Sul e Sudeste são regiões mais lembradas do que Norte e Nordeste quando o assunto são negócios e grandes polos de comércio. No entanto, é um verdadeiro equívoco não direcionar o olhar para tais regiões, principalmente porque suas participações nas compras online estão crescendo mais do que nas demais há anos, como mostraremos neste texto.
O empreendedor – seja seller, marketplace ou mesmo empresas de logística – que negligencia essa parte do país perde valiosas oportunidades de crescer. Esse olhar deve vir junto de estratégias direcionadas a essas regiões.
Para quem é um empreendedor no comércio eletrônico dessa parte do país, a notícia é ainda melhor, já que conhece melhor os locais, as opções de parceria, a cultura e outras particularidades que impactam os negócios.
Neste artigo, vamos mostrar os índices, o porquê de ambas as regiões estarem crescendo e como utilizar essas informações para aumentar as vendas.
Histórico de crescimento
Faz alguns anos que as regiões Norte e Nordeste se destacam pelo crescimento no e-commerce do país. Foi em 2020 que o Webshoppers, da E-bit/Nielsen, mostrou que as duas regiões apresentaram crescimento significativo para serem consideradas mais relevantes dentro das estratégias dos setores de comércio eletrônico, ficando, respectivamente, em primeiro e em segundo lugares.
De acordo com o relatório mais relevante para o setor, a participação do Nordeste no faturamento nacional foi de 18%, com crescimento de 107% nas vendas. Já no Norte, as compras representaram 7%, com um salto de 93%. Os dados, divulgados em 2020, refletem o cenário de 2019.
Em 2021, em um dos picos da pandemia e onde o e-commerce cresceu consideravelmente, segundo a Synapcom, o Norte bateu recorde, com 672% de aumento nas vendas no primeiro trimestre daquele ano. O Nordeste veio em seguida, no segundo lugar, com 671% de crescimento. Podemos dizer que foi um empate técnico entre essas duas partes do país.
Ambas as regiões continuaram relevantes. O índice MCC-ENET, da Neotrust | Movimento Compre & Confie em parceria com o Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net), mostrou crescimento do Norte de 27,02% e do Nordeste de 22,79%. São as partes do país com crescimento mais relevante no período analisado – primeiro trimestre de 2022.
Por que Norte e Nordeste estão crescendo tanto no e-commerce?
Há uma série de fatores que explicam o porquê de o Norte e o Nordeste estarem puxando o crescimento do e-commerce no país, que incluem:
O impacto do frete grátis
O segundo fator com maior peso na decisão do consumidor, o valor do frete, parecia privilégio de quem mora nas regiões Sul e Sudeste, no entanto, isso está começando a mudar.
Com a oferta de entrega sem onerar o pedido, moradores do Norte e Nordeste começaram a comprar mais pelas lojas online.
A justificativa para a falta do benefício era a distância dos estados nordestinos e nortistas dos grandes centros de distribuição dos e-commerces, além de menor oferta de transportadoras, algo que também está diferente nos últimos anos, como veremos no tópico a seguir.
Segundo a Consumer Insights for the 2021 Holiday Shopping Season Survey, 38% dos consumidores consideram o frete decisivo para fechar uma compra ou abandonar o carrinho. Dessa forma, vantagens competitivas de entrega não podem ser desconsideradas nessas regiões, já que contribuíram para maior movimentação de compras online.
Expansão dos centros de distribuição
Uma das vantagens que faz os olhos do consumidor brilhar, o frete grátis, só foi possível porque grandes centros de distribuição instalaram-se no Norte e Nordeste.
A Amazon, por exemplo, tem três armazéns em cidades nordestinas, dois inaugurados de 2021 em diante. É provável que a decisão tenha acontecido depois que os dados de relevância da região apareceram e, como um grande player, o marketplace necessita manter sua posição e alcançar outras gigantes do país, como o Mercado Livre.
“O Nordeste é uma região de extrema importância para a Amazon, tanto que estamos inaugurando a nossa segunda operação em Pernambuco. Com isso, nosso intuito é aumentar a capacidade logística da empresa no país, aumentando a variedade e aproximando os produtos comercializados, melhorando a experiência dos clientes e reduzindo o tempo de entrega em nível nacional, além de gerar emprego e renda para as comunidades em que atuamos”, disse Ricardo Pagani, diretor de operações da Amazon.
Voltando a falar do Meli, não devemos deixar de citar a expansão de seu serviço fulfillment e a possibilidade de seu Mercado Envios Flex (que entrega pedidos em até 24 horas e está presente apenas em poucas regiões metropolitanas) chegar a ambas as regiões nos próximos anos.
A Americanas também inaugurou dois CDs – um na Bahia e outro no Pará – em 2022, e o Magalu investe igualmente em expandir seu território.
Mais transportadoras em território nacional
Segundo a Fretebras, houve um aumento de 9,6% de transportes de carga circulando no Nordeste de 2020 para 2021. Além de contar com os serviços de entrega dos grandes marketplaces, o seller passou a ter mais opções, o que ajudou a melhorar as condições para os compradores dos estados nordestinos.
A maior presença de CDs e transportadoras no Norte e Nordeste contribui para mais um fator de decisão do cliente: o tempo de entrega.
De acordo com a já citada pesquisa da Consumer Insights for the 2021 Holiday Shopping Season Survey, a velocidade com que as encomendas chegarão às mãos do cliente fica em primeiro lugar na decisão de compra – 52% dos consumidores analisam esse ponto para decidir se vão comprar online e de quem.
Marketplaces como principal canal de venda para consumidores
A popularização dos marketplaces e das vendas online também teve grande impacto no crescimento do e-commerce do Norte e Nordeste. Esses dois fatores levaram à maior diversidade de vendedores e compradores.
Se antes era difícil ter um comércio virtual, os marketplaces tornaram muito mais simples colocar as mercadorias à venda na internet.
Dessa forma, sellers de demais partes do país puderam aproveitar os benefícios do e-commerce. Isso significa mais facilidade na logística, menor impacto no valor do frete e até mais possibilidades de oferecer vantagens no valor da entrega nessas regiões do país.
Maior acesso à internet
As regiões Norte e Nordeste igualmente vêm crescendo em relação à conectividade de internet, seja por acesso a dispositivos móveis ou por domicílio.
Segundo o Pnad TIC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação), divulgado pelo IBGE em 2021, o número de casas conectadas no Nordeste aumentou 9,5% em um ano. Já em 2019, a região fechou com aproximadamente 74,3% dos lares com acesso à internet.
Em contrapartida, no Norte, 25% da população ainda têm dificuldade em acessar a internet, mesmo com a mais recente tecnologia 5G, o que afeta a qualidade de navegação. Ou seja, ainda há muito o que melhorar para que todos do país tenham acesso a uma conectividade de qualidade.
Pandemia
Assim como nos outros lugares do Brasil, nordestinos e nortistas foram impactados pelo isolamento social e aderiram fortemente ao comércio eletrônico. O Nordeste chegou a 108% de aumento nas compras online durante a pandemia, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), sendo o maior crescimento, seguida pelo Norte, com 78,4%. Igualmente, a demanda dos Correios cresceu 25% na região.
Os hábitos de consumo também mantiveram-se com a estabilização da pandemia, como outras informações deste artigo mostraram.
Como aproveitar crescimento do Norte e Nordeste no e-commerce
Como os dados estão mostrando, o Norte e o Nordeste estão ganhando fatias cada vez maiores do faturamento no comércio eletrônico.
Para atender a essas demandas, os empreendedores devem dar devida atenção às seguintes ações, por exemplo:
Frete grátis para o Norte e o Nordeste
Um dos grandes obstáculos para a compra no Norte e Nordeste era o valor da entrega. E como mostrado ao longo do artigo, a concessão de frete grátis pelas maiores lojas online do Brasil incentivou o consumidor dessas duas regiões a comprar mais.
Ao conceder esse benefício, o seller deve destacar que é válido para todo país ou fazer promoções específicas para o Norte e o Nordeste. Afinal, por muitos anos, a entrega gratuita para Sul e Sudeste foi destacada nos maiores e-commerces brasileiros.
Aliás, ainda se encontra esse tipo de restrição da condição de compra em algumas lojas online. Pode, sim, haver barreiras para que isso não seja possível, mas o seller deve estar ciente de que pode comprometer as vendas e se planejar para dar cupons de frete grátis ou outras ações benéficas para tal público.
Parcerias logísticas nas regiões
Para conseguir proporcionar frete grátis ou entregas mais rápidas, é preciso ter parcerias logísticas estratégicas. Mesmo sem o benefício, escolhas de transportadoras, serviço próprio ou uso dos Correios ajudam a diminuir o valor da entrega, o que influencia diretamente a decisão de comprar ou não do seller.
Hoje, além da logística própria, é possível aderir ao fulfillment, serviços dos marketplaces para colaborar com essa etapa tão importante para a experiência do consumidor.
Marketing que valoriza o povo nordestino e o do Norte
Diversidade é bem-vinda em todos os espaços, e no e-commerce não é diferente. É preciso se lembrar do povo do Norte e Nordeste nas ações de marketing, não só nas datas comemorativas, como Dia do Nordestino, mas durante todo o ano para mostrar que a marca valoriza pessoas dessa parte do país.
Usar imagens e vídeos de pessoas que sejam da região (mas sem estereótipos), falar da cultura e dos lugares são ações que mostram que a loja também é para quem mora nesses lugares.
Além disso, é importante direcionar anúncios para essas regiões de forma segmentada e personalizada para que a loja fique conhecida e, como outras empresas, ganhe espaço nesses lugares.
Não é apenas um, mas vários pontos que vão resultar em sucesso de vendas no Norte e Nordeste. Então, cabe aos vendedores e à toda cadeia do e-commerce observar o crescimento e como fazer para estar presente nesses locais.
O ponto principal deste texto é deixar todos conscientes de que o consumo no Brasil já não está mais focado em poucas regiões, e a tecnologia e a democratização do acesso a internet beneficiam a todos, de consumidores a empreendedores.