A China deu um novo passo na disputa comercialcom os Estados Unidos ao enviar, nesta semana, uma carta formal ao primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, solicitando uma resposta coordenada às tarifas impostas pelo governo americano. A informação foi divulgada pela agência japonesa Kyodo nesta terça-feira (22) e sinaliza um esforço diplomático chinês para formar alianças regionais contra o avanço do protecionismo norte-americano.

O teor da carta destaca a urgência de “combater o protecionismo juntos”, refletindo o incômodo da China com as sanções comerciais intensificadas pela Casa Branca. O movimento surge em meio à crescente pressão do governo Trump sobre nações que buscam isenções tarifárias. De acordo com a Bloomberg, Washington estaria exigindo que esses países imponham restrições ao comércio com a China como condição para acordos com os EUA.
O pedido chinês acontece num momento delicado para o Japão, que, apesar de ser um dos principais aliados dos Estados Unidos, também foi alvo das tarifas ampliadas no início do mês. Tóquio, inclusive, já iniciou conversas com Washington visando aliviar a tensão comercial. A proposta de Pequim, no entanto, coloca o Japão diante de um dilema geopolítico e econômico.
Risco ampliado para o comércio global e o ecossistema digital
A tensão entre as duas maiores economias do mundo ganhou novos contornos neste mês, após o anúncio de tarifas recíprocas e sucessivas escaladas. A tabela tarifária divulgada por Donald Trump no início de abril incluiu aumentos que variam de 10% a 50%, atingindo mais de 180 países. A China, em particular, foi alvo de tarifas acumuladas que chegaram a 145% sobre alguns produtos — o que gerou resposta proporcional de Pequim, que aplicou o mesmo percentual sobre itens americanos.
Na mais recente ameaça, a Casa Branca afirmou que as tarifas contra a China podem chegar a 245% caso o país mantenha as medidas retaliatórias. Os setores mais impactados incluem tecnologia da informação, veículos de nova energia, robótica, aeronáutica e manufatura avançada — todos estratégicos para os planos de crescimento industrial de Pequim.
De acordo com a Bloomberg, o governo Trump estaria pressionando países que solicitam isenções tarifárias a impor restrições comerciais à China, como parte de sua estratégia de contenção econômica. Esse movimento foi um dos principais gatilhos para o endurecimento do tom de Li Qiang na carta enviada ao Japão.
No setor de e-commerce, os efeitos da disputa são diretos e imediatos. Aumento nos custos de importação, instabilidade cambial e incertezas nas regras de comércio internacional afetam toda a cadeia de suprimentos digital, desde marketplaces globais até pequenos sellers que dependem de fornecedores estrangeiros.
Empresas japonesas, chinesas e americanas com operações online transfronteiriças estão entre as mais pressionadas. Com a elevação de tarifas, produtos importados ficam mais caros, impactando competitividade, margens de lucro e, consequentemente, os preços ao consumidor final. A situação exige reavaliação constante de estratégias logísticas, de precificação e de relacionamento com fornecedores.
Além disso, a instabilidade atual dificulta projeções para investimentos em tecnologia, armazenagem e soluções omnichannel, pois o cenário global permanece volátil. O prolongamento da disputa ou a adesão de novos países ao conflito pode gerar um efeito cascata de retração no comércio eletrônico internacional.
Com uma nova rodada de negociações prevista entre Japão e Estados Unidos nos próximos dias, e sob pressão direta da China, o posicionamento japonês ganha importância estratégica. A forma como Tóquio responderá à proposta chinesa pode redefinir alianças regionais e influenciar o curso das disputas comerciais nos próximos meses.
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