociedade no formato de brechós, bazares, lojas de antiguidades e sebos.
O objetivo por trás dessa modalidade de negócio é nobre. Afinal, tem como uma de suas premissas reduzir os impactos da produção industrial sobre o meio ambiente, uma vez que a atividade das indústrias, responsáveis pela produção dos bens de consumo mais diversos que utilizamos no dia a dia, é a principal causadora de poluição e diversos outros impactos ambientais.
O formato é alinhado, ainda, às expectativas e a uma forte tendência de comportamento dos novos consumidores entrantes no mercado, a geração Z, cuja consciência ambiental se amplia em comparação a outras gerações, ao mesmo tempo em que a maior probabilidade de consumo dessas pessoas acontece no comércio eletrônico.
Neste artigo, vamos falar um pouco sobre o recommerce e como esse modelo pode ser uma tendência atrativa para trazer rentabilidade e contribuir com as ações de sustentabilidade do e-commerce. Acompanhe!
Recommerce e o potencial do modelo de venda de usados
Produtos usados, reformados e restaurados retornam à logística de venda do varejo em um novo formato, e é basicamente dessa forma que se descreve o recommerce. Mas o que nos interessa aqui, mais do que o conceito em si, são os resultados desse modelo de venda que chega, pouco a pouco, ocupando cada vez mais espaço no comércio eletrônico.
Segundo a pesquisa Brasil Digital: Itens Parados em Casa, levantamento realizado por uma das maiores plataformas de venda de produtos usados no Brasil, 39% dos consumidores brasileiros já realizaram compras de produtos usados na internet. Além desses, 45% afirmaram que compraram produtos usados pela primeira vez durante a pandemia de 2020, o que aponta que a crise sanitária, unida às crises econômicas do período, acelerou a tendência da comercialização digital desses itens, uma vez que, antes, 60% dos consumidores afirmaram que só compravam produtos novos.
O estudo, conduzido pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e o Sebrae, confirma que, dados os elevados índices de desemprego dos últimos anos e o orçamento apertado das famílias, a compra de produtos usados ganha cada vez mais espaço entre os consumidores que compram online.
A pesquisa aponta que três em cada dez pessoas compraram algum item de segunda mão na internet nos últimos 12 meses e entre os objetos mais adquiridos estão: smartphones (34%), eletrônicos em geral (26%), livros (26%), eletrodomésticos (25%) e roupas e calçados (24%).
Por quê, como e onde: os hábitos de consumo no recommerce
Conforme o estudo da CNDL, economizar dinheiro é a razão apontada por 77% dos consumidores que adquirem um produto de recommerce, outros 33% aderem ao modelo por razões de sustentabilidade no consumo e 28% para aliviar o orçamento financeiro, uma vez que os produtos de recommerce são mais acessíveis. Os canais de compra mais apontados foram: sites especializados em recommerce (75%), comunidades na internet ou redes sociais (47%) e aplicativos (21%).
Outro dado interessante para ter no radar é que, segundo a pesquisa, 62% dos consumidores online avaliam a possibilidade de comprar um produto usado antes de adquirir um item novo, especialmente em relação a celulares e smartphones (20%), carros e motos (19%), livros (17%) e eletrodomésticos (17%).
Outra questão levantada no estudo foi a segurança para os consumidores. Foi unânime a percepção de que o processo de compra no recommerce requer algum tipo de cuidado, por isso, a preferência é a busca por lojas e sites confiáveis (45%), verificando resenhas, comentários e avaliações de outros consumidores (42%), avaliando se os preços praticados estão de acordo com o mercado (42%) e a política de garantia oferecida pela loja (39%).
Em relação ao formato de entrega, 54% dos consumidores optaram pela entrega em domicílio e 43% utilizaram o modelo BOPIS. Sobre a avaliação da compra, 96% dos usuários afirmaram que tiveram suas expectativas atendidas em relação à compra do produto usado que adquiriram pela internet. Desses, 73% avaliaram o produto como “de acordo com o anúncio” e 22% classificaram o produto como em bom estado de uso.
Recommerce como estratégia de diferenciação no e-commerce?
Além das plataformas de e-commerce especializadas em venda de usados, algumas marcas já começaram a investir em processos de logística reversa para coletar produtos usados dos clientes, reformá-los e revendê-los por valores mais acessíveis através de uma seção específica dentro de seu próprio e-commerce – algumas lojas de móveis, por exemplo, já possuem essa opção.
Isso porque o recommerce é uma estratégia vantajosa para as empresas, bem como para o consumidor. Para o negócio, é uma alternativa de diversificar o público que acessa seus produtos e de ampliar sua carteira de clientes, além de fortalecer a estratégia de sustentabilidade da empresa.
O recommerce pode contribuir, ainda, para a rentabilização do e-commerce, isto é, estimular o consumidor a inserir mais produtos no carrinho. Para o empreendedor, pode ser vantajoso também não necessariamente inserir produtos usados, mas abrir uma seção para vender produtos parados em estoque, que dificilmente seriam comercializados de outra maneira, por valores mais acessíveis.
Com a estratégia de recommerce, mesmo produtos mais antigos se tornam mais atrativos e podem ganhar o engajamento do consumidor. A estratégia também ajuda na redução dos impactos ambientais, uma vez que reduz a produção de novos produtos e comercializa aqueles que já foram produzidos.