O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, repeliu nesta segunda-feira (21) qualquer possibilidade de o governo brasileiro atender às pressões dos Estados Unidos para revisar o funcionamento do Pix. O sistema de transferências e pagamentos instantâneos, lançado pelo Banco Central em 2020, entrou no radar de uma investigação comercial conduzida pelo governo norte-americano.

A ofensiva faz parte da estratégia anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que decidiu impor tarifas de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil. No centro da disputa, o Pix foi citado como exemplo de supostas práticas comerciais desleais.
“O desconforto do governo dos EUA com o Pix é mais surpreendente ainda. O Pix não tem nada a ver com comércio internacional, é um sistema exitoso, totalmente informatizado, que serve de exemplo para o resto do mundo”, afirmou Haddad, em entrevista à Rádio CBN.
Pix democratiza o acesso ao crédito, diz ministro
Segundo Haddad, o sistema tem contribuído para baratear operações financeiras e ampliar o acesso ao crédito no país.
“O Pix barateia as operações financeiras, tem um futuro impressionante do ponto de vista de sofisticar as transações financeiras, democratizando o acesso ao crédito”, completou o ministro.
A investigação comercial foi aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), com base na Seção 301 da Lei Comercial americana, criada em 1974. A legislação permite ao governo investigar o que considera práticas “injustificáveis, irracionais ou discriminatórias” por parte de governos estrangeiros.
O comunicado oficial, divulgado em 15 de julho, cita como justificativa as recentes disputas judiciais envolvendo plataformas digitais dos EUA em território brasileiro.
“Precisamos de interlocução racional”
Haddad afirmou que o governo brasileiro está atento aos rumores e já considera a questão em seu plano de contingência. Ainda assim, cobrou mais racionalidade por parte dos norte-americanos.
“Se deixarmos prosperar a tese de que o Pix representa uma ameaça ao império americano, onde vamos parar? Precisamos baixar um pouco a bola e buscar interlocução com alguém que tenha noção do que está falando. Se a gente entrar nessa viagem, não vamos sair do outro lado. O que o Pix tem a ver com isso, meu Deus do céu?”, questionou.
Febraban: EUA têm informação incompleta
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também se manifestou. Em nota divulgada na última sexta-feira (18), a entidade avaliou que a inclusão do Pix na investigação decorre de uma “informação incompleta” sobre os objetivos e o funcionamento do sistema.
A Febraban destacou que o Pix é uma inovação que promove a competitividade no setor financeiro, reduz custos e amplia a inclusão financeira no Brasil, e não uma prática de concorrência desleal.